12 dez, 2023 - 19:28 • Lusa
Os médicos de família fizeram esta terça-feira "um balanço neutro" do primeiro ano de atividade da Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS), considerando que "há potencial para fazer mais", apesar da sobrecarga de trabalho.
"Somos menos médicos de família, temos mais utentes sem médicos de família atribuído. (...) A carência de recursos humanos obriga a dar uma maior carga de trabalho para os profissionais que lá ficam e, portanto, a situação não só não melhorou como progressivamente se vai agravando", adiantou à agência Lusa o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Nuno Jacinto.
A DE-SNS, liderada pelo médico Fernando Araújo, tomou posse há um ano, mas só entrou em pleno funcionamento em 1 de janeiro, com a entrada em vigor do Orçamento do Estado.
Fernando Araújo foi presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de S. João, no Porto, e foi secretário de estado do antigo ministro socialista Adalberto Campos Fernandes (2015 a 2018).
De acordo com Nuno Jacinto, a falta de médicos de família tem repercussão nos doentes e sobre os outros clínicos do SNS.
"Se pedirem para fazer um balanço nesta altura, não será um balanço nem positivo nem negativo, é um balanço neutro, com todas estas limitações que a direção executiva foi sentindo, mas pensamos que há potencial ainda para fazer mais, há boas ideias ali pelo meio", realçou.
À Lusa, o dirigente da APMGF apontou para a falta de "alguma capacidade maior diálogo com quem está no terreno" e, em alguns casos, "de correção das estratégias ou, pelo menos, de uma maior explicitação, como é caso das ULS [Unidade Local de Saúde]".
"O problema não será só da direção executiva [do SNS] tem também a ver com a interação com o Ministério da Saúde, com o próprio Ministério das Finanças, que tem sido também aqui muitas vezes um obstáculo a muitas situações", afirmou.
Nuno Jacinto ainda recordou as negociações entre o Governo e os sindicatos representativos dos médicos, dizendo que as perspetivas "não são as melhores".
"Continuamos a olhar com muita apreensão para o futuro a médio e a curto prazo. Tem de haver uma valorização e um respeito muito maior por aquilo que é o nosso trabalho e continua a não haver uma aposta clara nos cuidados de saúde primários. Há muitas palavras bonitas sobre o nosso trabalho, mas depois ações concretas são poucas", acusou.