Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Fernão Mendes Pinto, o "herói pícaro" chega ao cinema pela lente de João Botelho

30 mai, 2017 - 06:00 • Marília Freitas

Já filmou “Os Maias”, “O Livro do Desassossego” e Frei Luís de Sousa. Agora, João Botelho apresenta no grande ecrã, “A Peregrinação”, escrita por Fernão Mendes Pinto no século XVI. O filme estreia esta quarta-feira. A Renascença acompanhou um dia de filmagens.

A+ / A-
Fernão Mendes Pinto, o "herói pícaro" pela lente de João Botelho
Fernão Mendes Pinto, o "herói pícaro" pela lente de João Botelho

“Estou velho. E quanto mais velho estou, mais me interessa fazer filmes sobre obras que são importantes para o meu país”. João Botelho fala junto à nau quinhentista, em Vila do Conde. É o cenário de algumas gravações de “Peregrinação”, o novo filme do realizador, que adapta a obra de Fernão Mendes Pinto ao cinema.

Não é a primeira vez que Botelho se debruça sobre clássicos da literatura portuguesa. Já o fez com “Os Maias”, “O Livro de Desassossego”, “Frei Luís de Sousa”, entre outros. Desta vez, diz, interessou-se “pelo primeiro grande livro de viagens, o primeiro best-seller português, uma saga enorme sobre as aventuras dos portugueses no século XVI”.

O herói é Fernão Mendes Pinto, “um herói pícaro”, nas palavras de João Botelho, num filme que combina aventura, drama e até música.

Para o realizador é “um espécie de introdução à “Peregrinação””. “Acho que as pessoas, quando virem este filme, vão ter vontade de ler” o livro, afirma em entrevista à Renascença.

Um Sancho Pança e um coro de marinheiros

Inspirado pela adaptação de Aquilino Ribeiro, João Botelho dividiu o filme em três partes. A primeira centra-se em Fernão Mendes Pinto, nas suas conquistas e perdas consecutivas. Na segunda surge o mal, personificado por António Faria, uma espécie de heterónimo malvado de Fernão Mendes Pinto, criado por Aquilino Ribeiro. A terceira parte retrata “a ideia da colonização perversa que os portugueses fizeram: numa mão a espada, na outra o Cristo”.

Botelho introduziu ainda um outro personagem, “uma espécie de Sancho Pança do Dom Quixote”. “É um tradutor malaio que sabe as línguas todas, mas que também critica algumas atitudes do Fernão Mendes Pinto”.

Há também um coro a cantar músicas do álbum “Por este rio acima”, de Fausto Bordalo Dias. “O texto de Fernão Mendes Pinto é musical e isso permite que, de vez em quando, numa batalha, se anuncie a batalha cantando, ou se interrompa a batalha cantando, contando o resto”, diz o realizador. A utilização da música é também uma forma de contornar a dificuldade de filmar algumas cenas de acção.

Paisagens filmadas no Oriente, acção em Portugal

As limitações de orçamento e de meios levaram à rodagem do filme em duas fases. A primeira decorreu no Verão passado, no Oriente (China, Macau, Japão, Índia, Malásia, Vietname e Indonésia). Uma equipa reduzida filmou as paisagens exteriores que servirão a muitas das cenas desta longa metragem.

Seguiram-se dois meses de rodagem em Portugal das cenas protagonizadas com os actores, não só portugueses, mas também chineses e turcos. As filmagens passaram por Sintra, Vila do Conde, Carrasqueira, Sesimbra, Tomar, Torres Novas, Almada e Lisboa.

A fase de edição obrigou, por isso, à utilização de vários efeitos especiais. Em comunicado, a produção admite o recurso ao “chroma key para permitir que os barcos construídos em estúdio tenham em fundo as maravilhosas paisagens descritas por Fernão Mendes Pinto.

A “Peregrinação” chega às salas portuguesas a 1 de Novembro.

[Notícia actualizada a 31 de Outubro]

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Deana Barroqueiro
    05 abr, 2018 Lisboa 11:07
    É já de domínio público que João Botelho adaptou, sem a devida permissão da autora e da editora Leya, no seu filme Peregrinação, uma parte do romance de Deana Barroqueiro, "O Corsário dos Sete Mares", com a agravante de referir nos media as inúmeras cenas deste livro, como se fossem da obra de Fernão Mendes Pinto. Botelho admitiu o plágio num e-mail da Ar de Filmes para a editora, porém, continua publicamente a insistir no logro, não dando créditos à autora da obra que lhe serviu de guião. Assim, o filme não pode servir de introdução à obra de Fernão Mendes Pinto, como proclama o cineasta,, porque grande parte das cenas não existem na obra renascentista, mas tão só no meu romance. Ao cotejar o filme de João Botelho com a "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto e com “O Corsário dos Sete Mares”, verificamos que: 1. As cenas do filme que não constam do meu livro são as da morte de Pinto e as da mulher e filhos, tal como a cena das “mantas” voadoras”. 2. As restantes cenas e personagens femininas do filme, exceptuando a rainha da Etiópia, não existem na “Peregrinação” de FMP, são do meu romance, inventadas por mim ou ficcionadas a partir de sugestões do original ou fruto da pesquisa que fiz em documentos portugueses e do Oriente. 3. Não existe nenhuma violação, por António de Faria, na “Peregrinação”, como Botelho afirma que há, numa das suas entrevistas. A violação está no meu romance, embora praticada por Pinto – refere-se ao cap. 47 da sua obra, o episódio da «noiva roubada», que é levada com os irmãos meninos para ser vendida ou resgatada por dinheiro, como era costume. Como o seu destino ficava em aberto eu parti deste episódio para ficcionar uns supostos amores de Pinto que acaba por a violar, algum tempo depois, no barco. Botelho seguiu o “guião” do meu livro, embora com alterações. 4. A personagem da amante chinesa, assim como o seu nome Meng e os seus amores, inventei-os a partir da menção feita no livro de Pinto (cap. 116) aos filhos do português Vasco Calvo - «dois meninos e duas moças”. A cena do filme, em que «Meng», com uma bacia de água perfumada com pétalas de flores, a lavar as cicatrizes das chicotadas que Pinto tem nas costas, é um dos episódios do meu romance que considero melhor conseguidos (a sua foto tem sido reproduzida na maioria dos jornais). A única diferença é que João Botelho coloca a cena em Pequim e não na aldeia junto à muralha da China, onde vivem os condenados a trabalhos forçados. 5. Em Pequim, as cenas da moça que toca, canta e convive com Pinto, ensinando-o a ler mandarim. Nada disto existe na Peregrinação, inventei esta personagem e estas cens, incluindo poemas e canções chinesas, de que fiz a tradução, criando de raiz a personagem filha do «monteo» (o capitão chinês que vai levar Pinto e os companheiros para a Muralha). Na obra de Pinto há apenas uma referência à “mulher do monteo”. 6. As cenas das prostituas também não existem na Peregrinação, inventei-as para criar episódios cómicos com Pinto e Cristóvão Borralho. A fala da prostituta sobre a influência do Yin e Yang no sexo, a menção ao Mercado dos Cavalos Magros são do meu romance. 7. Na obra de FMP, nos episódios do Japão, não existe qualquer referência ao suposto casamento de Fernão ou de Zeimoto, nem a Wakasa, que eu encontrei em outras fontes japonesas, depois de grande pesquisa. Ficcionei a história desse casamento, com a ida da personagem ao barco, fazendo dela uma espécie de Madame Butterfly avant la lettre. 8. No filme, Fernão narra a sua 1ª viagem, ainda adolescente, quando servia em casa de uma senhora e teve de fugir para salvar a vida. Apenas isto. Os amores adúlteros e o assassínio de Dona Joana Aires da Silva e de Manuel Freire, o amante, são do meu romance, cuja fonte foram arquivos sobre um escândalo da época. Botelho leva este episódio para o seu filme, embora fazendo de Pinto um segundo amante, a quem a senhora pede que leve um recado … ao amante Manuel Freire. 9. O realizador absorveu ainda outras ideias da minha obra expondo-as como suas: numa das entrevistas, refere-se à magia do número nove, que é um leitmotiv do meu romance. 10. Há ainda outros aspectos, que só podem ser detectados por quem conheça bem os dois livros, como a sequência dos episódios ou juntar as duas viagens a Sumatra num único episódio, como eu fiz. 11. Assim, também me custa a crer que, tendo eu no meu romance as mesmas cenas explícitas da Peregrinação (com textos originais, no início de cada capítulo), Botelho e a sua equipa, depois de terem copiado as inexistentes, tenham tido o trabalho de procurar as das lutas e afins, na imensidade de cenas confusas da obra de Pinto, quando as tinham no meu livro já prontas, com diálogos e tudo.

Destaques V+