Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Renascença e do jornal 'Público', o presidente do Chega, que acabou de ver aprovada uma moção de confiança à sua liderança com quase 100% dos votos, diz que no partido "todos os que queiram estar por bem, para trabalhar, têm lugar" e que foi dado um "sinal claro" aos críticos internos. Quanto às saídas de autarcas do Chega dos cargos que ocupam e as constantes divergências públicas que surgem dentro do partido, Ventura diz que é "normal, são dores de crescimento" e aconselha:"experimentem gerir uma casa com 40 mil pessoas e vejam o que acontece".

Teve uma vitória acima dos 97% na moção de confiança que foi a votos na Batalha, mas os críticos internos não apareceram. É impossível integrar os críticos no seu projecto de liderança? Quem se mete com André Ventura leva?

Não. Todos os militantes receberam um mail para irem à Batalha. Ganhei com 97%? Não ia pedir às pessoas que não votassem em mim. A minha liderança no Chega há-de chegar um dia, como todas. O partido deu um sinal claro de que este tipo de boicote que tem sido feito e de ataques não tem sentido. Isto não quer dizer que as pessoas não tenham lugar no partido. Todos os que queiram estar por bem, para trabalhar, têm lugar.

Quem critica a sua liderança fica sujeito a suspensão e a expulsão do partido. São regras que devem ser mantidas, reforçadas ou admite que possam ser revistas?

Foram os militantes que pediram a comissão de Ética para que, em casos de ofensas, de ataques, de comportamento impróprio, todos os partidos têm isto. Uma coisa é criticar o líder, outra é dizerem que sou um burlão.

Desde as autárquicas, há um ano, já perdeu vários vereadores e autarcas eleitos. Não vê aqui um falhanço na gestão destas pessoas?

Este partido cresceu a uma velocidade como nenhum outro, excepto nos anos do pós 25 de Abril. O Chega optou por uma estratégia diferente da Iniciativa Liberal que foi [a eleições] em poucos sítios.

Foi um erro?

Acho que não. Vamos ver mas acho que lançou-nos a base das legislativas. Elegemos [deputados] em mais sítios do que a Iniciativa Liberal porque temos uma rede de autarcas que as pessoas reconhecem. Nem todos foram boas escolhas? Claro que não. Que partido com quatro anos se torna o terceiro maior do país e fazia as escolhas todas certas? Era impossível. Diz-se que no Chega vêem-se sempre lutas nas redes sociais. Experimentem gerir uma casa com 40 mil pessoas e vejam o que acontece. É normal, são dores de crescimento. Eu prefiro isto do que ter um partido com mil pessoas e estarmos todos de acordo.

No Parlamento, vai voltar a sujeitar a votos um candidato à vice-presidência da AR?

Francamente, não sei. Se houver condições, avançaremos.

O líder do PSD apelou a Santos Silva para que intervenha. Faz o mesmo apelo?

Eu podia fazer todos os apelos. Se há coisa que eu sei que o presidente Santos Silva não vai fazer é convencer um deputado a votar no Chega. Apesar de ser um pouco ingénuo, apreciei o gesto do presidente do PSD.

Disse que ia recorrer ao Tribunal Constitucional (TC) sobre o Presidente da AR. O que vai fazer exactamente?

Estamos a preparar um pedido de parecer, que os nossos advogados estão a estudar se deve ser ao conselho consultivo da Procuradoria-Geral da República se deve ser imediatamente no TC, para compreender até que ponto os poderes do presidente da AR podem ser controláveis. O que temos agora no regimento é que o presidente decide com poder praticamente absoluto e isso tem consequências quando há uma maioria absoluta.

Isso só alterando o regimento da AR.

Ao mesmo tempo a Constituição atribui competências específicas aos grupos parlamentares que estão a ser violadas. Vou dar este exemplo, há duas semanas, em conferência de líderes, o Chega agendou o projecto sobre a castração química [para pedófilos condenados], saiu uma notícia e o Chega foi contactado a informar que o projeto não estava agendado e que o presidente não permitia que ele fosse agendado. Recebemos um despacho a dizer que o projeto não tinha sido admitido e que tinha de ser aperfeiçoado. Isto é um exemplo de prepotência e de abuso de poder. O que é preciso é que fique claro qual é o limite do poder do presidente da AR.