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Ilda David: "Na escola das Belas-Artes havia estranheza em relação a mim, porque havia anjos nas minhas gravuras"

29 nov, 2023 - 21:27 • Ana Catarina André

A pintora, descrita por Mário Cesariny como “musa do século XIII”, foi a convidada desta semana do ciclo de conversas “E Deus em Nós?”, moderado pela jornalista Maria João Avillez na Capela do Rato, em Lisboa.

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A pintora Ilda David contou que desde cedo a pintura e o desenho a fizeram sentir-se acompanhada. “É esse diálogo que [me] anima, mas que é também uma teimosia, um sentimento de ir descobrindo, de ir fazendo caminho”, disse, na última das quatro sessões do ciclo de conversas “E Deus em Nós?”, moderado pela jornalista Maria João Avillez, na Capela do Rato, em Lisboa.

“Quando estava na escola das Belas-Artes, havia uma certa estranheza em relação a mim, porque havia anjos nas [minhas] gravuras. Eram alusões a passagens da Bíblia. Mesmo antes, era um motivo que gostava de usar”, contou.

“A palavra e a imagem estão totalmente ligadas no meu trabalho. Às vezes, procuro leituras por causa do que estou a fazer – uma coisa acompanha a outra.”

Ao longo da entrevista, Ilda David falou ainda sobre a amizade com Mário Cesariny que a descrevia como “musa do século XIII”.

“Desde essa altura, tenho muita atenção ao século XIII”, disse, entre risos, contando que nunca chegou a perguntar-lhe pela razão desta designação. “O ateliê dele era um sítio incrível. Era completamente preenchido com objetos que se relacionavam uns com outros. Do lixo, ele fazia obras incríveis. Isso marcou-me.”

Questionada sobre a publicação de “Histórias Escolhidas da Bíblia”, com textos do cardeal Tolentino Mendonça e ilustrações suas, Ilda David contou como foi afinando os desenhos. “Houve muitas tentativas até que começámos a chegar a soluções que faziam sentido”, disse, contando que tem tido “muita sorte com as grandes amizades” que tem feito ao longo da vida.

A artista de 68 anos recordou, ainda, a infância no Ribatejo e as paisagens dessa altura que a “acompanham sempre”.

“Depois, quando vim para Lisboa, fiquei apaixonada pelo céu [da cidade]. Estava sempre em estado de admiração, sobretudo no outono, quando a luz cai devagarinho”, contou.

Ilda David recordou também o papel que a avó teve na sua infância e no seu despertar artístico: “No Natal, saíamos para apanhar musgo e plantas que serviam de paisagem ao presépio. Era tudo feito com muita preparação. A minha avó tinha esse lado.”

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