07 nov, 2023 - 17:09 • Olímpia Mairos
“A verdade é manca, mas chega. A justiça é lenta, mas chega”. É desta forma que José Alves, mais conhecido por Zé Cerdeira, na aldeia de Morgade, para onde está projetada a Mina de Lítio do Romano, reage à investigação sobre o lítio que motivou buscas em várias localizações (incluindo a residência oficial do primeiro-ministro e gabinetes ministeriais).
“Sempre fui contra a mina por causa do ambiente para a nossa terra, a poeira, os ruídos”, começa por dizer.
Já quanto à investigação que agora decorre, não se mostra surpreendido, porque - explica – “a justiça pode ser tardia, mas funciona”.
“É como diz o nosso povo: A verdade é manca, mas chega. A justiça é lenta, mas chega. E está a chegar. Só quero que quem for culpado, seja castigado; e quem for inocente, que não seja condenado”, diz.
Também António, conhecido na aldeia por Tonho da Alice, emigrante há 52 anos em França, conta à Renascença que sempre desconfiou de “interesses associados à mina” e, por isso, só deseja que “a verdade venha ao de cima”.
“Eu só quero que retifiquem o mal que fizeram e que a mina não seja feita, porque este ‘ninhozinho’ aqui é um paraíso e querem-nos fazer aqui mal”, diz, assegurando que nos seus terrenos “ninguém entra”.
“Não entram nem que eu vá lá dormir. Eu daqui não saio e as máquinas por cima de mim não sobem. Foi a herança dos meus pais e eu não vou ficar sem nada”, conclui.
A população desde sempre contestou a instalação de uma mina de lítio em Morgade, através de manifestações e ações de rua, por isso, mostra-se satisfeita com a possibilidade de a mina não ir adiante, em consequência dos processos que decorrem na justiça.
No centro da Vila de Montalegre, a Renascença encontrou à conversa Luís Pereira e Domingos Martins. O que ambos esperam e desejam “é que se investigue até ao fim e que as coisas sejam claras”.
“Se há interesses aí, não acho isto muito bonito”, atira, acrescentando que o melhor é esperar para ver o que vai acontecer, mas alguma coisa já está a acontecer”, diz Domingos Martins.
Luís Pereira entra na conversa para argumentar que “as minas fazem poluição” e que não é favor. Já quanto à investigação quer “apenas que se saiba a verdade”, acreditando que o desfecho pode inverter o processo de instalação do projeto no concelho.
É isso mesmo que espera Ana Guerra, de 22 anos. A jovem é contra as minas de lítio e acalenta, agora, a esperança de que o projeto não se concretize.
“Se há uma investigação, inclusive no gabinete do primeiro-ministro, é porque algo está muito errado. Então, espero bem que ajude, pelo menos, a atrasar ou mesmo a terminar com esta ideia de trazer as minas para o Barroso”, afirma, defendendo que “tem que se saber tudo até ao fim”.
A jovem não quer as minas porque “vão retirar qualidade de vida à região e podem levar mesmo à retirada do selo de Património Agrícola Mundial”.
Armando Pinto, da associação Montalegre Com Vida, contou esta manhã à Renascença que a população estranhou, desde o início, o “empenho fora do normal” dos responsáveis políticos para que o projeto das minas de exploração de lítio em Montalegre avançasse.
O responsável diz que o assunto “devia ser bem estudado” e a população “bem informada”. Pelo contrário, ao longo do processo, assistiu-se a um “empurrar das situações” e houve etapas que foram passadas “à frente”.
Armando Pinto disse ainda que a avaliação do projeto foi feita “de forma pouco transparente” e defendeu que a “investigação seja levada até às últimas consequências”.
A mina do Romano, no concelho de Montalegre, foi concessionada à empresa Lusorecursos que obteve a luz verde por parte da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) em 7 de setembro. Tem como objetivo a exploração de depósitos minerais de lítio e sua transformação, propõe uma exploração mista, a céu aberto e subterrânea, e prevê um período de vida útil de 13 anos, podendo vir a ser ampliado.
A empresa tem sede na Rua Direita, nº 30, em Montalegre, mas ao final desta manhã as portas estavam encerradas.