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Mais de mil pessoas caminham em Lisboa em defesa da vida

06 abr, 2024 - 22:28 • Alexandre Abrantes Neves

Desde o Chiado até ao Parlamento, muitos jovens ergueram a voz, a pedir o fim da eutanásia e do aborto "em favor da dignidade humana". Entre os cartazes e as reinvidicações, houve até pedidos para o próximo governo - nomeadamente, mais acompanhamento médico às grávidas e um reforço dos cuidados paliativos.

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Reportagem Caminhada pela Vida 2024
Ouça aqui a reportagem. Foto: Alexandre Abrantes Neves/RR

“Viva a vida”. O cântico é simples e, apesar do sobe e desce entre a baixa lisboeta e a Assembleia da República, não deixou de ecoar pelos mais de mil manifestantes que participaram este sábado na Caminhada pela Vida. No desfile que durou mais de duas horas, houve manifestantes a chegar de todas as partes do país - e, entre as vozes que se erguiam contra a eutanásia e o aborto, ouviam-se muitos jovens.

Um deles foi José Maria. Tem 19 anos e desde cedo que se envolve em movimentos católicos – “não havia outra hipótese se não participar”. Não esconde a “alegria” de ver tantos manifestantes na casa dos 20 anos e, para ele, a questão da vida não se esgota na eutanásia e no aborto: também inclui, por exemplo, a lei da autodeterminação de género. “Cobrimos todos os temas que falem da vida, desde o início até ao fim, mas também no durante”, conta à Renascença.

Logo ao lado, está Leonor que, aos 21 anos, tem esperança de que o novo Parlamento revogue a lei da eutanásia, mas que também traga de novo a interrupção voluntária da gravidez para cima da mesa.

“É um tema que nós nunca vamos querer ver fechado da forma como está agora fechado. Por isso, e com um novo Governo e um novo rumo político do nosso país temos muita esperança de que seja um assunto que volte a ser ouvido e discutido”, apela.

Enquanto o desfile avança, os cânticos também se renovam. Se ao início, no Largo Luís de Camões, quase todos apelavam a um travão à morte medicamente assistida, agora ouvem-se palavras de ordem contra o aborto: “Porquê, porquê? Se já bate o coração”, afinam-se as vozes, já a entrar no Príncipe Real.

Para Teresa, de 55 anos, esta também não pode ser uma questão encerrada – principalmente porque o Estado está a “falhar” no apoio a dar às grávidas, algo que se vê bem “quando olhamos para as notícias e a maior parte dos problemas nos hospitais são nos serviços de ginecologia e obstetrícia”. Esta manifestante sublinha ainda que a assistência médica também não é suficiente na velhice – “o Estado tem de assegurar cuidados paliativos, antes de oferecer serviços para matar as pessoas”.

E já a Assembleia da República espreita entre os prédios coloridos da rua de São Bento quando nos cruzamos com Gonçalo. A logística para a conversa é difícil – afinal, tem a filha às cavalitas e os dois mais velhos ao lado. À Renascença, diz-se “surpreendido” com a adesão dos jovens, mas aplaude o “otimismo que dá esperança, já que a mudança está na mão deles”.

Rapidamente se despede: está apressado para as declarações finais dos representantes da Federação pela Vida, que organizou o protesto. Uma delas é Inês de 26 anos que pede mais tolerância à sociedade em geral para com a “luta de quem defende a vida”.

“Nós não estamos aqui contra as mulheres nem contra as pessoas que não acreditam em nós. Nós estamos aqui para mostrar que nós também existimos e que nós também acreditamos que é possível dar dignidade a quem não tem”, defende.

Há mais a fazer para além do aborto e eutanásia

Já a caminhada tinha terminado, quando José Maria Seabra Duque, responsável da Federação pela Vida, dava conta à Renascença de um “balanço muito positivo”, especialmente quanto à adesão dos jovens.

“É para nós um sinal claro de que há uma geração cada vez mais alerta para a urgência de defender a vida. A geração jovem, ao contrário do que dizem, não está adormecida e não está desinteressada, talvez não esteja interessada nos temas que os políticos acham que lhes interessam. E um dos temas que os move com muita clareza, como vimos hoje, é a defesa da vida”, explica.

Perante o início da legislatura e o novo xadrez parlamentar, Seabra Duque mantém a expectativa de que ainda seja possível revogar a lei da eutanásia, mas não só.

“Tornou-se urgente criar apoios para as Mulheres grávidas em dificuldade e também dar condições às famílias para educar os seus filhos, (…) sem doutrinação das crianças. É preciso medidas claras de apoio à liberdade de consciência dos médicos e, sobretudo, [temos] de diminuir os prazos do aborto”, remata.

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