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Dúvidas Públicas

"Há investimentos que não podem ser adiados", avisa presidente do BPI

19 abr, 2024 - 06:30 • Sandra Afonso , Arsénio Reis

João Pedro Oliveira e Costa diz à Renascença que nem todos os investimentos podem ser adiados por limites orçamentais e dá como exemplo o novo aeroporto de Lisboa. O CEO do BPI acredita que o executivo de Luís Montenegro tem condições de governabilidade, critica o Banco de Fomento e minimiza os 8 milhões cobrados indevidamente pela banca em 2023.

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"É confrangedor que os decisores políticos não tenham a mesma capacidade dos decisores das empresas", diz o presidente do BPI. "Quase que dá vontade de sugerir que consultem as empresas, para verem como se tomam as decisões", sugere João Pedro Oliveira e Costa em entrevista ao programa Dúvidas Públicas, da Renascença.

Em causa estão grandes investimentos, como o novo aeroporto de Lisboa, que não podem continuar a ser adiados, defende.

O CEO do BPI concorda com o regresso das regras orçamentais, que impõem limites à despesa pública, mas avisa que "há determinados investimentos que não podem ser adiados, há determinadas coisas que não podem estar balizadas só por uma meta que é preciso alcançar e pode pôr em causa o futuro".

Há mais de 50 anos que o país aguarda por uma decisão sobre o novo aeroporto. "Isto é ridículo!" O líder do BPI pergunta ainda o que seria de Portugal se ainda não tivesse o Alqueva ou o Porto de Sines. "Fale-se menos e atue-se mais", apela. "Este é o país dos comentadores, onde toda a gente tem uma opinião", acrescenta.

"Apesar de tudo, há uma maioria significativa no Parlamento, que pode criar condições para a governabilidade"

Questionado sobre a solidez do Governo, admite que a situação atual não é "tão positiva" para os negócios, a maioria absoluta do executivo anterior garantia mais estabilidade e, por isso, era mais favorável. Ainda assim, acredita que o Governo de Luis Montenegro tem condições para governar, "se houver bom senso de todos".

"Apesar de tudo, há uma maioria significativa no Parlamento, que pode criar condições para a governabilidade", diz João Pedro Oliveira e Costa, porque "as políticas não são tão diferentes, é mais a forma de execução".

Se isto fosse um jogo, o Banco de Fomento estava empatado

Criado em 2020, para conceder crédito e apoiar as exportações e a internacionalização das empresas, o Banco de Fomento (BF) nunca foi bem recebido pela banca privada.

No programa eleitoral, a AD chegou a admitir a abertura do capital daquele organismo aos privados, mas o BPI não mostra interesse.

João Pedro Oliveira e Costa chega mesmo a questionar o papel do Banco de Fomento e qual o objetivo do seu lançamento.

Diz que "havia a ideia que a banca (incluindo a CGD - Caixa Geral de Depósitos) não estava disponível para apoiar a economia no médio e longo prazo e para os projetos estruturantes", mas para isso "é preciso haver projetos estruturantes".

Outro argumento era que não se podia ou queria utilizar a CGD, mas o CEO do BPI acredita que esta podia ser uma das missões do banco público.

A solução foi avançar com o BF e mais "burocracia". Oliveira e Costa admite que não tem muito boa impressão do Banco de Fomento durante a pandemia, tem clientes que ainda esperam pelo pagamento de apoios.

"Há bons exemplos por essa Europa fora, na Alemanha, em França, com este tipo de bancos de desenvolvimento, mas são estruturas ágeis e com capacidade de atuação", explica. Em Portugal, "se a equipa perdeu o jogo, não jogou bem" e agora "está empatada", acrescenta.

O CEO minimiza ainda os 8 milhões de euros cobrados indevidamente em 2023 pela banca, em comissões e juros, segundo dados avançados esta semana pelo Banco de Portugal.

"Já não estamos habituados a levar grandes ximbalaus na banca"

Em comparação com os restantes bancos, o BPI fica na média ou abaixo. Face ao ano anterior, estas infrações da banca mais do que duplicaram.

João Pedro Oliveira e Costa considera positivo o setor estar sujeito a escrutínio apertado, mas também sublinha que "é importante ter a noção que temos um número vastíssimo de regras e de linhas de atuação que temos de cumprir e todos nós temos milhares de pessoas a funcionar e, aqui e ali, as coisas podem não correr da melhor forma".

Por outro lado, explica que oito milhões de euros, "para a dimensão da banca toda, não é um número nada fora do que acontece na Europa ou noutros mercados".

O presidente do BPI acrescenta ainda que "nós é que já não estamos habituados a isso, a levar grandes chimbalaus na banca, mas há aí outros, noutros mercados, em que de repente um tem que comprar o outro, com os acionistas a levarem uma grande pancada".

São excertos da entrevista do presidente do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, ao Dúvidas Públicas, onde comentou ainda o choque fiscal do novo Governo, o crédito à habitação e as taxas de juro, os lucros do setor, questões laborais, a supervisão e outros negócios.

Temas para escutar no Programa "Dúvidas Públicas", transmitido aos sábados, entre as 12h00 e as 13h00, na Renascença, ou ouvir mais tarde online ou em podcast.

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