As Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus querem aproveitar o Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala a 10 de outubro, para falar das consequências que a pandemia causou a este nível.

“Se já era importante celebrar este dia antes, este ano ainda é mais”, começa por explicar à Renascença Cláudia Antunes. Assistente espiritual na Clínica Psiquiátrica de S. José, em Lisboa, diz que a saúde mental continua a ser um “parente pobre” da saúde, a que é urgente dar atenção. Porque, apesar da comunicação social já falar mais no assunto, “falta uma reflexão séria” sobre esta questão. “E o que queremos é isso, é pôr a sociedade a pensar sobre isto”.

“A pandemia veio acentuar problemas de solidão que já existiam. É um vírus que está a alastrar e a contagiar muita gente”, diz Cláudia Antunes, que considera urgente pensar em soluções.

“Tem de se aprofundar mais este tema. Efetivamente, quais são os efeitos que isto está a trazer para a nossa saúde mental? A solidão é só um, entre vários. A solidão também é um vírus que é preciso combater”, refere.

Estar só também afeta quem está internado, devido às restrições sanitárias impostas. “A solidão dos próprios doentes também se agravou aqui na nossa casa, sentimos isso, por causa da questão das visitas, dos contactos com outras pessoas estarem bastante diminuídos, tal como em relação aos lares. É uma alegria para as nossas senhoras receberem uma visita!”, conta, deixando a interrogação: “como é que se pode ajudar as pessoas que não podem receber as visitas que recebiam a viver estas circunstâncias? É um grande desafio, para nós e penso que para toda a sociedade”.

Encontrar o equilíbrio entre a necessidade de proteger os idosos e doentes, em termos de saúde, e a necessidade de não descuidar a dimensão da proximidade e do contacto pode não ser fácil, mas não é impossível, garante Cláudia Antunes.

A assistente espiritual dá como exemplo o que tem sido feito na Clínica de S. José: “há um cuidado enorme da nossa parte, de envolvimento de todos os colaboradores, profissionais, dos próprios utentes, que nos têm surpreendido pela positiva, no sentido de encontrar estratégias”. Um trabalho que envolve as várias áreas, “a psicologia, o serviço social, a área da psicomotricidade, a da assistência espiritual, a da enfermagem”, para “procurar o que está ao nosso alcance e o que é que podemos fazer para acompanhar as nossas utentes na vivência destes tempos”.

A importância da dimensão espiritual

Cláudia Antunes é leiga e assistente espiritual na Clínica Psiquiátrica de S. José. A sua experiência prova que poder ter um acompanhamento e atenção a este nível “faz a diferença” para estes doentes.

No caso das casas de saúde das Irmãs Hospitaleiras, esta é uma dimensão muito valorizada. “Obviamente, sendo nós uma instituição católica temos um dinamismo religioso que envolve as nossas utentes em celebrações, em momentos de oração. É fundamental para as nossas utentes manter algum desse ritmo”, e nunca descurando o acompanhamento espiritual.

“Há que cuidar de todos na sua saúde integral, mas este cuidar da dimensão espiritual é muito importante para ter uma melhor saúde mental. Há pouco falávamos de solidão, ora a dimensão espiritual é essencialmente relação, relação consigo próprio, relação com o outro e relação com a transcendência, com Deus”, sublinha.

“Este ano não vamos a Fátima, vem Fátima até nós”

O programa que as Irmãs Hospitaleiras prepararam para assinalar o Dia Mundial da Saúde Mental (10 outubro) começa na sexta-feira, dia 9, com a intervenção, através dos meios digitais, do psiquiatra Rui Albuquerque, que falará do recente estudo sobre o ‘Impacto da pandemia em pessoas com reserva cerebral diminuída’.

No mesmo dia será acolhida na Clínica de S. José a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, que até 18 de outubro irá percorrer os vários centros de saúde da congregação, bem como os dos irmãos de S. João de Deus, que também se dedicam aos cuidados na área da saúde mental.

Cláudia Antunes diz que esta é uma visita aguardada com expetativa, porque “esta é uma dimensão muito valorizada pelos doentes e pelos profissionais de saúde”.

“Uma colaboradora dizia-me há dias, sobre esta visita, que este poderá ser um momento de viragem nestes tempos de isolamento. E eu concordo! Faz todo o sentido acolhermos a imagem peregrina, e queremos que efetivamente ela venha mesmo peregrinar a cada canto da nossa casa. A intenção é que possa chegar a cada pessoa, a cada utente”, afirma.

Na Clínica de S. José este seria o quarto ano em que iriam a pé a Fátima. “Seria uma peregrinação pequena, de um dia apenas, como nos é possível, com os colaboradores, os voluntários e as irmãs”, e este ano coincidiria com o 10 de outubro. “Este ano não vamos a Fátima, mas vem Fátima até nós, e é mais um motivo para celebrarmos este dia”.