07 nov, 2023 - 19:22 • Catarina Santos, enviada da Renascença ao Médio Oriente
Um mês depois de o Hamas ter cruzado as fronteiras de Israel e ter executado mais de 1.300 pessoas, o país está ainda “em choque” – como ouviu a Renascença há dias numa manifestação que exigia o regresso imediato dos mais de 240 reféns levados há um mês e que ainda estão na Faixa de Gaza.
Para milhares de famílias originárias das zonas mais próximas do conflito a sul – e também da fronteira com o Líbano, a norte – a vida foi colocada em pausa há um mês. Continuam longe de casa e estão distribuídas por alojamentos em todo o país e também junto ao Mar Morto.
Mas o país está também mobilizado. A sociedade civil criou estruturas de apoio às vítimas e às famílias de reféns e desaparecidos. Muitas estruturas de ensino estão ainda em pausa e centenas de jovens canalizam o tempo livre para fazer voluntariado nas mais diversas áreas – seja a prestar apoio emocional e logístico às famílias das vítimas, seja na criação de iniciativas que ajudem a processar o que estão a viver.
As famílias dos reféns têm-se desdobrado em iniciativas, no país e no estrangeiro, para não deixar o assunto esfriar – e têm, gradualmente, aumentado a pressão sobre o governo.
Uma das mais ativas vozes neste campo, a neta de Adina Moshe, uma de três reféns com cidadania portuguesa, dizia-nos na semana passada que conseguiu ainda assimilar realmente o que aconteceu há um mês. O avô foi morto no kibbutz de Nir Oz, de onde provém um terço dos reféns, e Anat Moshe Shoshany dizia que não teve ainda tempo para parar e fazer o luto, porque está desde dia 7 de outubro em permanente reação, a esgotar todos os esforços para ver a avó sair do cativeiro.
As opiniões não são unânimes quanto à estratégia seguida pelo governo e quanto à forma como está a ser conduzida a operação militar em Gaza, mas sobressai um generalizado sentimento de união no país. Em Israel, quase toda a gente com quem a Renascença tem falado conhece alguém, no seu círculo pessoal ou próximo, que está entre os cerca de 1400 mortos ou desaparecidos no ataque de há um mês.
A data está a ser assinalada com algumas iniciativas, sobretudo da sociedade civil. A partir do fim da tarde, nas praças centrais de várias cidades, vão acender-se milhares de velas, em concentrações de homenagem às vítimas. Para esta noite, junto ao Muro das Lamentações, está marcada uma vigília com as famílias de reféns e desaparecidos. Já na última noite, as paredes da cidade velha estavam forradas com uma enorme projeção de fotografias dos reféns.
Para os palestinianos que vivem na zona este de Jerusalém e na Cisjordânia, este mês tem sido marcado por medo e violência. Acompanham com revolta as notícias que lhes chegam da Faixa de Gaza, onde o número de mortos ultrapassa os 10 mil, de acordo com o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas, e há relatos constantes de um agravar das condições mínimas de sobrevivência.
Na Cisjordânia, há focos de tensão sobretudo a norte, nas zonas de Nablus e Jenin, onde se têm verificado os maiores confrontos com as Forças de Defesa israelitas. De acordo com o Ministério da Saúde de Ramallah, mais de 150 palestinianos da Cisjordânia foram mortos nas últimas semanas. Há registo de mais de 2.000 detidos.
Mas o que se sente por toda a Cisjordânia é sobretudo um ambiente de medo. A Renascença esteve segunda-feira entre Belém e Hebron e é muito notória a presença das forças israelitas, que cortaram o acesso a várias vilas que ficam na proximidade de colonatos.
Desde os ataques de 7 de outubro, aumentaram exponencialmente os episódios de violência extrema de colonos. Há casos em que a intimidação permanente levou os habitantes a abandonar as vilas. Noutros, os residentes recusam-se a deixar as casas e resistem, mas a todo o momento são ameaçados por grupos de colonos armados, que, nalguns casos, não hesitam em disparar diretamente contra os habitantes.
Para os israelitas e palestinianos contactados pela Renascença, é ainda difícil compreender e processar este último mês, mas o dia 7 de outubro é visto por muitos como um ponto de não retorno.