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O Prémio Nobel da Paz foi atribuído este ano ao Programa Alimentar Mundial, “pelos esforços no combate à fome, pela contribuição para melhorar as condições de paz em zonas de conflito e por agir como uma força motriz nos esforços para evitar a utilização da fome como arma de guerra”.

“A alimentação é a melhor vacina contra o caos”, afirmou a presidente do comité, Berit Reiss-Anderseno. Com esta distinção, o comité norueguês quis focar o olhar do mundo “para os milhões de pessoas que passam fome” no mundo.


“A relação entre a fome e o conflito armado é um círculo vicioso: a guerra e o conflito podem causar insegurança alimentar e fome, assim como a fome e a insegurança alimentar podem causar o surgimento de conflitos latentes e desencadear o uso da violência. Nunca alcançaremos a meta de fome zero, a menos que também acabemos com a guerra e os conflitos armados”, afirmou Berit Reiss-Anderseno.

“O Comité norueguês do Nobel deseja enfatizar que fornecer assistência para aumentar a segurança alimentar não apenas previne a fome, como pode ajudar a melhorar as perspetivas de estabilidade e paz. O Programa Alimentar Mundial assumiu a liderança ao combinar trabalho humanitário com esforços de paz por meio de projetos pioneiros na América do Sul, África e Ásia”, sublinhou ainda.

Por isso, o PAM “assume um papel-chave na promoção da cooperação internacional e transformar a segurança alimentar num instrumento de paz; contribui diariamente para defender a fraternidade entre nações a que Alfred Nobel se refere no seu testamento. Como uma das maiores agências das Nações Unidas, o Programa Alimentar Mundial é a versão atual de uma assembleia para a paz que o Prémio Nobel da Paz pretende distinguir”, apontou a presidente do comité.


A agência das Nações Unidas reagiu quase de imediato ao prémio. Foi um "momento de orgulho" para o Programa Mundial de Alimentos da ONU, afirmou o porta-voz do PAM, Tomson Phiri, numa conferência de imprensa em Genebra.

"A candidatura em si foi suficiente, mas prosseguir e ser nomeado vencedor do Prémio Nobel da Paz é nada menos do que uma façanha", acrescentou, referindo-se ao trabalho da agência no fornecimento de alimentos durante a pandemia de Covid-19, numa altura em que as companhias aéreas não voavam.

Fomos "além do esperado", sublinhou Tomson Phiri.

“O PAM sente-se profudamente humilde em receber o Prémio Nobel da Paz 2020”, lê-se na página da agência no Twitter.

“É o reconhecimento do trabalho dos funcionários do PAM, que todos os dias colocam as suas vidas em risco para providenciar mais alimentos e assistência a mais de 100 milhões de crianças, homens e mulheres que passam fome em todo o mundo”.

Fundado em 1961, o PAM tem sede em Roma e é totalmente financiado por contribuições voluntárias. No ano passado, distribuiu 15 mil milhões de refeições e assistiu 97 milhões em 88 países.

A organização diz, contudo, que estes números representam apenas uma fração das necessidades totais.


Qualquer pessoa ou instituição pode ser candidata ao Nobel da Paz, explica Henrik Syse, vice-presidente do Comité Nobel da Noruega, que é o órgão responsável pela atribuição do Nobel da Paz.

Henrik Syse diz que, para se tomar a decisão, é importante seguir o que se vai passando no mundo. O prémio pode ser atribuído a mais do que um destinatário.


A lista de candidatos deste ano era longa: 211 pessoas e 107 organizações, num total de 318. Entre eles, estava o Presidente dos EUA, Donald Trump.

Vários têm sido os políticos a receber a distinção, incluindo o antecessor de Trump, Barack Obama, pouco tempo depois de ter tomado posse, em 2009 – uma escolha polémica.

No ano passado, o prémio também foi para um político. O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed Ali, pelo seu papel na mediação do processo de paz com a Eritreia, conflito que se prolongou durante décadas.

Mas entre os políticos nomeados para Nobel da Paz destaca-se o nome de Nelson Mandela (1993).


Também grande defensor da paz foi Mahatma Ghandi, que, contudo, nunca recebeu a distinção do Comité Nobel.

Pelo contrário, Hitler já constou entre os nomes dos candidatos, tal como Estaline e Mussolini.

Entre os 318 candidatos deste ano estavam também a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern (tida como um dos melhores exemplos do combate à propagação da Covid-19), a ativista Greta Thunberg, Julian Assange, Alexei Navalny, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN em português).

A entrega do prémio está marcada para dia 10 de dezembro, na Noruega, numa cerimónia com apenas 100 convidados, devido aos contrangimentos impostos pela pandemia.