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Luta contra a xenofobia, oposição à “ideologia de género” e apoio à Ucrânia separados por muito pouco

24 fev, 2024 - 21:33 • João Mira Godinho

Foi uma tarde de protestos em Faro. A capital algarvia recebeu, primeiro, uma manifestação de luta contra a xenofobia e uma marcha que exigia a “ideologia de género” fora das escolas. Duas horas depois, e no mesmo local, foi a vez de se realizar uma ação de apoio à Ucrânia, no dia em que se assinalaram dois dias sobre o início da invasão russa. A participação popular é que foi escassa.

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Perto das 15h00 deste sábado, hora a que estava marcado o início da manifestação contra a xenofobia e o rascismo, em Faro, poucas eram as pessoas junto ao coreto do jardim Manuel Bívar. Tradicionalmente, as ações de protesto na capital algarvia não atraem muita gente. E, numa tarde marcada por alguns aguaceiros, a tradição cumpriu-se.

Terão sido cerca de três dezenas as pessoas que, no Algarve, responderam ao apelo do Grupo Contra o Racismo, a Xenofobia e o Racismo, que convocou o protesto para sete cidades: além de Faro, Lisboa, Porto, Guimarães, Braga, Coimbra e Viseu. Reflexo da referida tradicional pouca adesão farense a protestos ou, talvez, um sinal dos tempos.

“Com o crescimento da imigração em Portugal, as pessoas sentem medo, porque é algo desconhecido, veem pessoas que se calhar não são tão parecidas com elas e isso traz-lhes algum medo. Presumo que seja essa a causa desta controvérsia quem tem existido”, explicou Catarina Florido, para quem o racismo e a xenofobia tem crescido em Portugal, associado “a um discurso de ódio por parte de alguns políticos”.

O protesto deste sábado pretendeu, precisamente, por esse crescimento “dá extrema direita”, numa altura em que se aproximam as eleições legislativas, agendadas para 10 de março.

Ideologia de género

À mesma hora (15h00), começava, junto ao Tribunal de Faro, a marcha a contestar a imposição da “ideologia de género” na escola pública. O protesto, promovido pelo movimento Acordai! Pelas Nossas Crianças, teve como destino o jardim Manuel Bívar e cruzou-se, sem incidentes, com a manifestação contra a xenofobia e racismo.

Braga, Viana do Castelo, Porto e Lisboa foram as outras cidades onde se realizaram marchas semelhantes. A do Algarve terá contado com cerca de meia centena de pessoas, que pretenderam alertar as famílias para a “endoutrinação dos alunos, naquilo que consideram ser uma “pura ideologia” que está a ser colocada na cabeça das crianças.

Em causa, a abordagem sexual, nas escolas, em crianças demasiado jovens. Em particular, critica o movimento, a “invenção de inúmeros géneros”, para além dos dois “claranebte definidos”: homem e mulher.

Solidariedade com a Ucrânia

A tarde de protestos, em Faro, encerrou pelas 17h00, com uma ação de apoio à Ucrânia, no dia em que se cumpriram dois anos desde a invasão russa àquele país. Mais uma vez o jardim Manuel Bívar foi o palco. E o número de participantes não terá ultrapassado as cinco dezenas. A maioria ucranianos radicados no Algarve.

“Estamos muito agradecidos a Portugal pelo apoio que nos tem dado”, garantiu, à Renascença, Nataliya Borysenkova, membro da Associação Ucranianos em Portugal, enquanto os compatriotas entoavam cânticos tradicionais do país de origem.

“Putin não se convence que a Ucrânia é outro país, que não somos russos estragados, que ninguém nos vai endireitar. Não somos nazis. Temos direito de falar ucraniano, de ter a nossa cultura. Termos direito de dicidirmos quem somos e para onde vamos”, acrescentou Nataliya.

Este protesto, que também se realizou em diversas cidades portuguesas, procurou “manter a atenção no conflito, lembrar que a guerra continua na Ucrânia” e também que é importante continuar a apoiar o esforço defensivo dos ucranianos, caso contrário Putin “vai chegar à fronteira com a Polónia”, alertou Natalia Borysenkova.

Três protestos diferentes, no mesmo local, quase à mesma hora. Sem incidentes, apesar da pouca presença policial e da diferença de ideias dos participantes.

Talvez, mais do que tudo, um sinal de que, em 2024, em Portugal, “cada um é livre de se expressar como quiser”, resumiu à Renascença Catarina Florido.

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