Entrevista Rita Valadas

Pessoas sem-abrigo. "Agora temos famílias na rua e crianças desacompanhadas"

20 dez, 2023 - 06:00 • Ângela Roque

Presidente da Cáritas Portuguesa diz que é urgente combater a “desesperança” que se sente no país, quando ter trabalho já não garante que se escape à pobreza. Entre as mais de 120 mil pessoas que a instituição católica apoia, há cada vez mais migrantes. Para Rita Valadas, a revisão em baixa da inflação e a manutenção das taxas de juro são “boas notícias”, mas vão levar tempo a traduzir-se na vida real das pessoas. Lamenta que o IVA zero não tenha protegido os mais vulneráveis, com a subida constante dos preços a obrigar muitas famílias a cortar nos cabazes alimentares.

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Entrevista a Rita Valadas
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A crise na habitação é das mais urgentes a resolver em Portugal. Em entrevista à Renascença, a presidente da Cáritas Portuguesa, Rita Valadas, diz que há “famílias na rua - que não havia - e crianças desacompanhadas".

Rita Valadas confirma que o fenómeno dos sem-abrigo cresceu em zonas do país onde não existia. Do que observa em Lisboa, diz que entre os que dormem na rua, agora com recurso a tendas, há hoje mais estrangeiros, mais famílias e mais crianças sozinhas.

Em tempo de balanço, a presidente da Cáritas diz que a instituição apoia mais de 120 mil pessoas em todo o país e sente "uma grande desesperança nas pessoas", após sucessivas crises. Algumas já desistiram de pedir ajuda.

Foi, recentemente, reconduzida para um segundo mandato como presidente da Cáritas, numa fase em que tem acontecido de tudo: uma pandemia, duas guerras, agora esta instabilidade política no país...

Com aumento do custo de vida e as taxas de juro...

Com tudo o que tudo isto acarreta. Estes são fatores externos, mas condicionam também a atuação da Cáritas?

Claro que sim, porque os desafios são cada vez maiores. Eu também tinha estado na Cáritas entre 2006 e 2011, que foi outra crise, mas quando estamos a trabalhar e o contexto é uma crise, é uma situação, focamo-nos na resolução daquela situação/problema e no que ela acarreta. Quando as crises são sucessivas e arrastam umas para cima das outras, temos de encontrar respostas sucessivas, alguma criatividade, procurar novas soluções que envolvam não só o contínuo de cuidar de quem já foi arrastado pela crise que antecedeu, mas também por todas as outras que vêm surgindo. À medida que esta situação se complexifica temos esta noção de que a cada vez mais temos de ser muito abertos, estar alerta, porque a qualquer momento pode acontecer qualquer coisa. Por isso temos de cuidar do passado e preparar o futuro em continuidade.

Há problemas que se repetem, mas também há problemas novos?

Sim. A situação pandémica começou por ser uma situação de saúde. No primeiro dia da situação pandémica, percebemos que não era só de saúde, porque houve pessoas que tiveram de ficar em casa e que dependiam de sair para poder ganhar dinheiro. Depois, há situações que acreditamos que talvez possam ter uma certa pontualidade, um apoio atento, no primeiro momento pode resolver a situação, mas à medida que as coisas se prolongam percebemos que temos de encontrar apoios de resiliência e de preparação de emergência. Este equilíbrio foi realmente um desafio enorme neste mandato.

Chegados a dezembro de 2023, como é que olha para 2024, sendo que praticamente todos os dias há dados novos sobre a economia?

Eu também aprendi que não é possível preparar nada. Aquela grande convicção de que é preciso ter tudo muito bem planeado não nos resolve o problema agora e, por isso, olho para 2024 com muita esperança, sempre, porque acho que o verbo 'esperançar' é o único que nos salva, mas também consciente de que ninguém pode deixar de estar atento e alerta. Aliás, todas as mensagens do Papa vão nesse sentido: não deixe de olhar, não deixe de ver, tem coragem, e eu revejo-me muito nisso.

"Aprendi que não é possível preparar nada. Aquela grande convicção de que é preciso ter tudo muito bem planeado não nos resolve o problema"

Dos dados que vão chegando, há alguns que são positivos, ou menos negativos. É certo que o governador do Banco de Portugal avisou há dias que os próximos tempos vão ser ainda de muito aperto financeiro. Mas, por exemplo, a inflação foi revista em baixa pelo INE, houve a manutenção das taxas de juro. Isto são dados que dão algum ânimo?

E são as nossas sementes da esperança! Essas questões mais macro da economia são importantes por aquilo que podem ter reflexo no futuro. Mas, temos de estar conscientes de que estas macro boas notícias demoram bastante a chegar às pessoas mais vulneráveis.

Levam tempo a concretizarem-se na vida real?

Aliás, este tempo arrastado vivemo-lo com muita dificuldade, porque era as pessoas a sentirem grandes dificuldades, situações de pobreza - e de pobreza extrema - , mas com os dados macroeconómicos a serem constantemente divulgados como se vivêssemos no paraíso da economia! Na prática, isso no território não se sente, e demora a sentir-se. Mas são as nossas sementes de esperança, porque antecipam que pode haver boas notícias dentro em breve.

Sabemos, por exemplo, como estão os preços dos alimentos, e também sabemos que vem aí a reposição do IVA...

Esse é um bom exemplo daquilo em que as pessoas têm esperança e que depois não acontece. Na verdade, não assistimos a uma grande diminuição do preço dos alimentos. Os cabazes continuaram a subir.

E há produtos, como o azeite, em que o preço está astronómico...

O azeite, a pescada. alguns legumes... Eu não sou economista, mas olho para o território com muita proximidade e, de facto, o que acontece aqui... não sei se tem grande influência se o IVA é zero ou IVA é 23%, embora me custe perceber que há bens de primeira necessidade que têm um IVA altíssimo. Há uma preocupação política do governo que deve cuidar daquilo que é essencial. O que é acessório é diferente, mas aquilo que é essencial devia ter uma proteção maior.

Mas, de facto, não foi o IVA zero que protegeu as famílias mais vulneráveis, com cabazes a subir constantemente, não conseguimos a proteção que se esperava que pudesse acontecer com o IVA zero, porque os preços dos alimentos sobem. E sobem, não tem a ver como IVA que têm, tem a ver com o custo que os produtores conseguem fazer sobre eles e com a forma como a economia, a oferta e a procura se articulam naturalmente.

Mas isso tem um grande impacto na vida diária das pessoas...

Tem. As pessoas prescindiram de muitos géneros alimentares que eram absolutamente essenciais à saúde - ou à alimentação equilibrada e, portanto, à saúde - de novos e velhos. Porque temos crianças que precisavam de ter uma alimentação robusta para poder ter bons resultados para si próprio, para a escola, para tudo, para a sua vida, temos pessoas doentes que precisavam também disso e que não puderam fazê-lo. Foi visível para nós a forma como as pessoas deixaram até de ter vergonha de dizer: 'eu já não compro isto ou aquilo', peixe e outras coisas que são importantes para a base alimentar.

Lembro-me que, no primeiro ano, quando a escola começou [no pós-pandemia] ficámos todos contentes a pensar: 'pelo menos estas crianças vão ter uma refeição na escola que é equilibrada'. Mas, as escolas e instituições sofreram imenso com o aumento do custo de vida. Gerir instituições e cantinas com um orçamento que estava pré-definido deve ter sido um enorme desafio.

"Não foi o IVA zero que protegeu as famílias mais vulneráveis"

Os dados da pobreza nos últimos anos também nos têm indicado que há cada vez mais pessoas pobres, apesar de trabalharem. Os pedidos de ajuda que vos chegam continuam a refletir isto?

Não houve nenhuma mudança em relação a isso. Temos consciência que o primeiro estudo que deu isto foi um murro no estômago enorme. Mas é neste momento um dado adquirido que temos todos que olhar com muita seriedade, porque não faz sentido.

Já nos habituámos a aceitar?

É um dado que quando olhamos para uma situação de uma família temos de ter em conta. Habituar não, nunca. Acho que aí devemos mesmo ser uma consciência ativa, tem de haver alguma reação. Mas, a verdade é que quando era jovem, e se falava da procura de emprego, eu tinha a certeza que um emprego era o afastamento de uma situação de vulnerabilidade, e hoje não. Não é o emprego e já há pessoas que ponderam se vale a pena empregarem-se e depois encontrarem soluções para cuidar dos filhos, e não estar ao pé dos filhos, quando o emprego não lhes dá solução de vida.

Apesar destes dados da pobreza, o governador do Banco de Portugal diz que os salários estão nos níveis mais elevados que alguma vez foram pagos. Isto revela que ganhamos miseravelmente, em termos coletivos?

Revela isso e também revela que não podemos olhar só para o rendimento sem olhar para os custos. Se compararmos que o aumento do custo de vida foi o que foi, não sei se temos os mesmos resultados em termos do rendimento.

E também revela aquilo que, para mim, tem sido uma das principais preocupações que é olhar com uma atenção teórica para os dados. As taxas não querem dizer nada na vida das pessoas. A prova disto é que temos vindo a variar algures entre 16% e 20% nos dados da pobreza, mas não alterou nada no território.

Por isso ,a nossa preocupação, da Cáritas, é cada vez mais 'olhar perto' e olhar as pessoas, porque muitas das dificuldades que existem nos territórios tem a ver com pessoas que lutam até a última das suas forças para não depender de um apoio que acham sempre que não têm direito, porque não são pobres. As pessoas ainda olham para a sua situação de grande dificuldade, como não sendo evidente que são pobres. Por isso, temos de estar ainda mais atentos.

Há uma coisa que eu acho muito importante e preocupante, que é haver alguma desistência das pessoas em relação a procurarem soluções, porque o emprego não é solução, não querem depender de um apoio sócio-caritativo em permanência , aceitam pontualmente, mas quando ele não resolve a situação, fecham-se em si próprios e desistem.

Eu sinto que há, por oposição a esperançar, uma grande desesperança nas pessoas que têm vivido desde 2020 até agora em crises sucessivas e não conseguem resolver a sua situação/problema e não veem solução para os seus filhos, com as questões da habitação. Por exemplo, os jovens saem cada vez mais tarde de casa, dificultam o seu futuro e angustiam a família inteira.

Sinto que o grande combate que temos neste momento é em relação a esta desesperança a que se assiste, porque também acreditamos que as redes que existem nos territórios - eu falo pela Cáritas, mas há várias instituições que lutam diariamente pelo salário digno, pelo emprego digno e pela vida digna dos jovens, para que o futuro de Portugal possa ser melhor.

A questão da habitação é, talvez, das mais urgentes neste momento na sociedade portuguesa. Quem vive numa grande cidade como Lisboa, vamos observando mais gente a viver na rua. Há muitos pontos da cidade que têm tendas, têm estendais a partir de determinada hora do dia. Qual é qual é a perceção da Cáritas relativamente a esta questão da habitação em relação a estas pessoas que são obrigadas a ir para a rua?

Nós temos duas realidades: em determinada altura da nossa história, houve muito investimento em habitação social, e isso deixou de acontecer. Embora haja números em relação a fogos construídos, não me parece que haja grande evidência disso. É verdade que os sem-abrigo sobem. Já houve tempo em que acompanhei bastante este fenómeno, inclusive fizemos uma contagem sincrónica e diacrónica das situações de sem-abrigo na cidade. Agora não tenho dados, mas sei que há situações diferentes.

Quando estava mais perto deste fenómeno, conseguimos descrever a pessoa sem-abrigo como sendo maioritariamente homem, à volta de 50 anos, sem relações familiares e 80% com problemas de dependência ou de saúde mental. Neste momento não é a isto que se assiste.

O retrato/perfil já não é esse?

Não. Neste momento, para já começou a haver tendas. Não havia tendas, as pessoas não dormiam em tendas e os que ficavam na rua usavam cartão, cobertores. A tenda, como as pessoas se podem esconder mais, é mais fácil desistir e ficar na rua com uma tenda do que ficar na rua sem nada. Depois temos muitos estrangeiros, temos famílias na rua - que não havia - e temos já crianças desacompanhadas. Relembro que o IAC [Instituto de Apoio à Criança] começou exatamente por haver grupos de crianças desacompanhadas a estar na rua, mas não era uma caraterística do fenómeno. Neste momento já se veem tendas, estendais e crianças a brincar na rua, falam-se outras línguas, às vezes o contacto é mais difícil.

Mas, isto será só pela via da imigração?

Não cresce só por causa da imigração, mas, naturalmente, para muitas pessoas que vêm para este país e que são de países mais frios, até é relativamente simples viver na rua, porque não é frio para elas. Mas, como lhe digo, não conheço a realidade do fenómeno, é só por observar.

O fenómeno dos sem-abrigo não existia, ou era perfeitamente residual noutras partes do país, mais ligado às questões da dependência e da saúde mental. Hoje acontece em todo o lado e até em sítios onde isso nunca aconteceu. Pequenas cidades, e até aldeias, estão a ter grupos de pessoas - porque estas pessoas vêm em grupos, que ficam na rua, nos jardins, e ninguém está preparado, porque nunca teve de se trabalhar este problema nessas zonas. Não havia respostas de emergência fora dos grandes centros.

Foi preocupação da ministra da Segurança Social criar uma rede de CAES - Centros de Acolhimento de Emergência Social - que não tem cobertura total, mas já existem alguns. Mesmo a Cáritas tem algumas situações que foram criadas exatamente para resolver este problema que nunca houve nos territórios mais fora dos grandes centros.

Quem é que procura mais a Cáritas hoje em dia?

Não há uma tipificação. Era bom que houvesse, porque isso significava que podíamos especializar-nos na resposta. Temos cada vez mais é que ter uma resposta mais aberta.

Nós recebemos todas as pessoas, não distinguimos quem apoiamos por nenhum fator, nem por raça, nem por religião. Portanto, é normal até as pessoas que vêm de outros países já terem uma referência, porque é uma rede internacional. A referência Cáritas é uma referência de proteção que as pessoas já trazem.

E chega-nos tudo: temos, de facto, uma grande pressão de estrangeiros, mas não há uma tipificação. Não lhe posso dizer se vêm porque não têm casa, não têm condições de sustentar a família ou porque têm crianças que precisam de proteção. É tudo.

Mas aumentou esse número de imigrantes?

Aumentou tudo: a complexidade, o número de pessoas, quer nacionais, quer estrangeiras. Mas, nas nacionais, o aumento não é tão exponencial, e quando fomos avaliar assim, casuisticamente, algumas situações, foi quando nos deparamos que há pessoas que estão a desistir. E isso para mim é uma grande preocupação.

Quando as pessoas pensam: 'vou ter coragem, vou pedir à Cáritas', já desistiram de muita coisa. Mas, quando vão uma vez, duas ou três e sentem que continuam a precisar e que não têm as ferramentas para resolver o problema, desistem, fecham-se, e isso convoca todos. Temos de olhar para os nossos vizinhos. Alguma coisa destas pode estar a acontecer.

Isso tem levado a Cáritas a fazer um movimento inverso, ou seja, percebendo que não é procurada, ir ao encontro?

Sempre que temos recursos, sim. Quer dizer, se uma pessoa que sabemos que tem muitas dificuldades desaparece, vamos naturalmente à procura dela. O problema são aquelas que não conhecemos, por alguma razão.

Há um universo contabilizado de pessoas a quem a rede Cáritas chega no país?

Muito dificilmente. Temos vindo a tentar desenvolver uma ferramenta que possa ser utilizada por pessoas com poucas competências digitais. O nosso problema está aí. Os nossos alertas e alarmes são feitos numa proximidade por quem não está sentado ao computador. Por isso, os únicos números certos que temos são os que têm a ver com as prestações e os apoios que damos. 2024, para mim, é o ano em que vamos encontrar essa solução. Porque todos os nossos parceiros precisam dessa informação. Mesmo para preparar respostas sociais e antecipar problemas, precisamos disso.

Temos aqui ao colo uma eventual solução, porque o sistema que temos neste momento é muito difícil de utilizar para pessoas que não têm competências digitais, portanto, não temos números certos. Temos ideia de que é um número mais ou menos regular, que são 120 mil pessoas que apoiamos, mas eu acho que está muito longe da verdade.

"Aumentou tudo: a complexidade, o número de pessoas, quer nacionais, quer estrangeiras"

Falamos dos problemas concretos das pessoas, mas as instituições sociais também enfrentam dificuldades. Em termos de donativos, qual é a situação? Houve uma diminuição?

Houve uma brutal diminuição.

Brutal?

Sim. Nós temos um programa que é o 'Vamos inverter a curva da pobreza', que apoia as famílias com várias dificuldades, é um programa de emergência, para pagar rendas, águas, luzes, essas coisas que deixam as pessoas em desespero, com medo de perder a casa. É um programa que apoia a ação das Cáritas Diocesanas, porque são situações diferentes daquelas que elas já acompanhavam, que apareceram com todas estas crises sucessivas e arrastadas. E esse programa não pode neste momento deixar de existir. É um programa que vive de donativos, e este ano abrimos uma campanha e tivemos muito pouca resposta. Estamos agora á procura de soluções.

É natural (a falta de resposta), porque muitos dos nossos doadores também viram a sua situação muito dificultada, sobretudo pelo aumento do custo de vida e das taxas de juro. Por isso, o desafio agora é grande, mas havemos de conseguir encontrar uma solução.

Aquilo que eu alerto sempre é: não desistam de se aproximar da Cáritas, mesmo que achem que não podem dar um donativo como gostariam de dar. Qualquer donativo faz toda a diferença.

Nesta altura também está a decorrer a campanha "10 milhões de Estrelas - um gesto pela paz".

Sim, ainda não temos os resultados, mas está a correr bem. Esta campanha pretende deixar em cima da mesa de todos os valores da paz, e ao mesmo tempo emprestar uma luz, que é construída a partir de uma vela, que é vendida por 2 euros, e a diferença entre o custo que conseguimos ter da vela e os 2 euros é dada diretamente a cada diocese que a vai vendendo em 65%. 35% são para projetos internacionais.

Criámos o programa Laudato Si, e os países de língua oficial portuguesa podem candidatar projetos que tenham a ver com a Casa Comum, com a água e a agricultura, e este ano foram 13 mil euros para fazer a diferença em comunidades enormes. É isto que quando se compra uma vela se tem, a possibilidade de apoiar a diocese e a possibilidade de apoiar os países de língua oficial portuguesa.

A rede Cáritas é fundamental para apoiar os portugueses. Há consciência dessa importância no meio político?

Eu acho que as pessoas têm ideia de que Cáritas é uma marca importante e segura, que têm confiança que todos os apoios que são dados à Cáritas são empregues naquilo que que as pessoas gostariam de apoiar.

Com as empresas, por exemplo, desenvolvemos quase um programa de campanha à medida. As empresas gostavam de apoiar mais para alimentação, ou mais para crianças, e nós adaptamos isso para poder, não só dar contas muito certas daquilo que nos é entregue para determinado fim, e também facilitar o acesso às evidências que temos da forma como empregamos este dinheiro. Agora, a consciência que tenho, cada vez que falo sobre Cáritas é que, muitas vezes, as pessoas não sabem, de facto, o que é Cáritas e a comunicação social é importantíssima para isto.

"Há pessoas que estão a desistir. E isso para mim é uma grande preocupação."

Que mensagem deixa aos portugueses para o Natal e para 2024? E tendo em conta que que vêm aí eleições, que conselho daria a aos políticos, aos partidos, para a campanha eleitoral? Estas questões sociais deviam estar mais presentes no discurso, mas sobretudo na atenção dos políticos?

Em relação ao ano de 2024, uma das minhas descobertas é a fragilidade que temos em seduzir os jovens. Para mim é é perfeitamente óbvio que os jovens querem ter uma participação ativa, mas de co-construção. E nós vamos tentar fazer isso com a Cáritas. Já temos a Cáritas Jovem, mas vamos tentar fazer isso mesmo nas equipas de direção.

É um objetivo para 2024?

É. No que diz respeito às campanhas políticas que aí vêm, dizer que não se esgotem só nas medidas grandes, vão olhar os territórios. Há uma representação supostamente de proximidade, os deputados representam determinados territórios, vão conhecê-los, mas rua a rua, pessoa a pessoa, não tenham medo. A proximidade é o único trunfo que eu acredito que pode ajudar-nos a ter uma clareza na forma como devemos resolver os problemas.

Às pessoas eu acho que a questão é... vivemos tempos muito difíceis, mas não estamos sozinhos em lado nenhum. Estamos até juntos nas dificuldades. Se puderem dar tempo, bater à porta do vizinho, saber como é que está tudo - mesmo que seja um vizinho refilão, que também os temos -, aproximem-se, porque uma palavra e algum tempo pode fazer toda a diferença.

E se tiverem algum alarme, algum alerta, alguma preocupação aproximem-se da Cáritas. também e partilhem isso, que vamos tentar encontrar caminhos de proximidade sempre. Para todos.

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