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Gaza. Bebé salva do ventre da mãe morta em ataque de Israel

21 abr, 2024 - 17:26 • João Pedro Quesado com Reuters

Família da bebé morreu toda no ataque em Rafah. Outro ataque matou 13 crianças da mesma família. “Estamos presos e todos aguardam a sua vez de morrer”, conta um refugiado na cidade.

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Uma menina nasceu do ventre de uma mulher palestiniana morta juntamente com o marido e filha por um ataque israelita. 19 pessoas morreram durante a noite na cidade de Rafah, na Faixa de Gaza, em ataques intensificados, segundo as autoridades de saúde locais.

As vítimas, mortas em ataques a duas casas, incluem 13 crianças de uma família, segundo as informações divulgadas pelos responsáveis das autoridades de saúde.

A bebé, que nasceu de uma cesariana de emergência com um peso de 1,4 kg, está estável e a melhorar gradualmente, disse Mohammed Salama, um médico responsável pelo cuidado da bebé.

A mãe, Sabreen Al-Sakani, estava grávida de 30 semanas.

A bebé foi colocada numa incubadora de um hospital de Rafah ao lado de outra criança, com as palavras “O bebé da mártir Sabreen Al-Sakani” escritas em fita adesiva no peito.

A jovem filha de Sakani, Malak, que foi morta no ataque, queria dar à sua nova irmã o nome de Rouh, disse o Rami Al-Sheikh, tio. “A menina Malak estava feliz porque a irmã estava a chegar ao mundo”, contou Rami. O nome Rouh significa espírito em árabe.

A bebé vai ficar no hospital entre três a quatro semanas, de acordo com Salama, o médico. "Depois disso vamos ver da saída dela e para onde a criança vai, se para a família, se para a tia ou tio ou avós. Aqui está a maior tragédia. Mesmo que esta criança sobreviva, ela nasceu órfã", disse.

As 13 crianças foram mortas num ataque à segunda casa, pertencente à família Abdel Aal, segundo as autoridades de saúde palestinianas. Duas mulheres também foram mortas nesse ataque.

Questionado sobre as vítimas em Rafah, um porta-voz militar israelita disse que vários alvos de militantes do Hamas foram atingidos em Gaza, incluindo complexos militares, postos de lançamento e pessoas armadas.

"Você viu um homem entre todos os mortos?", perguntou Saqr Abdel Aal, um palestiniano cuja família estava entre os mortos, de luto sobre o corpo de uma criança envolta num manto branca.

“Todos são mulheres e crianças”, sublinhou. “Toda a minha identidade foi apagada, com a minha esposa, filhos e todos”.

Mohammad al-Behairi disse que a sua filha e neto ainda estão sob os escombros. “É um sentimento de tristeza, de depressão, não temos mais nada nesta vida pelo que chorar, que sentimento devemos ter? Quando perder os seus filhos, quando perder os seus entes queridos mais próximos, como será o seu sentimento?”, questionou.

"Estamos presos"

Mais de metade dos 2,3 milhões de habitantes da Faixa de Gaza refugiaram-se em Rafah, em busca de abrigo contra a ofensiva israelita que devastou grande parte da região nos últimos seis meses.

Israel está a ameaçar uma ofensiva terrestre na área, onde o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que os combatentes do grupo militante Hamas devem ser eliminados para garantir a vitória de Israel na guerra.

O presidente Joe Biden urgiu Israel a não lançar uma ofensiva em grande escala em Rafah, para evitar mais vítimas civis.

As autoridades de saúde palestinianas dizem que mais de 34 mil pessoas foram mortas no ataque de Israel, que começou depois dee combatentes do Hamas atacarem Israel a 7 de outubro, matando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando outras 253.

O Ministério da Saúde palestiniano declarou, este domingo, que os ataques militares israelitas mataram 48 palestinos e feriram outros 79 em toda a Faixa de Gaza nas últimas 24 horas.

No maior dos dois territórios palestinianos, a Cisjordânia ocupada, Israel disse que os seus soldados dispararam contra dois palestinianos que tentaram atingi-los e esfaqueá-los no domingo. O Ministério da Saúde palestiniano anunciou a morte dos dois homens.

Abu Jehad, um residente da cidade de Gaza que se encontra refugiado em Rafah com a família, disse temer que os israelitas invadam Rafah, a menos que fosse alcançado um cessar-fogo, e que teria de fugir mais uma vez. “Estamos presos e todos aguardam a sua vez de morrer”, disse Abu Jehad ao telefone.

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