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francisco assis

​O Pós-Pandemia

07 abr, 2021 - 08:00

Na semana em que a Renascença completa 84 anos, olhamos para várias áreas da sociedade procurando perceber os novos caminhos que, como sociedade, estamos a percorrer.

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Com o avanço do processo de vacinação a população portuguesa começa a vislumbrar o momento em que ocorrerá a superação da fase aguda da crise pandémica que tanto nos tem atormentado. A questão que dentro de pouco tempo se vai levantar será a de sabermos em que estado se encontrará a nossa comunidade nesse preciso momento. Sem a pretensão de enunciar respostas definitivas creio ser já possível equacionar alguns dos principais temas que concitarão a preocupação das pessoas. Limitar-me-ei a referir quatro aspectos que me parecem de primordial significado: a situação económica; o aumento das desigualdades; as dificuldades do Estado Social; os problemas associados ao contexto de vida da população idosa no nosso país.

1.No pós-pandemia vamos confrontar-nos com um quadro económico estruturalmente caracterizado pela medíocre produtividade do trabalho, pelo elevado nível de endividamento público, por uma excessiva atomização do tecido empresarial e por uma notória insuficiência de recursos de capital. A estas dificuldades acrescentar-se-ão os problemas gerados pela crise que estamos a travessar: o dramático recuo observado no sector do turismo, o provável encerramento de muitas pequenas empresas e o aumento do desemprego.

Felizmente nem tudo são más notícias. Bem pelo contrário. Portugal irá beneficiar nos próximos oito anos de um volume extraordinário de fundos financeiros de proveniência comunitária que, se bem aplicados, poderão permitir a reconversão de uma parte do tecido produtivo, uma maior qualificação dos recursos humanos, a modernização dos modelos de gestão empresarial e a transformação do modo de funcionamento da Administração Pública.

2.Esta crise não afectou de forma homogénea a sociedade portuguesa. Alguns sectores foram especialmente causticados, nomeadamente os trabalhadores e as trabalhadoras com vínculos mais precários, os trabalhadores e as trabalhadoras independentes e grande parte do sector empresarial do país. Há pessoas a passar por terríveis dificuldades e o Estado tem a obrigação de não as abandonar. Teremos de encontrar uma solução que permita uma justa distribuição dos sacrifícios.

3.As sociedades democráticas europeias assentaram historicamente o seu sucesso num correcto equilíbrio entre uma economia de mercado criativa e um Estado Social indutor de justiça redistributiva. No final desta crise teremos de olhar com redobrada atenção para questões tão importantes como a do financiamento do Estado social, a requalificação do mesmo e a promoção de uma benéfica articulação entre as componentes pública, social e privada na prestação de serviços a toda a população.

4.Esta crise permitiu-nos tomar consciência dos graves problemas que afligem grande parte da nossa população idosa. Mau grado o grande esforço desenvolvido pelas instituições ligadas à chamada economia social subsistem situações absolutamente dramáticas e impróprias de uma sociedade civilizada. Temos, como comunidade nacional, o impreterível dever de cuidar bem das nossas gerações mais velhas. Não pode haver qualquer tipo de adiamento na resolução deste assunto.

Após tantos meses de angústia é chegada a hora de retomarmos a confiança. Julgo que depois do tempo da provação virá o tempo da acção séria e rigorosa. Esse é o desafio que se coloca ao Estado, às múltiplas instituições sociais e privadas e a cada um de nós em concreto.

Francisco Assis, presidente do Conselho Económico e Social

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