03 mar, 2021 - 16:34 • Ana Carrilho
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Quase um terço dos empresários do setor do turismo acredita que retoma só chegará no verão de 2022, avança um inquérito feito pela AHP - Associação da Hotelaria de Portugal divulgado esta quarta-feira.
Depois de um ano muito duro para o setor do turismo por causa da Covid-19, em que a hotelaria perdeu mais de 70% das suas receitas, é ainda com algum ceticismo que os empresários encaram a retoma. Este ano, se for, é muito tímida; mais consistente, só no verão do próximo ano.
Com muitas incertezas e sempre dependendo do evoluir da pandemia, da vacinação, da retoma do transporte aéreo e claro, das medidas de apoio às empresas e à manutenção do emprego. São algumas das conclusões do inquérito feito pela AHP - Associação da Hotelaria de Portugal, a que responderam mais de 500 associados.
Os mais corajosos, entre os que têm as unidades hoteleiras encerradas, preveem reabrir já neste mês de março. Mas são menos de 15% do total dos inquiridos pela AHP. A confiança vai aumentando até junho, atingindo os 65%, percentagem que se mantém até ao fim do ano.
Para Cristina Siza Vieira, presidente executiva da AHP, esta situação “é muito perturbadora”: significa que mais de 30% não sabe se abre, não tem perspetivas ou não vai mesmo reabrir até ao fim do ano. Ainda assim, a percentagem daqueles que declaram encerrar definitivamente é muito residual: não chega a 0,5%.
“Muito, muito preocupante, é a região de Lisboa”. Os hotéis só pensam começar a reabrir em maio e a percentagem de aberturas cresce até julho, mas sem atingir os 60% e assim se mantém até ao fim do ano.
Lisboa e também o Porto são destinos que vivem (também) do turismo de negócios, com hotéis de preços mais elevados e que antes da pandemia, tinham grande procura.
E essa é uma das grandes incógnitas para o futuro: o que vai acontecer com o turismo de negócios e eventos, que valia 11% da receita do turismo, a nível mundial. Que impacto vai ter nas grandes cidades? Para Cristina Siza Vieira, essa é uma “incógnita brutal” para o turismo urbano.
Os mais de 500 associados que responderam ao inquérito da AHP mostram-se muito cautelosos em relação à altura em que se começará a ver alguma recuperação. Só 1% acha que ainda pode acontecer no segundo semestre deste ano, mas de forma muito tímida: “as reservas são de uma timidez confrangedora, variam entre os 23% para julho, a 25%, para setembro. E são reservas reembolsáveis, por isso, ainda temos um grande trabalho a fazer”, diz a responsável da AHP.
Mas 30% dos inquiridos consideram que só no verão de 2022 é que se poderá assistir a alguma recuperação; 37%, só em 2023 e um quarto dos inquiridos só acredita na retoma em 2024, ou seja, daqui a três anos.
A recuperação depende muito da evolução da pandemia e do processo de vacinação, nomeadamente das condições que a União Europeia vai impor para as viagens. Cristina Siza Vieira tem boas expetativas em relação ao “Passaporte Sanitário”, mas, para já, a associação considera que se devia apostar na testagem maciça para permitir as deslocações.
“É importante que haja garantias e salvaguardas e segurança para viajar e este certificado pode tranquilizar quem recebe, quem viaja e também as autoridades dos diferentes países.”
Outra condição importante para a chegada dos turistas é a retoma do transporte aéreo.
Na opinião da dirigente da AHP, Portugal precisa de três planos: de vacinação, de desconfinamento e de promoção do país.
Entretanto, as empresas do turismo continuam a precisar de apoio, tanto financeiro como para a manutenção de postos de trabalho. Cristina Siza Vieira frisa que é preciso reforçar o Programa Apoiar e são necessárias linhas específicas para o setor.
Lembra que a hotelaria – porque teoricamente não foi obrigada a fechar – continua a ter de suportar a Taxa Social Única (TSU) dos seus trabalhadores, para além de todas as despesas fixas, “porque os ativos, mesmo parados, significam uma despesa muito elevada com a sua manutenção”.
O Governo já anunciou que está a preparar medidas de apoio ao turismo e a presidente executiva da Associação de Hotelaria espera que não demorem, que “não se deixe cair a porta de entrada do turismo em Portugal, que é a hotelaria”.
Janeiro e fevereiro foram bons meses para o turismo nacional, dando seguimento ao crescimento registado em 2019, mas a Covid-19 deitou tudo por terra. No balanço de março a dezembro, a Associação de Hotelaria registou uma ocupação total de 26%, ou seja, caiu 43% em relação ao ano anterior. Os Açores, Madeira, Norte e sobretudo Lisboa, foram as regiões onde a queda foi mais significativa.
O Alentejo foi o que menos sofreu e a região que, aliás, registou a melhor performance de 2020 em todos os indicadores, desde a ocupação aos preços praticados, que ultrapassaram os 110 euros, em média.
A nível nacional, o preço médio por quarto durante o período em que as unidades se mantiveram abertas, fixou-se nos 86 euros. Ou seja, “não estivemos em saldos”, diz Cristina Siza Vieira. Mas se todo o ano fosse contabilizado, o preço médio desceria drasticamente para 22 euros/quarto.
A quebra nas receitas totais foi de 73%, ou seja, uma perda de 3.270 milhões de euros face a 2019. Quase metade das reservas foram canceladas.
O mercado nacional foi o principal da hotelaria portuguesa, seguido do espanhol e do francês. Só depois aparecem os mercados britânico e alemão que ainda assim, foram os mercados estrangeiros com maior expressão no Algarve e Madeira.
Noventa e seis por cento dos inquiridos recorreram ao lay-off simplificado para a manutenção do emprego e 75%, ao apoio à retoma progressiva. Segundo Cristina Siza Vieira, há por isso, poucos despedimentos coletivos. Mas admite que os contratos a termo não foram renovados.