O problema do atraso de fornecimento aos países da União Europeia das vacinas contra a Covid-19 é em primeiro lugar, obviamente um problema sanitário: mais pessoas irão adoecer por não terem sido vacinadas a tempo. Mas é também um problema económico (e portanto, em última análise, social) porque quanto mais tempos adiarmos a vacinação de uma parte maioritária da população, tanto mais difícil se tornará uma recuperação económica plena.

Não há dúvida, como aqui já defendi, que a atribuição da responsabilidade pelo fornecimento à Comissão Europeia fez todo o sentido e é até um bom exemplo do tipo de decisões que há vantagem para os Estados-membros em atribuírem às instituições europeias.

Mas a verdade é que essas instituições europeias não têm sabido até hoje dar conta do recado, com consequências que são já irreversíveis. Por um lado, como a própria Presidente da Comissão reconheceu, demorou-se demasiado tempo em autorizar a aplicação das vacinas num contexto – junto eu – em que um atraso de uma semana ou quinze dias parece uma eternidade. Por outro lado, com o afã próprio da propaganda das instituições da União Europeia – em que são exímias - criaram-se expectativas de fornecimentos que rapidamente se verificaram não serem realistas e que a Comissão, mais preocupada com a propaganda, não se esforçou em tempo útil para as tornar mais realistas.

Esperemos que as lições sejam aprendidas pela Comissão. Mas há uma que à partida não foi - e isso é preocupante. A Presidente da Comissão ao reconhecer que tinha falhado fez o que é costume por parte da Comissão: exigir mais poderes, agora na área da saúde.

Espero que os Estados respondam com um rotundo “não!”. Esta ideia que, quando as instituições comunitárias não funcionam bem o que é preciso é reforçar os seus poderes, embora absurda, tem feito o seu caminho com péssimos resultados e está na origem da decadência do projecto europeu. Cabe agora aos estados demonstrarem que eles, sim, já aprenderam a lição.