08 jan, 2024 - 18:42 • Diogo Camilo , Vasco Bertrand Franco
Portugal registou, nas últimas duas semanas, mais 1.600 mortes que o esperado, um número que só tem comparação com o período da pandemia da Covid-19.
Entre a última semana de 2023 e a primeira semana de 2024, foram registadas mais de sete mil mortes, com o número de óbitos a ter sido superior a 500 entre os dias 1 e 3 de janeiro.
Os números do Sistema de Informação de Certificados de Óbito, analisados pela Renascença, registam um excesso de mortalidade que se prolonga desde o dia 24 de dezembro e teve o seu pico no dia 2 de janeiro, quando morreram 546 pessoas.
Ao todo, são já 15 dias consecutivos com mortes acima do esperado.
No restante período de 2023 foram registados apenas 9 dias com número de mortes acima da média, em comparação com anos anteriores, para um excesso de mortalidade de 595 óbitos.
Assim, o ano de 2023 termina com 1.396 mortes acima do esperado, das quais 811 foram registadas nos últimos oito dias do ano.
Para encontrar números de óbitos assim é preciso recuar quase três anos, quando Portugal recuperava de um pico da pandemia de Covid-19.
Os 546 óbitos registados na passada terça-feira são o maior número de mortes num dia desde 5 de fevereiro de 2021 e a última semana foi a mais mortal desde a semana de 1 a 7 de fevereiro de 2021.
Retirando os números de mortes por Covid-19, esta é a semana mais mortal desde janeiro de 2021, quando Portugal vivia o grande pico da pandemia - e em que morriam mais de 150 pessoas por dia devido à doença.
Antes da pandemia, Portugal viveu uma semana idêntica com excesso de mortalidade a estes níveis no ano de 2017.
Na primeira semana do ano foram registadas 3.408 mortes - menos que as 3.414 registadas este ano -, mas com um dia mais mortal: a 2 de janeiro de 2017 foram registados 578 óbitos.
Nesse inverno, a gripe e o frio provocaram um excesso de 4467 óbitos, em relação ao esperado, de acordo com especialistas do Programa Nacional de Vigilância de Gripe, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
Em declarações à Renascença, Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, diz que a gripe e a baixa vacinação explicam este fenómeno numa altura em que o Serviço Nacional de Saúde está fragilizado.
“A crise no SNS não ajudou a esta mortalidade em excesso. Se tivesses tido os recursos disponíveis podíamos ter tido outro tipo de resposta, mas considero que o principal factor tem a ver com atividade epidemiológica da gripe e com a adesão à vacinação. Desde novembro que andávamos com dificuldades de atendimento aos utentes e daí não veio nenhuma mortalidade em excesso”, afirma Gustavo Tato Borges.