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Moçambique

Cabo Delgado. Está a descurar-se a situação humanitária, avisa Bispo de Pemba

21 nov, 2021 - 13:49 • João Cunha

Em entrevista à Renascença, D. António Juliasse garante que está “tudo na mesma” em Cabo Delgado, onde ainda há ataques e o medo dos radicais islâmicos continua a impedir regresso a casa de milhares de deslocados.

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O bispo de Pemba diz que a informação oficial sobre a situação na província de Cabo Delgado induz em erro. D. António Juliasse considera que se olha mais para o avanço das tropas moçambicanas – que já controlam mais zonas, até agora nas mãos dos radicais islâmicos – do que para a situação humanitária, que continua crítica.

"Está-se simplesmente a olhar para o avanço das tropas, dando a ideia que a situação está a melhorar. Mas, no terreno, as coisas continuam como há seis meses ou há um ano", garante. Nestes dias tem havido “ataques de pequena envergadura a várias aldeias. E o pânico continua o mesmo".

Na verdade, acrescenta, "o estado de coisas mantém-se. As pessoas continuam nos campos de reassentamento, as zonas que estavam ocupadas pelos insurgentes continuam a ser inseguras, nelas não há movimentação de civis. É uma zona militar”.

A ofensiva das tropas governamentais ganhou vigor em julho, com o apoio do Ruanda, a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Forças que permitiram aumentar a segurança e recuperar zonas que se encontravam em poder dos rebeldes.

É o caso de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020, e de Palma, para onde começaram a regressar muitos deslocados e a vida vai retomando a normalidade. No entanto, ainda há muitos deslocados espalhados pela província.

"Não estamos a falar de sete mil ou sequer 70 mil pessoas, mas sim de 750 mil que estão neste momento em condições de deslocados internos em Cabo Delgado". Isto, alerta, sem contar com os que estão nas províncias de Nampula e de Nacala.

Primeira ajuda é dada pela Igreja

As grandes agências das Nações Unidas fazem o que podem face à urgência humanitária e aos riscos de segurança. Mas, a primeira intervenção parte de instituições ligadas à Igreja Católica.

"Quando os nossos irmãos deslocados chegam e precisam de comida e água, nós imediatamente oferecemos a primeira ajuda. Mas, na mesma altura, fazemos chegar a informação às grandes agências humanitárias das Nações Unidas". São elas que têm maior capacidade de intervenção, graças aos seus programas.

Muitas vezes, "são eles a solicitar uma primeira resposta da Cáritas diocesana, enquanto eles se preparam para dar uma resposta mais continuada".

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas há quatro anos que vive sob a ameaça de rebeldes armados, com vários ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico. O conflito já provocou mais de 3100 mortes e mais de 815 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.

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