23 jun, 2020 - 19:21 • Aura Miguel
No arranque do “Ano Laudato Si”, proposto pela Santa Sé para aprofundar a encíclica publicada há cinco anos pelo Papa Francisco, a Universidade Católica e a Cáritas organizaram esta terça-feira uma conferência online com o cardeal filipino Luís António Tagle. O atual prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos e também presidente da Cáritas internacional, fez uma reflexão em cinco pontos como propostas a aprofundar ao longo do ano.
O primeiro ponto é que “a natureza e missão da Laudato Si, não é ser apenas um texto ecológico, mas sim um contributo que se insere na Doutrina Social da Igreja, com o objectivo de renovar a sociedade, a dignidade humana e o bem-comum”. Por isso, “dirige-se a católicos e não só, porque faz uma abordagem inter-disciplinar, na qual as universidade são chamadas a colaborar”.
Em segundo lugar, a encíclica ajuda a redescobrir o valor e o horizonte do dom. “A Laudato Si opõe-se à mentalidade utilitarista e à manipulação dos bens e até mesmo das pessoas”. É uma encíclica que “combate a cultura do descarte, do usa-e-deita-fora”, disse o cardeal filipino, “não só em relação aos bens materiais mas, infelizmente, em relação às pessoas incómodas ou que se tornam pesadas à sociedade”. A posição do Papa é exactamente o contrário, como se percebe ao longo de todo o texto da encíclica: “Cada pessoa é sempre um dom, independentemente da circunstância.”
“Os dons recebidos devem ser partilhados com os outros”, recorda o cardeal Tagle, por isso, “devem ser reavaliadas as opções económicas, comerciais, os sistemas financeiros, o nosso próprio estilo de vida, os critérios para a publicidade, etc”. E acrescentou: “a pandemia veio trazer à luz muitos desequilíbrios, como acontece, por exemplo, no orçamento de certos países, em que as verbas destinadas à defesa e armamentos são muito mais elevadas do que as usadas para combater desequilíbrios e proporcionar bens essenciais aos mais pobres.”
A Laudato Si coloca-nos no contexto da Criação, revela-nos que “não somos deuses, mas sim criaturas, chamadas pelo Criador a cuidar de todos estes dons”, prosseguiu o presidente da Caritas internacional. “Somos cuidadores e guardiões, não somos donos do planeta Terra”. E a pandemia, também veio clamar “para que sejamos responsáveis pelos dons que Deus nos dá, sem abusos contra a natureza e, sobretudo, contra as pessoas, como se tem visto a propósito do drama dos refugiados”.
A oração inspiradora de São Francisco de Assis, de louvor e gratidão pela bondade de Deus, é um elemento-chave para encarar o futuro. “Dar valor à beleza do universo, nas suas múltiplas expressões, exige simplicidade em reconhecer que tudo nos é dado”, disse o cardeal Tagle. Sobretudo, porque “as próximas gerações também têm o direito de gozar todos estes dons e riquezas”.
No espaço final para perguntas e respostas, o cardeal filipino alertou para a preocupante rapidez das alterações climáticas no mundo e fez votos para que a encíclica Laudato Si “entre em força nos currículos de todas as faculdades e nos programas de estudo e investigação do maior número possível de disciplinas”.