“Não há dois Papas. O Papa é só um”, disse Bento XVI numa rara entrevista ao diário italiano “Corriere della Sera”, publicada no oitavo aniversário da sua resignação à Sé de Pedro.

“Foi uma decisão difícil. Mas tomei-a em plena consciência e creio que fiz bem”, refere Ratzinger a propósito da sua histórica decisão, de 28 de fevereiro de 2013.

“Alguns dos meus amigos, um pouco fanáticos, ainda estão zangados, não quiseram aceitar a minha decisão. Penso nas teorias da conspiração que se seguiram: uns disseram que foi culpa do escândalo do Vatileaks, outros que foi um complôt do ‘lobby gay’ e outros devido ao caso do teólogo conservador lefebvriano Richard Willianson. Não querem acreditar que foi uma opção tomada conscientemente. Mas tenho a minha consciência limpa”, declarou o Papa emérito.

Os jornalistas italianos referem que Bento XVI os recebeu sentado num cadeirão, com aspeto frágil e um fio de voz, mas que, “apesar das suas frases saírem a conta-gotas, a sua mente permanece lúcida e rápida, tal como os seus olhos, atentos e vivazes”. E que, esforçando-se para articular bem cada palavra, sublinhou: “Não existem dois Papas. O Papa é só um.”

Interrogado sobre a próxima visita de Francisco ao Iraque, Bento XVI terá respondido, com um semblante preocupado. “Creio tratar-se de uma viagem muito importante”. E acrescentou: "Infelizmente, estamos num momento muito difícil, que torna a viagem perigosa, por razões de segurança, por causa da Covid e também pela situação instável do Iraque. Acompanharei Francisco com a minha oração”.

Aos 93 anos, Bento XVI continua atento ao que se passa no mundo através dos jornais, que todos os dias lhe leem, facto que motivou o “Corriere della Sera” a pedir-lhe uma opinião sobre o novo Presidente dos EUA, Joe Biden.

“É católico praticante e, pessoalmente, é contra o aborto”, observou. “Mas, como Presidente, tende a apresentar-se em continuidade com a linha do Partido Democrático. E sobre a política ‘gender’ ainda não percebemos bem qual é a sua posição”.