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Quando a democracia "parece abanar", teatro apresenta "Guião para um País Possível"

07 dez, 2023 - 07:40 • Maria João Costa

Estreia esta quinta-feira em Viana do Castelo e vai percorrer o país em 2024, o ano em que Portugal celebra 50 anos do 25 de Abril. “Guião para um País Possível” é a nova peça encenada por Sara Barros Leitão. É inspirada nos diários da Assembleia da República. “A democracia é a arte do possível”, diz à Renascença a atriz.

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Foi num dia 25 de Abril de 2022 que Sara Barros Leitão se lembrou de fazer uma peça “Guião para um País Possível”. A atriz e encenadora, que venceu, em 2020, a primeira edição do Prémio Revelação Ageas/Teatro Nacional D. Maria II, questionou-se sobre o que fazem dois funcionários sentados, no centro do Parlamento, numa secretária e que têm a missão de transcrever as sessões.

À Renascença, Sara Barros Leitão explica que resolveram “fazer um espetáculo que vai desde o 25 de Abril de 1974, até aos dias de hoje, registando tudo o que foi dito na Assembleia da República a partir dessas transcrições”.

A criadora do espetáculo que sobe ao palco do Teatro Municipal Sá da Bandeira até dia 10 explica que as transcrições “têm indicações que parecem já uma peça de teatro. Têm aplausos, protestos e à partes que parecem didascálias”.

“Guião para um País Possível” é um espetáculo criado a partir desses registos e implicou a leitura de centenas de diários da Assembleia da República. A protagonizar a peça estão os atores João Melo e Margarida Carvalho. A obra, indica Sara Barros Leitão, celebra 50 anos de liberdade.

Sobre a democracia, Sara Barros Leitão considera: “Não sendo o sistema mais perfeito, é aquele que temos e é o melhor que conhecemos”. Na opinião da encenadora, a democracia “é a arte do diálogo”. Reconhecendo que “é muito difícil fazer trabalho associativo ou trabalhar com os outros e encontrar aquilo que nos une”, a atriz considera que, na sua perspetiva, “a democracia é a arte do possível”.

Ao ler, na internet, os diários da Assembleia da República, Sara Barros Leitão despertou para a vontade de fazer esta peça que é também “uma viagem pela democracia com a lente daquilo que foi também uma conquista da democracia que foi uma Assembleia plural”. Tratou-se de um “ano de pesquisa”, em que olharam para “acontecimento marcantes, mas também pequenos acontecimentos que não ficaram para a História”.

Isso é tudo levado ao palco, numa peça que é levada à cena numa altura em que o país tem um Governo demissionário. “Uma coincidência”, refere Sara Barros Leitão, que explica que “Guião para um País Possível” é um título que “brinca com um livro de Ruy Belo, ‘O País Possível”.

A peça, que em 2024 vai percorrer o território e passar por cidades como Lisboa, Coimbra, Viseu, Vila Real, Leiria entre outras, faz também um balanço de 50 anos de democracia. “Devemo-nos orgulhar”, sublinha a atriz sobre a “democracia com alguma maturidade” que temos em Portugal.

Nestes 50 anos, há um documento que foi guião, indica Sara Barros Leitão. “Ao passarmos os olhos por esta história e lermos aquilo que foi o sonho de criar uma Constituição, percebemos que hoje, 50 anos depois, a nossa democracia pareça estar a abanar, mas há um documento que nos permite não cair completamente, que se chama Constituição da República Portuguesa”.

Por opção, Sara Barros Leitão preferiu olhar no espetáculo para a Constituição e omitir qualquer referência à atual situação política. Embora afirme que “a realidade está acima de qualquer projeto e que consegue sempre surpreender-nos”, a encenadora deixou de fora do palco, a política doméstica atual.

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