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Fazer pão em casa deixou de ser moda depois da quarentena da Covid-19

18 ago, 2020 - 07:10 • João Carlos Malta

A Associação de Comércio e da Indústria de Panificação garante que, depois do período de confinamento, os portugueses deixaram de fazer o próprio pão. Esta foi uma das modas e mudanças de hábito mais faladas na quarentena motivada pelo novo coronavírus. O fenómeno não afetou o setor, mas a economia está a fazer muitas padarias fecharem e perderem clientes.

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Fazer o pão em casa foi uma das modas que mais marcou os meses em que os portugueses estiveram fechados em casa durante a quarentena da Covid-19. Os vídeos e fotografias de pessoas que mostravam nas redes sociais os primeiros pães de fabrico próprio multiplicaram-se. Mas, passados dois meses e meio do fim do confinamento, o fenómeno desvaneceu, segundo a Associação de Comércio e da Indústria de Panificação (ACIP).

“Entretanto temos notado que isso tem vindo a desaparecer”, relata à Renascença, o vice-presidente da ACIP, Luís Miguel Gonçalves.

O mesmo dirigente associativo garante que a tendência que se verificou nos meses de março, abril e maio, “não é uma ameaça para o setor”.

O mesmo responsável admite que algumas pessoas vão continuar a fazê-lo, mas a maioria percebeu que “a energia que gastam para aquecer o forno para cozer o pão”, e “a sujidade que fazem em casa”, não compensam relativamente ao custo do mesmo produto numa padaria.

Pelo valor e pelo tempo mais vale comprar às padarias. Não compensa fazer em casa”, afiança.

O vice-presidente da ACIP, Luís Miguel Gonçalves, considera que esta foi uma atividade que as pessoas abraçaram para ocupar o tempo e para aprender algo diferente. “Mas não prejudicou o negócio, nem alterou a maneira de trabalhar dos empresários”, lembra.

Luís Miguel Gonçalves lembra que, de facto, no início da pandemia, havia muita gente “a comprar o fermento de padeiro, a farinha”, e até a “pedir as receitas e conselhos para fazer o pão em casa”.

Aconteceu mais nas primeiras semanas, mas “depois veio a desaparecer”. “Algumas pessoas disseram que o faziam para não sair diariamente de casa, saírem o mínimo possível”, lembra.

Mas houve coisas que o confinamento mudou, pelo menos para algumas famílias. Luís Miguel Gonçalves diz que, pela falta de trabalho, foram muitos os que se viraram para o negócio da pastelaria, e começaram a vender bolos feitos em casa. Uma forma de combater a ausência de rendimentos.

Bolos e cafés em crise

Apesar de ter sobrevivido a esta moda momentânea, as padarias e pastelarias, como era de esperar, não estão a sair incólumes ao forte abalo que a economia portuguesa está a sentir, com uma queda do PIB sem precedentes de 16,3%.

A ACIP afirma que o setor está a retomar lentamente, mas “a maior parte teve de reduzir o número de funcionários”. As mudanças mais evidentes passam pela necessidade de “tentar aproveitar tudo ao máximo”, “renegociar preços de compra para fazer face às despesas que se mantiveram com os salários”.

“Muitos tinham algumas poupanças que fizeram ao longo dos anos, mas em poucos meses tiveram de abrir mão de tudo”, explica. No negócio foi a venda de bolos e a cafetaria que mais se caíram. “As pessoas deixaram de vir tomar o pequeno almoço ou lanchar”, avança.

Nos meses de confinamento a maioria vinha comprar o pão para lanchar e, apesar de lentamente haver sinais de melhoria, continua a ser evidente que “as pessoas têm receio e continuam em casa”.

Se puderem ficar em casa ficam, compram coisas para levar. Nas cafetarias e galões perdeu-se muito”, repete.

Apesar de não ter números em relação a encerramentos, estabelecimentos em lay-off ou reduções de faturação, Luís Miguel Gonçalves não dúvida que “muitas [pastelarias] vão fechar”.

Isto não é instantâneo, as dificuldades continuam, o dinheiro vai-se acabando e as empresas ainda vão fechar mais”, enumera.

Em relação à quebra de faturação, acredita que é geral, mas não é uniforme e varia entre os 30% e os 80%. “Todas as padarias terão sentido o impacto, mas depois as que estão numa zona turística sentiram mais, e as que estão numa zona residencial não notaram tanto”, remata.

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