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40 anos Jovens Sem Fronteiras

"Não somos uma ONG." Sem a dimensão da fé, "tudo se torna vazio, oco e até desfocado"

10 out, 2023 - 16:17 • Ângela Roque

Movimento missionário, ligado aos espiritanos, nas paróquias, onde continua a marcar presença de norte a sul do país, mas a dimensão “sem fronteiras” esteve sempre presente, com projetos de curta ou longa duração, destaca padre Hugo Ventura.

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Entrevista ao padre Hugo Ventura sobre os Jovens Sem Fronteiras (JSF), da jornalista Ângela Roque
Clique na imagem para ouvir a entrevista. Foto: Facebook/JSF

Os Jovens sem Fronteiras estão a celebrar 40 anos. Em quatro décadas este movimento ligado aos missionários espiritanos mobilizou milhares de jovens que ali descobriram a melhor forma de servir a Igreja. Em entrevista à Renascença, o padre Hugo Ventura, assistente do movimento, fala da importância e atualidade dos JSF.

“O movimento surgiu em 1983. Talvez tenha sido um dos primeiros movimentos a fazer despertar os jovens para a realidade e a dinâmica missionária, e o que é ser missionário dentro da Igreja. E creio que tanto ontem como hoje continua a ter razão de existir, a ser um movimento completamente atual, daí a sua importância para a Igreja e para o mundo”, afirma.

Os 40 anos foram recentemente celebrados num encontro nacional na paróquia de Monte Abraão. Hugo Ventura diz que estão a “voltar a reanimar, a reagrupar”, e que depois da JMJ Lisboa - que foi “um marco, uma grande injeção de ânimo e de cultura, de evangelização e de compromisso” -, este encontro nacional “foi a cereja no topo do bolo”.

“Foi, na verdade, muito belo e participado”. Hoje, como ontem, os JSF estão em vários locais do país, ou não sejam um movimento paroquial. “Estão espalhados por paróquias de norte a sul, divididos em quatro regiões: Minho, Douro, Centro e Sul”, explica. É nas comunidades que desenvolvem a sua missão, mas também participam em atividades regionais e a nível nacional.

“Há regiões que têm mais grupos, outras menos, mas tem sido uma caminhada bonita. E o facto de serem grupos paroquiais é também um desafio, porque pretendemos que os jovens não pertençam simplesmente ao movimento, mas que façam despertar para a missão outros movimentos dentro da comunidade”.

Mas, no que fazem, tem mais importância a dimensão da fé ou a sócio-caritativa? “São dois aspetos essenciais do ser missionário. Por um lado, a dimensão espiritual, importantíssima”, para evitar que se transformem “numa ONG, como diz o Papa. Isso não somos, não queremos ser”, sublinha. Porque “sem a dimensão da fé, tudo o mais pode ser muito bonito, mas pode-se tornar vazio, oco e até desfocado”.

A segunda dimensão é mais “de intervenção, mais social, de compromisso, de estar atentos às periferias, sejam as que estão perto de nós, sejam as que estão longe. Não é por acaso que os Jovens Sem Fronteiras têm como lema ‘estar perto dos que estão longe, sem estar longe dos que estão perto”.

As missões dependem da realidade de cada local, ou das necessidades de cada paróquia, “seja cá dentro, seja lá fora”. E dá como exemplo “o projeto Ponte, de voluntariado missionário, sobretudo em países de língua oficial portuguesa, que pretende isso mesmo: ir ao encontro de uma realidade e de uma Igreja diferente da nossa, e ser aí uma presença de fé, de irmãos que partilham os seus dons, talentos, capacitações e formação”.

Os JSF têm também uma preocupação ecuménica, “até porque o ‘todos, todos, todos’, que o Papa tanto nos diz, esta dimensão da fraternidade, não pode ser vivida simplesmente com aqueles que estão dentro, tem de ser com todos. Quando nos envolvemos e participamos em algumas atividades nacionais – o Fórum Ecuménico Jovem ou outras celebrações a nível diocesano ou nacional - vamos com esta postura de quem recebeu de graça e partilha de graça”, uma “postura comprometida, de irmãos que se dão as mãos e que procuram ser Igreja e construir este mundo melhor”.

E em 40 anos já houve muitos Jovens Sem Fronteiras? “Temos de graças a Deus por isso mesmo! Sem dúvida que foram milhares os jovens que passaram por este movimento, e o nosso desejo não é que fiquem eternamente nos JSF, porque a idade vai avançando, mas que depois se envolvam, participem e se comprometam nos diferentes movimentos da Igreja e nas diferentes opções vocacionais que vão fazendo”.

“Sabemos que deste movimento surgiram alguns sacerdotes, diocesanos e religiosos, alguns consagrados e consagradas, e também surgiram centenas de casais” que se comprometeram em “formar família”. Muitos outros envolveram-se “em diferentes setores da Igreja, em áreas sociais, de animação litúrgica e compromisso missionário, como catequistas. E em diferentes instituições partidárias, políticas e sociais da nossa Igreja. E alegra-nos saber isso, porque o movimento quer ser um espaço para as pessoas descobrirem a sua vocação, a sua vida, mas depois que se comprometam como Igreja e em Igreja”.

E nesta altura em que ainda se saboreiam os frutos da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, como é que a Igreja pode responder aos desafios deixados pelo Papa? Para o padre Hugo Ventura, a JMJ criou uma dinâmica que deve colocar todos “numa atitude de repensar a forma de ser, de estar, de trabalhar, de sermos sinodalidade, de caminharmos juntos, o nosso lugar na Igreja e no mundo”.

“Os jovens têm e devem ter o seu lugar, o seu espaço, mas também nós temos de nos comprometer seriamente” na evangelização, “para que os jovens tenham este encontro com Cristo”. E fala da esperança que se sente no futuro da Igreja.

“Em algumas atividades por onde tenho passado, tenho sentido essa clima, esse ambiente, essa pressa que há no ar, no sentido do compromisso, da missão, da novidade. Por isso, mais do que rezar, também me quero comprometer a mim, com os Jovens Sem Fronteiras, com os espiritanos e com a Igreja, nesse sentido de esperarmos que algo de bonito e belo possa acontecer”.

*Entrevista transmitida no programa ‘Pequenas Grandes Coisas’ de 8 de outubro de 2023.

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