11 abr, 2023 - 20:11 • Anabela Góis , Pedro Mesquita , Marta Pedreira Mixão
Portugal está a passar por uma onda de calor: em alguns locais as temperaturas estão acima da média já há 10 dias e, no fim de semana, o calor vai voltar.
Segundo o meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera Jorge Ponte, a "atual onda de calor" termina esta terça-feira e, "nos próximos três dias, a temperatura volta aos valores normais para o mês de abril". Contudo, alerta que no fim de semana vamos "ter termómetros a marcar 30 ou mais graus" no interior da região sul e no Vale do Tejo.
"Amanhã já se espera uma diminuição da temperatura máxima, com alguma precipitação ocorrer a Norte e Centro, mais dominante no litoral, que será em geral fraca. Na região Sul, a precipitação não vai ocorrer na maior parte dos locais sequer. E estas temperaturas dentro da média devem manter-se até sexta-feira", explica Jorge Ponte, em declarações à Renascença.
Ondas de calor no tradicional mês das chuvas não é uma situação fora do normal, segundo explica o meteorologista, mas o que é pouco comum é durarem tanto tempo. A atual onda de calor já começou em vários locais - como é o caso do Alentejo - há 10 dias e, em grande parte do país, as temperaturas estão cinco graus acima da média há mais de uma semana.
"[Estas ondas de calor] Não são inéditas. Às vezes, em Abril, quando temos tempo mais anticiclónico, e com sol, acontece as temperaturas máximas subirem até aos valores próximos dos 30 graus, como tem acontecido nos últimos dias. De facto, tem sido é bastante persistente. Esta onda de calor já dura há cerca de nove a dez dias e isso é que poderá não ser tão normal: a persistência destes valores mais elevados", explica o meteorologista.
Jorge Ponte garante que as "temperaturas mais elevadas vão persistir". "Neste momento existe uma clara tendência para que, depois deste período um pouco mais fresco e húmido, principalmente no Norte e Centro, possa ocorrer até alguma precipitação, embora fraca. Depois espera-se que, no fim de semana, volte a haver sol com temperaturas máximas novamente bastante elevadas, sendo que existe depois bastante incerteza".
Abril está a ser um mês quente e seco, numa altura em que a situação de seca meteorológica está a aumentar, sendo pior na região sul, onde os distritos de Setúbal e Beja e alguns locais do sotavento algarvio se encontram em situação de seca severa.
Para o climatologista Carlos da Câmara estes dados são preocupantes, "uma vez que vem na sequência de episódios sucessivos de seca que têm vindo a afetar a Península Ibérica e Portugal, em particular, desde o início do século XXI".
"Temos tido sucessivamente períodos de seca que, hoje em dia se sabe, estão ligados às alterações climáticas. O que acontece é que há episódios de precipitação que, de certa forma, aliviam, mas uma vez que as temperaturas persistem anómalas do ponto de vista positivo - em termos de temperaturas mais elevadas do que o habitual -, o que sucede é que mesmo essa precipitação é retida durante um período de tempo relativamente curto", explica.
Além disso, justifica que este ano, "apesar de ter havido alguma precipitação, até muito intensa, deixou de haver precipitação e temperaturas continuam anómalas", logo com uma "maior evapotranspiração", a situação poderá agravar-se.
"É bom que se perceba que o quadro de possibilidade de haver episódios de seca está a aumentar".
Sem realizar previsões a longo prazo, o climatologista reitera que, "a situação como está agora, começa a apontar para um agravamento nas condições de seca em muitas partes do território". Carlos da Câmara recorda ainda que, nos últimos 10 anos, "esses episódios de seca têm vindo a ser bastante frequentes" e apela a "uma atitude preventiva" e a um olhar atento à "evolução da meteorologia".
No passado dia 31 de março, 48% do território encontrava-se em seca meteorológica, mais 20% do que no mês anterior.