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“Se não soubermos qual a cor dos portugueses, não podemos perceber o racismo”, avisa João Taborda da Gama no espaço de debate desta terça-feira na Renascença.

Na sua opinião, a decisão do Instituto Nacional de Estatística (INE) de não incluir qualquer pergunta sobre a origem étnico-racial dos cidadãos no Censos 2021, ao contrário do que pretendia a maioria dos membros do grupo de trabalho criado pelo Governo “é, do ponto de vista racial, criminosa”.

“É preciso que o Governo e o Presidente da República atuem rapidamente para que a pergunta seja incluída no Censos”, defende o comentador, justificando: “se não soubermos qual é a cor dos portugueses, não podemos, com método científico, perceber e quantificar o racismo que existe em Portugal”.

“Não saber quantos negros ou brancos ou de outras cores existem em Portugal é uma forma de perpetuar por mais décadas o racismo em Portugal”, sustenta ainda.

“Parte da população portuguesa vive num quentinho a achar que não há racismo – uma ideia em que gostamos de acreditar – mas quem sabe do assunto e quem é mais atento sabe que é óbvio que há um flagrante racismo em Portugal” e “para o poder quantificar e poder atuar é preciso saber qual é a diferenciação de raças e de cores” no país, defende João Taborda da Gama.

O comentador das terças e quintas no programa As Três da Manhã criticou ainda o presidente do INE, dizendo que “não são os presidentes dos institutos estatísticos que fazem aquilo que é uma das principais decisões de políticas públicas em Portugal”.

“Este Governo tem de se impor ao INE e não pode dar cobro a uma medida que, por mais 10 anos, adie saber-se qual é a raça dos portugueses”, insiste.

Indignado, João Taborda da Gama considera “um escândalo” o que se passou e falar-se agora noutros estudos.

Fernando Medina, que partilha este espaço de debate com Taborda da Gama, concorda e admite que ficou surpreendido com a decisão do INE.

“Conhecia as posições dos grupos de combate ao racismo, defendendo já de há muito tempo que esta pergunta fosse feita, e julguei que haveria uma convergência natural”, afirma.

“É que normalmente são esses grupos que se opõem, porque acham que vai levar a fenómenos de segregação. Aqui em Portugal, essas organizações disseram, desde a primeira hora, que precisavam de saber como forma de combate ao racismo. Então, é quando essas associações dizem que deve estar que o Estado diz não, não queremos saber?”, questiona.

“Não fazer a pergunta vai-nos deixar na ignorância, na ilusão, no desconhecimento daquilo que é o fenómeno da composição racial portuguesa e da forma como ela se organiza no território, como se organiza socialmente, como se vai cruzar com todas as variáveis, porque o Census é no fundo uma grande radiografia do país, feita de Norte a Sul, porta a porta”, sublinha ainda.