Marinha

Submarino Arpão em missão inédita no Ártico para controlar navios russos

03 abr, 2024 - 06:00 • Liliana Monteiro

Submarino português integra a Operação "Brilliant Shield" da NATO, leva uma guarnição de 36 pessoas e vai vigiar embarcações russas no norte do Atlântico numa missão de dissuasão.

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Submarino Arpão em missão inédita no Ártico para controlar navios russos
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O submarino Arpão, da Marinha portuguesa, está prestes a escrever mais uma página na história da navegação portuguesa no fundo dos mares. Depois da mais longa viagem no ano passado até à África do Sul, com passagem pelo Brasil, inicia esta quarta-feira uma missão até às águas geladas do norte do Atlântico, onde vai participar durante dois meses a Operação "Brilliant Shield" da NATO.

O comandante da Esquadrilha de Subsuperfície, Batista Pereira, explica que esta é uma missão que passa por fazer o acompanhamento de navios e submarinos 'não NATO' no Atlântico Norte, com o objetivo de “provocar no opositor [Rússia] a enorme vontade de não interferir", sublinhando que "a dissuasão é o caminho para a paz”.

“Se olharmos para esta área, os navios não NATO desaguam numa linha que une a Gronelândia e a Islândia ao Reino Unido, e quem passa essa linha vem desaguar a norte do arquipélago dos Açores. É, obviamente, muito importante para Portugal disponibilizar meios da Marinha para ajudar a Aliança Atlântica no patrulhamento desta área estratégica”, afirma o comandante Batista Pereira.

Esta é uma missão de avaliação e de segurança da NATO mas também de envio de mensagens claras que têm, considera, de ser percetíveis aos possíveis inimigos.

"A NATO tem capacidade, está presente e tem vontade de perceber a que movimentações e atividades se dedicam os que não são membros da aliança"

Para Portugal, “é muito importante um submarino fazer este tipo de missão porque temos os olhos postos em nós a nível da NATO e a nível externo”.

“Executar este tipo de missões com sucesso fortalece significativamente aquele que é o objetivo central dos submarinos e que é provocar dissuasão e manter a paz”, argumenta o militar.

"Haverá ruído quando o gelo estiver solto e silêncio quando estivermos debaixo do gelo"

Paula Oliveira é a sargento mais nova da guarnição e está ansiosa para escrever mais um capitulo na sua experiência a bordo do Arpão, mas confessa que, “desta vez está a custar um pouco mais". "Estamos ansiosos porque ninguém fez esta viagem antes e não sabemos o que vamos encontrar”, sublinha.

Responsável pelos sistemas de combate e o sonar, conta que o grande momento da viagem será a navegação inédita por baixo do gelo do Ártico.

“Vamos passar por baixo da calote polar, não sabemos como é mas vamos encontrar a fase de muito ruído quando houver muito gelo solto e a fase do silêncio absoluto que será quando estivermos debaixo da calote polar”, afirma a sargento Paula Oliveira.

"Não vamos sozinhos"

Taveira Pinto é o comandante do Arpão que leva a bordo 36 pessoas, uma guarnição de 33 pessoas, entre elas duas mulheres, à qual se juntam ainda três alunos numa viagem cuja tirada mais longa terá 26 dias.

“Sendo a nossa primeira vez no Ártico não vamos sozinhos, vamos estar em cooperação com a Marinha dos Estados Unidos, Canadá e da Dinamarca. Teremos o apoio logístico e de especialistas”, conclui.

"Desta vez está a custar um pouco mais, estamos ansiosos porque ninguém fez esta viagem antes e não sabemos o que vamos encontrar"

O Ártico é um território dividido por vários países: Estados Unidos, Canadá, Rússia e Dinamarca. É conhecido por ser uma zona gélida. Questionado sobre que impacto isso tem na guarnição do Arpão, o comandante Taveira Pinto explica que, quando as águas são mais quentes, o submarino aquece mais, mas tem um sistema de ar condicionado para manter a regulação da temperatura dos equipamentos e guarnição.

Portugal tem dois submarinos. Tridente estará em breve "disponível"

O comandante da Esquadrilha de Subsuperfície, Batista Pereira, considera que Portugal tem dois dos mais modernos submarinos convencionais da NATO, com tripulações muitos experimentadas.

“O tempo de vida de um submarinista na NATO anda nos 10 anos e em Portugal anda entre os 20 e os 25 anos, e estarmos mais tempo dedicados a esta atividade dá-nos um conhecimento maior. Não ficamos atrás de ninguém”, constata.

O Tridente é outro dos submarinos portugueses e está em manutenção pela primeira vez em Portugal, no arsenal do Alfeite. “A indústria naval militar portuguesa está a mostrar ser capaz de reparar e fazer manutenção a um equipamento de alta tecnologia com apoio dos alemães. Estará muito em breve disponível e passaremos a ter não só o Arpão disponível, mas também o Tridente”, revela Batista Pereira.

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