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​Efeito Covid-19 no imobiliário. Aumenta procura por montes, quintas e terrenos

08 out, 2020 - 13:04 • Cristina Nascimento

Especialistas da área ressalvam, no entanto, que uma coisa é a procura, outra é a concretização dos negócios. Setor do imobiliário não sente, para já, efeitos de crise económica.

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A plataforma de compra e venda online OLX regista um aumento da procura por montes, terrenos, quintas e casas rurais. O OLX regista ainda mais anúncios disponíveis nestas categorias.

Em comunicado, a empresa diz que os dados analisados sobre pesquisas feitas na plataforma e sobre anúncios novos e ativos referem-se ao período compreendido entre janeiro e setembro de 2020.

“Os portugueses passaram a valorizar muito mais a sua casa, o seu lar, após o surgimento desta pandemia. A necessidade de terem um espaço maior, mais confortável e mais longe da azáfama das grandes cidades, regiões mais expostas a eventuais surtos, acabam por redundar nestes aumentos muito significativos de procura por imóveis muito específicos em localizações algo diferentes do registado em contexto pré-Covid”, diz Andreia Pacheco, gestora de marca OLX Portugal.

Questionado pela Renascença, o presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), Luis Lima, refere que, de acordo com os dados de que dispõe, confirma-se um aumento da procura por este tipo de propriedades, mas ressalva que “esta é mais uma tendência de procura do que efetivamente uma concretização do negócio”.

Luis Lima justifica esta procura dada a “situação de confinamento e a democratização do trabalho remoto”, mas acredita que a tendência não terá “expressão considerável”, dados os “preços deste tipo de ativos que são, regra geral, mais elevados”.

Mais moradias vendidas

Já Ricardo Guimarães, da Confidencial Imobiliário, empresa especializada em informação do setor que trabalha com dados de vendas efetivas, refere que é possível identificar, em meio urbano, uma subida na compra de moradias e uma descida da compra de apartamentos.

“A procura de apartamentos teve uma queda, na região de Lisboa, de 14%. Esta quebra de 14% acontece ao mesmo tempo que, para moradias, na mesma região, há um aumento de 8% no volume de transações”, explica Ricardo Guimarães, considerando que este fenómeno dá corpo a essa necessidade que advém do período de confinamento.

“As famílias perceberam que uma habitação do tipo moradia proporciona uma qualidade de vida diferente que a obtida num apartamento”, argumenta.

Os dados da Confidencial Imobiliário comparam o segundo trimestre de 2020 com a média do final de 2019 e, acrescenta Ricardo Guimarães, “este padrão é transversal a praticamente todas as regiões do Continente”.

No global, “vemos que há uma descida de 4% no número de transação de apartamentos e há uma subida de 17% do número de transações das moradias”.

Setor imobiliário sem crise (para já)

Ricardo Guimarães adianta ainda à Renascença que “nesta altura o mercado ainda não sente o impacto da crise”.

“Não porque exista um aumento do poder de compra das famílias, mas, acima de tudo, porque existem medidas de política pública que têm permitido que a crise que se antecipa ainda não tenha tido um efeito tão devastador ao nível desse mesmo poder de compra, nomeadamente, a questão das moratórias e do lay-off”, explica este especialista.

O presidente da Confidencial Imobiliário diz mesmo que “no imediato, o mercado tem uma forte estabilidade e até alguma recuperação, em termos de volume total de negócios”.

Já Luis Lima, da APEMIP, antecipa “uma retração da procura motivada pela instabilidade laboral que as famílias começam a sentir”.

Sobre os preços dos imóveis, Luis Lima acredita que a crise económica pós-Covid-19 terá um efeito diferente da crise que obrigou Portugal a recorrer a assistência financeira exterior. “Ao contrário do que aconteceu no período da troika, desta vez não há excesso de oferta e houve uma muito menor exposição ao crédito. Quaisquer ajustes que se possam sentir são, fundamentalmente, acertos de imóveis que estavam a ser comercializados acima do valor de mercado”, diz Luis Lima.

Sem querer alongar-se em perspetivas para o final de 2020 e arranque de 2021, Luis Lima aponta para um possível “aumento considerável na procura para arrendamento motivada pela instabilidade laboral e consequente adiamento de compra de casa”.

“O arrendamento de longa duração poderá tornar-se numa aposta de investimento para quem atua no mercado imobiliário”, remata.

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