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“Há ainda muita indiferença perante os reclusos”, diz Eugénio Fonseca

04 fev, 2020 - 14:42 • Liliana Monteiro

Há dois anos no terreno o projeto Caminhos de Liberdade tem encontrado dificuldades. Não está a ser fácil encontrar pessoas disponíveis para dar do seu tempo e conhecimento aos reclusos.

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Eugénio da Fonseca queixa-se da falta de atenção aos reclusos na sociedade portuguesa, o que dificulta a sua reinserção.

Em entrevista à Renascença o responsável da Cáritas Portuguesa diz que a privação da liberdade já é castigo suficiente e pede também mais apoio aos familiares de quem foi preso.

O que prevê este protocolo?

O protocolo prevê que a Cáritas, e outros serviços da igreja, encontrem pessoas que tenham algumas competências que sejam úteis para que as pessoas reclusas possam vir a ficar mais habilitada aquando da sua reinserção na sociedade. Podem ser competências no campo profissional, psicológico, das relações humanas, da cultura ou até mesmo da saúde.

É fácil encontrar essas pessoas?

Não está a ser fácil encontrar essas pessoas. Talvez porque a sensibilização, que tem de ser local a partir das comunidades e dioceses, ainda não tenha tido efeitos. Penso que no próximo encontro da Pastoral Penitenciária se há de refletir sobre a revisão da estratégia para uma maior sensibilização.

Depois é preciso também perceber, daqueles que são colaboradores das capelanias, os que podem vir a assumir a outra dimensão do voluntariado na dimensão social. Isto porque há muitas pessoas com dedicação, que acompanham o capelão, e estão a fazer esse trabalho mais na área religiosa junto dos reclusos.

Considera que este problema acontece porque é uma missão pouco apelativa, por não haver remuneração ou porque a sociedade não se dá tanto aos outros?

Vou generalizar uma apreciação, embora existam exceções muito honrosas. Há ainda muitas reservas e estigmas sobre as pessoas privadas de liberdade porque se coloca o enfoque no mal que a pessoa gerou. A privação da liberdade já é uma reparação desse mal e não se pode ter dupla penalização que é: estar privada da liberdade e privada das possibilidades de reconstruir a vida e não voltar a cometer atos que justifiquem novo afastamento da sociedade. Há ainda muita indiferença perante os reclusos.

Neste protocolo está prevista também uma intervenção junto da família dos reclusos. Cada vez que uma pessoa é presa há famílias que ficam em situações sócio económicas mais vulneráveis e é preciso que não sejam penalizadas pelo mal que um dos seus membros causou. E o protocolo vai mais longe, porque não podemos esquecer também, e dar apoio às famílias das vítimas. Esta dinâmica do protocolo podia conjugar-se bem com o que os grupos paroquiais da ação social, sócio caritativos, as Conferências de São Vicente de Paulo fazem.

Um maior esclarecimento das paróquias sobre este protocolo e recrutar pessoas dentro destas podia ser a solução para um maior sucesso deste trabalho?

É o caminho! É a orientação certa, porque são os que estão mais próximos. Tenho dificuldade em reconhecer que não haja paróquia em Portugal que direta, ou indiretamente, não tenha alguém preso ou com familiares nas prisões.

As paróquias que têm estabelecimentos prisionais na sua área geográfica têm uma maior predisposição para olharem para este problema, que é social e um desafio pastoral. Não é por acaso que Mateus no seu Evangelho, cap.25, refere como obrigação visitar os presos. Não quer dizer quer todos tenham de visitar presos, há dinamismos exteriores à prisão que também são muito importantes para se acolher o preso quando for colocado em liberdade.

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  • me
    07 fev, 2020 15:22
    Censuro a censura. ainda por cima dita cristã.

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