Hora da Verdade

PS viabilizar governo do PSD? “Isso não vai acontecer"

21 dez, 2023 - 07:00 • Susana Madureira Martins (Renascença) e David Santiago (Público)

Eurico Brilhante Dias diz-se convicto que, se ganhar as eleições, o PSD vai coligar-se com o Chega e que, por isso, "não vale a pena" trabalhar num cenário em que o PS é chamado a jogo para ajudar os social-democratas.

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PS viabilizar governo do PSD? “Isso não vai acontecer"

Em entrevista ao programa Hora da Verdade da Renascença e do jornal Público, o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, admite que Pedro Nuno Santos se mantenha como secretário-geral do partido mesmo no caso de derrota nas eleições de março. "Não seria a primeira vez", diz o dirigente socialista.

Eurico Brilhante Dias, que apoiou José Luís Carneiro na campanha interna para a liderança do PS, espera ainda que "uma boa ideia" como o "fundo Medina" possa ser "ponderada" por Pedro Nuno Santos.

Refere ainda a necessidade de "um partido aberto" à sociedade e que reflita a "pluralidade" que José Luís Carneiro "trouxe para a discussão interna". O líder parlamentar socialista diz mesmo que "é muito útil" que o PS "se sinta todo representado no programa eleitoral que vai defender".

Sobre o seu próprio futuro, Eurico Brilhante Dias diz que está "absolutamente disponível" para "ajudar" o partido e "para ser um protagonista político" como "até agora".

Vivemos uma situação em que o primeiro-ministro em funções não é o líder do PS. Isso poderá dificultar a afirmação da liderança de Pedro Nuno Santos? Por outro lado, há um risco de ter um PS a duas velocidades?

Não. Nós somos um partido muito plural e diverso, mas já mostrámos no passado recente, e até no passado mais longínquo, que temos uma organização que funciona. O secretário-geral do partido é o Pedro Nuno Santos. Os militantes do PS participaram ativamente no processo interno, 40 mil votantes é muito assinalável e, neste momento, a condução política que nos levará às eleições do dia 10 de março, é do secretário-geral e das equipas que forem sendo constituídas.

O primeiro-ministro tem uma incumbência de levar o Governo até às próximas eleições, estando em gestão. Nós demos todos os passos necessários, inclusive aqueles mais cénicos, para mostrar ao país que percebemos onde é que está a condução política.

Não vamos ter uma liderança bicéfala?

Não, não. O PS não tem uma liderança bicéfala, o PS tem um secretário-geral eleito, que está em funções já. Isso os militantes do PS compreendem.

E o eleitorado compreende essa diferença?

Penso que perceberá. Faz parte do nosso trabalho, dar claramente essa informação, comunicar isso ao eleitorado.

Pedro Nuno Santos tem falado algumas vezes na necessidade de ter um bom resultado nas legislativas. O que é um bom resultado para o PS? O PS deve pedir a maioria absoluta?

O PS nunca pediu a maioria absoluta. Mesmo nas últimas eleições, não fizemos um pedido de maioria absoluta. Aliás, há muitos analistas que dizem que o facto de, a certa altura, termos deixado de falar de maioria absoluta durante a campanha eleitoral foi importante para depois termos uma maioria absoluta. Um bom resultado é, como qualquer partido, ter o maior número de votos possível.

Metade mais um?

Isso é uma maioria absoluta. Eu disse que é o maior número de votos possível que garanta ao país ter um Governo estável.

Ficar pouco atrás do PSD é um bom resultado?

Não. Nós queremos ganhar as eleições.

Isso é o mínimo exigível para a liderança de Pedro Nuno Santos?

Somos um coletivo. Não vou determinar fasquias ao meu secretário-geral. Não vou começar aqui a dividir responsabilidades.

No caso de haver uma maioria relativa, o PS teria sempre de pedir ajuda aos parceiros de esquerda?

Com uma maioria de esquerda. Hoje em dia, o que está em causa na sociedade portuguesa não é saber se há uma maioria de esquerda ou de direita. Claro que isso é muito relevante. Se o PS ganhar as eleições e se formar uma maioria à esquerda, somos todos, sem exceção, à esquerda corresponsáveis por dar ao país uma solução governativa. Isso parece me evidente.

A responsabilidade do PCP e do Bloco de Esquerda também existe?

Claro que existe.

Mas Pedro Nuno Santos, curiosamente, não tem querido dar esse passo de que pode vir a precisar dessa esquerda.

Não terminei a resposta. Se a maioria for à esquerda, todos temos essa responsabilidade. Todas as forças políticas de esquerda. E isso hoje, para o conjunto dos portugueses, não é um tabu. Mas também sabem, como sabem do passado não muito longínquo, que só a força do PS consegue fazer avançar o país num quadro atlantista, europeísta e que essa correlação de forças é muito importante para fazer avançar o país.

Votar no Bloco e no PCP não é a mesma coisa que votar o PS. A correlação de forças é muito importante, como disse também Pedro Nuno Santos, para nós conseguirmos governar o país com estabilidade, mas num sentido europeísta, atlantista, para um país que faz parte da área do euro e tem um conjunto responsabilidades.

Mas aquilo que o país discute hoje não é isso. A pergunta que se faz aos portugueses é: se o PS ganhar as eleições, como é a forte expetativa que tenho, e apesar de tudo não se constituir uma maioria à esquerda, assumindo o dr. Luís Montenegro que não governará com o Chega, coisa que eu não acredito muito, é evidentemente saber se o PSD aquilo que fará não será viabilizar um governo liderado pelo PS.

Numa situação inversa, o PS deve viabilizar um Governo do PSD?

O PS não deve viabilizar soluções em que participe a extrema-direita.

Mas se não estiver a extrema-direita, precisamente para não haver a extrema-direita...

Não há nenhuma solução estável se o PS não ganhar as eleições e a esquerda não tiver a maioria. Se o PSD ganhar as eleições e tiver, à direita, uma maioria terá que resolver com o Chega, não é como quer governar, é a forma como lidará com a extrema-direita. Porque a verdade é que aquilo que tem acontecido no país é um discurso dúplice: o Chega é contestado e afastado às vezes por algumas vozes à direita, outras vozes, como ainda ontem [terça-feira] o Dr. Pedro Passos Coelho, consideram que o Chega deve fazer parte de uma solução governativa. Não acredito que se a direita tiver uma maioria, o Chega não seja a solução.

Está ignorar um cenário. Se houver maioria de direita, mas o PSD não quiser depender do Chega, o PS está disposto a viabilizar os orçamentos da mesma forma que disse que espera que o PSD faça?

Esse cenário não vai acontecer. Se houver uma maioria à direita, o PSD vai fazer um acordo com o Chega. Não vale a pena elaborarmos num cenário do tipo: "vai o PS viabilizar um governo do PSD para que o PSD não se entenda com o Chega?". Isso não vai acontecer. Se a direita tiver maioria, mesmo que o PS ganhe as eleições, não tenho a menor das dúvidas: o país terá um Governo de direita com a extrema-direita. Portanto, não peçam ao PS para viabilizar nada com a extrema-direita.

"Não acredito que se a direita tiver uma maioria, o Chega não seja a solução"

O PS está obrigado a ganhar estas eleições? Exige-se essa responsabilidade a Pedro Nuno Santos?

O PS quer ganhar as eleições. Todos queremos ganhar as eleições. A questão da exigência democrática de vitória é pouco razoável. O PS quer ganhar e nós não nos devemos desviar dos objetivos. No dia 10 de março estaremos todos juntos a avaliar o resultado, que é um resultado coletivo e eu acho que temos todas as condições para ganhar. Isto de ganhar e perder não é um mero jogo. Estamos a falar da democracia portuguesa, da estabilidade da vida dos portugueses no futuro próximo. Essa estabilidade precisa do PS, de um resultado forte do PS, da confiança dos portugueses no PS.

Se Pedro Nuno Santos não conseguir essa vitória, tem de repensar a sua liderança ou é confortável para o PS continuar a ter Pedro Nuno como líder da oposição?

Não seria a primeira vez que o PS tem um líder que não tem um resultado eleitoral desejado e o líder permanece como líder.

E se o resultado eleitoral for mau e uma derrota muito forte?

São cenários hipotéticos que no dia de hoje é muito difícil. O secretário-geral acaba de ser eleito, vamos trabalhar com ele para ganhar eleições, solidariamente como partido que na sua pluralidade e diversidade, porque foi uma disputa interna, aliás, bastante interessante, mesmo ao nível dos resultados, vamos estar coesos e unidos para ganhar as eleições. O Pedro Nuno Santos não precisa de fazer um tirocínio nas eleições. Aquilo que nós temos que fazer agora é coletivamente enfrentar em conjunto estas eleições.

Pedro Nuno Santos tem puxado muito pelos galões de ser também ele um herdeiro das políticas deste Governo. Se for primeiro-ministro há o risco de desbaratar este legado e colocar em causa a política das contas certas?

A política das contas certas é um património coletivo do PS, não é do secretário-geral A ou do secretário-geral B. Foi muito importante para o país e também para o PS.

Mas Pedro Nuno Santos tem uma visão diferente no uso do excedente orçamental. É contra o “fundo Medina” por exemplo.

Acho que o “fundo Medina” é uma boa ideia. O PS vai olhar para estas eleições e vai construir um programa eleitoral, que espero que seja construído de forma coletiva, aberta, com militantes do PS, provavelmente com personalidades que não são militantes do PS. Quando em 2015 disputámos eleições, o dr. António Costa fez uma coisa que me pareceu bastante inteligente, definir um cenário macroeconómico e, a partir dele, definir um conjunto de políticas. A confiança em torno das contas certas é muito importante. A maior proteção que nós temos para os salários e para as pensões e para a carga fiscal, que muitos invocam como um tema, são as contas certas e por isso é esse cenário macroeconómico com políticas públicas no quadro da social-democracia, do socialismo democrático, que vamos ter de apresentar aos portugueses. Portanto, algumas dessas questões devem ser vistas no quadro geral das políticas.

Isso não devia estar a ser apresentado neste momento? Não é um erro? O tempo está a passar...

O tempo é o tempo que temos dado à circunstância, pedir mais velocidade, tivemos eleições no sábado.

Mas não se conhece a equipa...

Nós agora, perdoem-me a expressão prosaica, quase em jeito de brincadeira, mete-se o Natal. Nós temos congresso na primeira semana de janeiro, é um momento importante de afirmação do partido. Espero que seja um momento de afirmação da unidade do partido dentro da sua diversidade e da sua pluralidade. E nesse momento começaremos a vislumbrar aspetos que dizem respeito ao programa do Governo e, em particular, ao programa eleitoral do PS.

Portanto, esse é o tempo que temos para umas eleições que são 10 de março, teremos um Janeiro muito exigente e um fevereiro muito exigente. O tempo que temos desta vez é muito diferente do tempo que tivemos em 2015 para preparar o processo eleitoral. Há essa grande exigência de tempo.

Quanto ao “fundo Medina”, eu queria deixar a seguinte nota: há uma clara diferença entre despesas de investimento e despesa corrente permanente.

Era uma das dúvidas do Presidente da República em relação ao fundo.

Sim. Não podemos trocar as necessidades de investimento com aquilo que é a construção de despesa certa e permanente para futuro. Não tem a mesma natureza. O “fundo Medina” surge num quadro em que, com o processo inflacionista, temos um saldo positivo do ponto orçamental. É curioso que estamos aqui a discutir o problema de ter um saldo positivo, isto é, toda uma transformação da vida política portuguesa, e em particular das contas públicas portuguesas.

Este saldo positivo, por exemplo, podia reforçar o investimento público. Agora nós estamos a reforçar o investimento público até ao limite da capacidade de absorção da própria economia portuguesa. Temos o PRR em execução, o PT 2030 ainda a fechar e a ser executado, estamos a lançar o PT 2030, ou seja, há um conjunto de recursos financeiros, maioritariamente vindos de fundos comunitários, que está a ser injetado na economia portuguesa.

A própria economia portuguesa tem a sua capacidade de executar e de fazer. Quando o país tem um saldo e pensa que esse saldo pode ser para investimento, tem que perceber se tem condições de reforçar um investimento neste momento ou se as condições de absorção da economia são de tal forma que é melhor guardar parte desses recursos para um momento futuro.

E é esse o caso?

Quando se transporta o saldo orçamental para despesa corrente, e despesa corrente com impactos futuros permanentes, que não investimento, mas despesa associada a salários e outras despesas correntes, nessa circunstância estamos a deteriorar o saldo estrutural e o saldo estrutural este ano de 2023, aponta o Orçamento de Estado, será zero. 2024 aponta para uma degradação do saldo estrutural para um défice de 0,1%. É este equilíbrio que permite dizer que utilizando em dívida pública, que é o caso, porque seria um fundo constituído em dívida pública, é como se o Estado comprasse a própria dívida pública e constituísse a partir daí.

Não valia mais amortizar a dívida?

No fundo é isso que se está a fazer.

Mas pode amortizar diretamente e baixar os custos de financiamento nos mercados.

Isso leva a uma aceleração maior da dívida.

O bom senso manda que Pedro Nuno Santos possa aproveitar esta ideia do “fundo Medina”?

Deve ser bem refletido. O PS que vai eleições no dia 10 de março, que tem este bom legado da governação de oito anos, que deve inovar, deve melhorar, deve ter propostas novas. Nós cumprimos os programas do governo e cada vez que terminamos um há outro para fazer e há novos problemas para resolver. Mas devemos refletir coletivamente e dizer que a partir de um cenário macroeconómico, a partir do desenvolvimento de políticas públicas, seguramente algumas dessas questões podem ser ponderadas.

No seguimento da última noite eleitoral interna no PS, em que José Luís Carneiro falava da necessidade, até pelo bom resultado, pela boa derrota que teve, que era necessário garantir a unidade do partido e a pluralidade. É expectável que Pedro Nuno Santos inclua outro tipo de propostas no programa eleitoral do PS? Por exemplo no “fundo Medina”?

Temos que ter um processo participado e falou de uma boa derrota, 36-37-38% é um resultado que não deixando de ser uma derrota, é um resultado assinalável. De todas as formas, é um processo. E o processo de unidade começa por ser a capacidade de, coletivamente, definirmos um programa eleitoral que queremos transformar em programa de governo.

"António Costa tem todas as condições de ser um protagonista da política internacional"

Não pode ser uma coisa autocrática do líder?

Não me parece sequer que seja essa a vontade do Pedro Nuno Santos, acho que bem pelo contrário.

Esperam moderar as propostas de Pedro Nuno Santos?

Ele é o secretário-geral de 100% dos socialistas. E é essa construção coletiva dos 100% que temos que fazer. O PS não vai às postas às eleições, é o PS inteiro que vai a votos.

E esta promessa de Pedro Nuno Santos, de querer recuperar o tempo integral de serviço dos professores, é um risco depois de o PS e o Governo terem dito aquilo que disseram?

Essa questão concreta dos professores nunca foi vista pelo Governo, já agora nem pela coordenação política, como uma questão apenas dos professores. Aquilo que nós tivemos foi um congelamento das carreiras na generalidade administração pública.

Mas Pedro Nuno Santos e Alexandra Leitão falaram na recuperação de todas as carreiras, não só das especiais.

Já chegámos ao ponto que eu queria. Sempre vimos isso no conjunto e dentro de um cenário macroeconómico que sempre foi carreado para todos os orçamentos, inclusive para o Orçamento do Estado para 2024. E por isso, quando o PS agora preparar o programa eleitoral, aquilo que temos de perceber é: dentro dos objetivos da participação de Portugal na zona euro, dentro da sustentabilidade das contas públicas, dentro da trajetória que temos de fazer - e devo dizer, grande parte desta liberdade é a nossa liberdade construída por oito anos de governo, esta liberdade de estar a discutir é esta, sendo que há um conjunto de portugueses a quem já não podemos recuperar nada - temos que perceber que há um equilíbrio nestas políticas.

Não há nenhum governante e muito menos nenhum político que não gostasse de poder fazer aumentos nominais superiores. Tem que o fazer de forma equilibrada para garantir que não perdemos os passos que damos. A expressão que António Costa usou muitas vezes era não dar um passo maior que a perna.

Neste caso também Pedro Nuno Santos.

Foi membro do Governo.

João Costa, ministro da Educação, também é membro do Governo e negoceia num sentido com os professores, diferente daquele que defende.

Vai ter que perguntar ao João Costa. O João Costa defendeu as posições que eram do Governo e que eram as suas como ministro. Não enjeitamos o nosso passado. Percebo que ele, como ministro da Educação, tenha uma ambição de no futuro poder fazer mais do que conseguimos fazer até agora.

Todos nós queremos fazer mais do que fizemos até agora. Temos que olhar para esse assunto com a consciência de que o país precisa do PS, que a credibilidade das contas certas é um património do país, mas que foi construído connosco, com o PS, e que os portugueses valorizam coletivamente muito a ideia de que cada vez que damos um passo ele é seguro.

E esta recuperação é um passo seguro?

O cenário macroeconómico que for discutido e que nos levar à ideia de programa eleitoral deve considerar todas as alternativas e, portanto, o Pedro Nuno Santos, o nosso secretário-geral, em momento algum colocou em causa as contas certas, as contas certas como um património importante do partido do país. Eu diria ao contrário, do país e do partido.

A ala de José Luís Carneiro espera estar envolvida neste desenho?

Já disse que a ideia é não serem apenas pessoas, é ser programático. É muito útil que o partido se sinta todo representado no programa eleitoral que vai defender.

Já que falou em pessoas, em relação às listas de candidatos a deputados, aqueles 36% que José Luís Carneiro teve devem estar espelhados também nas listas?

Os 37% ou 38% que José Luís Carneiro teve são um resultado eleitoral interno. Vamos ter um congresso, espero que seja de unidade e de coesão, a seguir serão os órgãos do partido a tomar decisões. Será a Comissão Política Nacional, o Secretariado Nacional. Acho que começar a fulanizar excessivamente esta questão é um mau primeiro passo.

Na minha opinião, há protagonistas que apoiaram o José Luís Carneiro e protagonistas políticos do PS que apoiaram o Pedro Nuno Santos e há protagonistas políticos que não apoiaram nenhum que continuam a ser um ativo e património muito importante do PS para enfrentar os processos eleitorais. E o PS não tem tradição de fazer cortes violentos, aliás, como têm outros partidos quer à nossa direita, quer à nossa esquerda. Aquilo que temos como tradição é coesão, apoio ao secretário-geral, um alinhamento programático, porque não há grandes divergências programáticas, somos todos socialistas sociais-democratas, verdadeiramente sociais-democratas, e é essa construção que temos que fazer no futuro próximo, onde, com um secretário-geral e com um conjunto de órgãos eleitos, vamos construir esse programa e essas listas.

José Luís Carneiro abriu a porta a que se fosse eleito secretário-geral, Pedro Nuno Santos faria parte do Secretariado Nacional. Pedro Nuno deve chamar Carneiro ou algumas das personalidades mais fortes que o acompanharam?

O Secretariado Nacional é uma decisão do secretário-geral e da sua equipa. Há abordagens diferentes, não vou entrar nessa discussão. Os órgãos do partido vão muito além do secretariado.

Devem espelhar essa tal pluralidade de que já falou?

Acho que devem espelhar a diversidade e a pluralidade. E a coesão interna constrói-se.

Tem essa expectativa?

Não sou eu, são todos os dirigentes do partido têm a expectativa de sermos capazes, em conjunto, de construirmos uma solução ganhadora para o dia 10 de março.

No Congresso, espera que Pedro Nuno Santos consiga trazer para a lista da Comissão Nacional essas personalidades e que não surjam listas alternativas que não signifiquem uma desunião?

O partido não deve ficar enquistado nas personalidades, nos protagonistas. É evidente que o partido, neste novo ciclo, tem que ter alguns protagonistas novos, gente mais nova ou menos nova, que se soma aos vários órgãos do partido. Aquilo que queremos é um partido aberto à sociedade e que reflita essa pluralidade que também foi trazida para a discussão interna pela candidatura de José Luís Carneiro.

Teme que o Pedro Nuno Santos, como primeiro-ministro, possa agir ou decidir mais por convicção do que por ponderação?

Essa questão remete para os perfis individuais de cada um.

Por isso mesmo.

Sem prejuízo dessas características pessoais que cada um de nós tem, há momentos em que quando exercemos um cargo em concreto, esse cargo, pela responsabilidade que temos, determina muitas vezes a forma como tomamos decisões e até como nos relacionamos com os outros.

Quando se chega a primeiro-ministro, como foi o caso de António Costa, como foi com o próprio Passos Coelho, entre outros, a forma como se constroem soluções é diferente e o país não conhece essa construção de soluções num indivíduo, num protagonista político que nunca foi primeiro-ministro.

A construção de uma decisão no quadro do governo é bastante mais complexa do que a decisão de um homem. Esse é um exercício fino, muitas vezes de auscultação de diferentes sensibilidades, de articulação com o grupo parlamentar… Essa construção molda também a forma como se tomam decisões. Portanto, o primeiro-ministro, Pedro Nuno Santos, que queremos que seja a partir das eleições gerais de março, terá um quadro de decisão que é completamente diferente daquele que tinha como ministro ou como secretário de Estado.

Em que houve uma espécie de bravata naquela decisão sobre o novo aeroporto.

E que foi assumida pelo próprio no dia seguinte.

O bom senso manda também que isso não aconteça.

Essa questão é bem o sinal de como a posição do primeiro-ministro é a do primeiro-ministro, e não de um ministro em concreto.

Mas o risco também é maior de haver decisões imprudentes tomadas por um primeiro-ministro. Ou o que está a dizer é que o peso da responsabilidade do cargo…

O peso da responsabilidade do cargo é muito significativo.

Mas a pessoa é a mesma.

Fui membro do governo durante a pandemia, por exemplo. Na altura tivemos que tomar decisões muito difíceis. A decisão é tomada num quadro de grande complexidade e com a participação de muitos atores. Pedro Nuno Santos, quando for primeiro-ministro, é primeiro-ministro, não é ministro das Infraestruturas nem secretário de Estado. Toda esta responsabilidade estará nos seus ombros.

O perfil terá de ser diferente?

O perfil não sei. Ele tem as suas características próprias.

Tem que mudar o modus operandi.

Não é o modus operandi que muda, o quadro da decisão será completamente diferente. António Costa, estando naturalmente triste pela circunstância da saída, garanto que há seguramente uma dimensão dele que percebe que o facto de deixar de ser primeiro-ministro também tem um lado que, se quiserem, pessoal, íntimo, muito positivo que é a pressão a que esteve sujeito durante oito anos.

Por falar em António Costa, acha que António Costa ainda poderá, no futuro, ter condições para voltar a liderar o PS?

Acho que isso não lhe passa pela cabeça. Os ciclos começam e acabam. António Costa pode ser e será muito útil ao PS, pela fortíssima ligação que tem à população.

"Acho que o “fundo Medina” é uma boa ideia"

Nas europeias?

Não diria que não.

Encara-o como possível cabeça de lista às europeias, sobretudo se a questão judicial, que ainda nem se sabe bem do que se trata, estiver resolvida?

António Costa é um ativo do partido e tenho absoluta convicção que qualquer secretário-geral gostaria de contar com o apoio dele e com o protagonismo dele. Para as europeias ou para outra circunstância.

Presidenciais?

António Costa sempre recusou liminarmente.

O que é que preferia?

Começava por preferir que este tema no Supremo acabasse.

E depois disso?

Depois disso, António Costa tem todas as condições de ser um protagonista da política internacional, onde hoje é um ator com imenso valor e é um ativo do país. É, provavelmente, na família socialista, o protagonista mais unânime do ponto de vista do conjunto de arranjos típicos no quadro europeu entre a presidência da Comissão, a presidência do Conselho, a presidência do Parlamento Europeu.

No caso do Parlamento Europeu, exigem que ele seja eleito eurodeputado.

Vivemos no quadro que conhecemos, vivemos também no quadro em que António Costa considerou que aquela suspeita não garantia condições de continuar como primeiro-ministro e, portanto, nesse quadro, temos de ter muita reserva e deixar a António Costa o espaço para ele tomar as decisões que entender. Os socialistas gostam de António Costa e estão sempre na expectativa de ele poder ser útil ao PS nas batalhas que temos que enfrentar.

Nas europeias seria um cabeça de lista que o PS podia aproveitar.

Com certeza. Mas também temos outros potenciais candidatos que são muito bons. Não vamos começar a dizer que António Costa era o melhor diminuindo outra solução.

E em relação a Eurico Brilhante Dias, está disponível para integrar as listas às legislativas, para continuar a ser a líder parlamentar?

Cada ciclo tem as suas equipas e não vou falar sobre as equipas do próximo ciclo. Isso não faz sentido.

Mas está disponível?

Estou disponível para o meu partido, sempre. Como líder parlamentar tenho responsabilidades acrescidas. Levar uma equipa coesa até o fim. Continuo absolutamente disponível para ajudar o meu partido, para ser um protagonista político como fui até agora, e para estar ao lado do secretário-geral.

No Governo também, tendo em conta que já foi secretário de Estado?

Não devemos andar a queimar etapas. Não pedi para ser secretário de Estado, não pedi para ser líder parlamentar. A vida foi acabando por me apresentar desafios que foram sempre encarados dessa forma, com responsabilidade política. Apoiei o António José Seguro para secretário-geral e isso não me diminuiu como deputado, muito pelo contrário.

Há uma coisa que eu preservo sempre e isso é muito importante. É uma absoluta liberdade. E por isso foi com absoluta liberdade que apoiei o António José Seguro, que afirmei a minha posição como contrária à constituição da “geringonça”. Fui sempre solidário com o partido e no momento em que entendi que devia fazer uma escolha, fiz a minha escolha.

O pior que pode acontecer é termos militantes socialistas que num debate interno entre personalidades e perspetivas diferentes de evolução do partido e da política portuguesa, se sentem coartados.

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