O que são capitais próprios e porque estão no centro da campanha do FC Porto?

06 fev, 2024 - 19:10 • Eduardo Soares da Silva

A SAD do FC Porto corrigiu o presidente Pinto da Costa ao afirmar que os capitais próprios podem, afinal, não chegar aos valores positivos prometidos pelo presidente dos dragões

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A SAD do FC Porto pode, afinal, não chegar aos capitais próprios positivos que Pinto da Costa prometeu. Mas, afinal, o que são capitais próprios e porque se tornaram um tema central na campanha eleitoral do FC Porto?

Pinto da Costa, que no domingo anunciou a sua recandidatura ao cargo que lidera há 42 anos, garantiu que a SAD dos dragões iria apresentar capitais próprios positivos dentro "de uma ou duas semanas".

No entanto, a SAD acabou por resfriar as expectativas, esta terça-feira, num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

"A sociedade prevê obter resultados consolidados do 1º semestre de 2023/2024 francamente positivos, não sendo ainda possível antecipar o montante em concreto, por estar ainda em processo de análise, consolidação e validação por parte dos auditores da Sociedade. Na sequência destes resultados, aliados a outras operações, a Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD prevê melhorar substancialmente os capitais próprios a 31 de dezembro de 2023, antecipando que estes poderão ficar próximos de um montante positivo", pode ler-se na breve nota.

Resultados "francamente positivos" e capitais próprios "próximos de um montante positivo", mas sem a promessa que isso vá acontecer.

O que são capitais próprios?

Para entender a promessa de Pinto da Costa é necessário compreender o que são capitais próprios e qual a sua importância para a saúde financeira de uma empresa.

Os capitais próprios são a diferença entre o ativo e passivo. Ou seja, aquilo que um clube tem - como o estádio, jogadores e a sua marca - menos aquilo que o clube deve - como dívidas a credores, bancos e empréstimos por saldar.

E é por isso que os capitais próprios são apontados como uma boa forma para avaliar a saúde financeira de uma empresa.

No relatório e contas referente à temporada 2022/23, os dragões anunciaram capitais próprios negativos de 175,9 milhões de euros. Em 2021/22, estavam fixados nos 111 milhões negativos e no ano anterior também 175 milhões negativos.

A título de comparação, no exercício da época passada, o Benfica apresentou capitais próprios positivos de 113,2 milhões de euros.

Já o Sporting voltou a apresentar um resultado positivo pela primeira vez em seis anos. A SAD leonina apresentou 8,9 milhões de euros de capital próprio positivo, tendo chegado a apresentar, no pior cenário em 2021, um resultado negativo de 41,4 milhões.

Porquê um tema central?

O tema dos capitais próprios foi colocado no centro da discussão sobre as eleições do FC Porto precisamente por Pinto da Costa. Numa entrevista à "SIC" em novembro, Pinto da Costa anunciou que a sua recandidatura dependeria de três objetivos, um deles os capitais próprios.

"Tenho três preocupações grandes: que a equipa consiga atingir o objetivo dos 'oitavos' da Champions e que no mês de dezembro possamos apresentar lucro e ter os capitais próprios positivos. É um grande salto, mas está incluído na estratégia; e a nossa academia, na Maia, que está em fase final", afirmou. Desde então, repetiu o tema em diversas entrevistas.

André Villas-Boas oficializou a sua candidatura e não tem poupado nas críticas ao estado financeiro do clube.

"Nos últimos 10 anos, o FC Porto conseguiu encaixar mais de 700 milhões em vendas e fez o maior contrato de transmissões televisivas. Qual é a realidade atual? Um passivo de 500 milhões e uma dívida de 310 milhões. A nossa capacidade competitiva ameaçada, as contas em total descontrolo. Temos um clube incapaz de acautelar a sua responsabilidade. Vive agarrado por gratidão a uma gestão sem rumo", atira.

Mais tarde, quando Angelino Ferreira foi confirmado como candidato ao Conselho Fiscal e Disciplinar de Villas-Boas, tocou novamente no tema dos capitais próprios: "Os acionistas, e concretamente o FC Porto, confiou 112 milhões a esta gestão e o que é que esta gestão entregou ao FC Porto? Os tais 210 milhões de capitais próprios negativos", disse, antes de concluir.

"Isto é estratégia de destruição e valor e não de construção de riqueza para os acionistas. A situação deve-nos preocupar”, acrescentou.

O exercício financeiro do FC Porto referente ao primeiro semestre da época deverá ser publicado em breve. De acordo com a nota enviada à CMVM ao início desta tarde, os resultados devem ser divulgados "cerca do dia 15 de fevereiro".

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