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Viana do Castelo

Corais duros e gorgónias. Projeto "Atlântica" descobre espécies inéditas no Norte do país

17 jul, 2023 - 13:50 • Olímpia Mairos

No leque das descobertas em Viana do Castelo não há, para já, espécies novas para o mundo, mas várias delas são inéditas na costa Norte portuguesa e apresentam distribuição limitada geograficamente.

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Esponjas de profundidade, populações de gorgónias bem conservadas e mesmo corais duros que geralmente só ocorrem a maiores profundidades, são apenas algumas das mais de meia centenas de espécies descobertas por uma equipa de investigadores da Universidade do Minho ao largo da costa de Viana do Castelo.

De acordo com a academia, no leque das descobertas não há para já espécies novas para o mundo, mas “várias delas são inéditas no Norte de Portugal e apresentam distribuição limitada geograficamente”.

Cientistas do projeto “Atlântida” estão a estudar há três anos e até setembro as zonas marítimas mais profundas, a chamada zona de penumbra, onde a luz muito ténue que atinge o fundo não possibilita a fotossíntese, e que é muito pouco analisada a nível mundial.

Segundo Pedro Gomes, investigador do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) e professor do Departamento de Biologia da ECUM, estão a lidar com “ecossistemas marinhos vulneráveis, que suportam espécies de conservação prioritária pela União Europeia e são muito importantes para a saúde dos ecossistemas marinhos”.

“Temos detetado inclusive espécies nunca antes observadas em Portugal”, avança, destacando que alguns dos registos conhecidos neste âmbito ao largo de Viana do Castelo “têm mais de um século e resultam de capturas acidentais, logo não estão atualizados nem indicam a distribuição, o estado das populações e a sua importância no ecossistema, nomeadamente como habitat para os recursos pesqueiros”.

Para conseguir dados de base e desenvolver uma plataforma de monitorização do Oceano Atlântico Norte, os investigadores fazem batimetria (mapas detalhados do fundo do mar) para localizar as zonas desses habitats prioritários e avaliar os respetivos parâmetros e fatores de ameaça.

A pesquisa é complementada com informações recolhidas por ROV (minissubmarino não tripulado, equipado com câmara de vídeo e sensores).

“Já fizemos acima de 300 mergulhos com ROV e navegámos mais de 2.000 horas. Vamos obter material que permita avançar para a modelação e delimitação de locais que justifiquem medidas de gestão concretas; temos já ‘instantâneos’ que caracterizam locais específicos e pretendemos alargar esse conhecimento a toda a área de trabalho, que vamos juntar com a topografia submarina”, destaca o investigador.

Biólogos querem explorar alto mar

Nos últimos anos, os cientistas exploraram a zona até cerca de seis quilómetros da costa e numa área de 85 km2, com alguns mergulhos pontuais em zonas situadas a 50 km da costa (a cerca de 200 metros de profundidade).

Até ao final do projeto esperam explorar esse espaço mais afastado, onde já foram detetados recifes de corais de profundidade.

“Infelizmente, os limites do Parque Natural do Litoral Norte terminam a cerca de 1 km dos locais onde começam os recifes de qualidade. Ficou de fora a melhor zona, que não tem qualquer estatuto de proteção”, adianta Pedro Gomes, realçando que aquela zona cumpre as normas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) para ser um espaço protegido.

“Vamos ter surpresas, de certeza, e talvez mais espécies novas”, assinala.

Os investigadores mostram também preocupação com a destruição do fundo do mar provocada especialmente pela pesca de arrasto.

“Precisamos de medidas legais, mas é um problema, porque o ganha-pão dos pescadores está nesta zona. Por indicação da União Europeia somos obrigados a aumentar as áreas protegidas até 30 por cento do território nacional, logo requer-se ações de recuperação e proteção”, remata.

O projeto “Atlântida” é financiado pelo Programa Norte2020 e envolve as universidades do Porto -que coordena -, do Minho e de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Em paralelo, o CBMA está a dinamizar o projeto “River2Ocean”, que visa apresentar soluções socioecológicas e biotecnológicas para a conservação e valorização da biodiversidade aquática na região do Minho.

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