28 jul, 2021 - 16:34 • Lusa
"Obrigada, Otelo" foi a senha no último adeus ao estratego do 25 de Abril, numa cerimónia restrita do crematório de Cascais, antecedida de honras militares, palmas, "Grândola Vila Morena" e críticas à ausência de luto nacional.
Depois do cortejo fúnebre que partiu da Academia Militar, em Lisboa, a urna que transportou o corpo Otelo Saraiva de Carvalho, que morreu no domingo, chegou ao início da tarde ao Centro Funerário de Cascais, em Alcabideche, onde o esperavam dezenas de pessoas e 10 militares da secção de Artilharia Antiaérea N. º1 do Exército.
Ouviram-se três salvas no momento de tirar o caixão, coberto pela Bandeira Nacional, do carro funerário, seguindo-se momentos de silêncio, em homenagem a Otelo Saraiva de Carvalho.
Numa tarja grande e branca, com letras em vermelho-escuro, podia ler-se "Obrigada, Otelo", uma mensagem que foi repetida por muitos dos presentes durante a breve cerimónia que decorreu à entrada do crematório.
Cravos vermelhos, "Grândola Vila Morena" e palmas não faltaram na despedida do estratego do 25 de Abril.
No entanto, e tal como tinha acontecido na Academia Militar, várias pessoas manifestaram o seu desagrado por não ter sido decretado luto nacional pela morte do militar de Abril.
Aos jornalistas, o contra-almirante Manuel Martins Guerreiro, companheiro de Otelo no Conselho da Revolução, começou por afirmar que "o fundamental é que os portugueses sintam e queiram homenagear o Otelo", considerando que isso aconteceu nos últimos dias.
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"É de facto pena que as instituições, os órgãos de soberania não tenham sabido aproveitar esta oportunidade para fazer realmente uma homenagem ao Otelo, o homem que é de facto o símbolo do 25 de Abril", lamentou.
Para Martins Guerreiro, o dia "inteiro e limpo" que foi o 25 de Abril - uma referência do poema de Sophia de Mello Breyner Andresen sobre o dia da liberdade - deve-se a Otelo Saraiva de Carvalho.
"Ao Otelo e aos capitães todos que cumpriram a missão. Capitães que foram os capitães do Otelo, que o Otelo comandou naquele dia", enalteceu.
Para o contra-almirante, "se havia um momento para se prestar uma homenagem nacional ao 25 de Abril, aos homens que fizeram o 25 de Abril, simbolizados no Otelo, tinha sido este o momento", sublinhando que "os portugueses têm uma dívida de gratidão para com o Otelo pelo 25 de Abril".
O cortejo fúnebre de Otelo Saraiva de Carvalho abandonou a Academia Militar, em Lisboa, cerca das 12h45, perante o aplauso de várias dezenas de pessoas, com cravos vermelhos nas mãos, alguns lançados em direção ao carro funerário em que seguia o corpo do estratego do golpe militar do 25 de Abril.
Alguns minutos antes, ouviram-se gritos de "luto nacional" por parte das pessoas concentradas junto à saída da Academia Militar, que também entoaram "Grândola, Vila Morena" e gritaram "Otelo, amigo, o povo está contigo".
Na terça-feira deslocaram-se ao velório de Otelo Saraiva de Carvalho o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.
Nessa ocasião, foi o Presidente da República o primeiro a falar publicamente sobre a decisão de não ser decretado luto nacional, uma competência do Governo, considerando que para essa decisão contribuiu o facto de ter acontecido o mesmo quando morreram outros protagonistas da revolução, como Salgueiro Maia e Ernesto Melo Antunes.
No mesmo sentido, o primeiro-ministro afirmou depois que "obviamente o Estado curva-se perante a memória" de Otelo Saraiva de Carvalho e que não há luto nacional por coerência com o decidido na morte de outros protagonistas do 25 de Abril.
"Há formas múltiplas de homenagear os nossos grandes. Obviamente, o Estado curva-se perante a memória do coronel Otelo Saraiva de Carvalho", disse António Costa aos jornalistas enquanto ouvia gritos de "luto nacional" de algumas pessoas que aguardavam na fila para entrar na capela.