Pedro Nuno Santos quer programa de saúde oral no SNS. PS já o promete desde 2016

10 jan, 2024 - 07:00 • João Carlos Malta

Secretário-geral do PS anunciou programa de saúde oral como medida emblemática, mas há quase uma década que os governos socialistas a promovem. Roque da Cunha, do SIM, fala de medida "requentada" e "abstrusa".

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Pedro Nuno prometeu, no passado domingo durante o discurso de encerramento do 24º Congresso do PS, “promover um programa de saúde oral que, de forma gradual e progressiva, garanta cuidados de saúde oral aos portugueses no SNS”. No entanto, desde 2016, durante o primeiro governo dos três liderados por António Costa, que o PS promete resolver este problema.

Em 2018, o então ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, apresentou o Saúde Oral Para Todos, um programa do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que, segundo o site do Governo, “visa promover e facilitar o acesso da população a cuidados de saúde dentários”. A mesma comunicação acrescentava que este se inseria “no conjunto de medidas do designado SNS + Proximidade, um dos eixos programáticos da política de Saúde do Governo”.

O presidente do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, assinala isso mesmo. “Essa medida, apresentada pelo secretário-geral do PS, é requentada. Foi várias vezes apresentada por vários ministros da Saúde e, por responsabilidade do PS - que está no poder há oito anos e tem a pasta da saúde há oito anos -, é que ela não acontece na prática", acusa.

O sindicalista detalha que, atualmente, nos poucos sítios em que há cadeiras dentárias e médicos dentistas, os mesmos “não dão resposta”.

“[Pedro Nuno Santos] foi lá ao arquivo dele buscar uns papéis do doutor Adalberto Campos Fernandes que anunciou o programa nacional de saúde oral, no qual ia pôr cadeiras de dentistas em todos os centros de saúde e dentistas para o povo todo”, ironizou.

"Essa medida, apresentada pelo secretário-geral do PS, é requentada. Foi várias vezes apresentada por vários ministros da Saúde" , Jorge Roque da Cunha, presidente do SIM.

E continuou em tom jocoso: “O Partido Socialista não está só há oito anos no poder, aliás dos últimos 20, só não esteve 15 anos no poder. É uma ideia abstrusa”.

Saúde oral no SNS. Uma promessa com anos de história

Ora em 2018, e depois de as experiências-piloto avançarem em 2016 em 13 centros de saúde, elas foram sendo replicadas noutras regiões, existindo já 63 gabinetes de saúde oral nos cuidados de saúde primários de norte a sul do País. Nessa altura, Adalberto Campos Fernandes anunciava o programa “Saúde Oral para Todos” como “uma medida histórica para o país”.

“O SNS passa a ter nos centros de saúde médicos dentistas, higienistas orais e assistentes dentários", afirmou então Adalberto Campos Fernandes.

Pedro Nuno reconheceu que as coisas não correram bem nesta área, no discurso na FIL. “Portugal apresenta sistematicamente maus resultados no que diz respeito à saúde oral”. “Sabemos bem que só conseguiremos superar esses maus resultados se a medicina dentária passar a ser uma realidade consistente no SNS”, enfatizou.

Para isso até prometeu “a criação de uma carreira de medicina dentária no SNS”.

O novo secretário-geral socialista terminou com a ideia de que quer “que a saúde oral dos portugueses passe a ser uma preocupação do nosso Serviço Nacional de Saúde”.

O presidente do SIM diz que a realidade atual, nesta área, é paupérrima. “Os centros de saúde em que existem médicos dentistas, em regime de prestação de saúde, são residuais" e esta é uma carência que devia ser resolvida, argumenta.

E concretiza: “Se houver uma cadeira de dentista por cada unidade de centros de saúde, é uma sorte.”

Roque da Cunha critica a forma como o agora secretário-geral do PS lançou esta medida. “As pessoas quando estão em campanha eleitoral esquecem-se de uma coisa que o nosso cérebro tem que é a memória, mandam assim aquelas coisas, porque sabem que o custo de acesso a médicos dentistas é exorbitante”, lamenta.

O presidente do SIM dá um exemplo concreto que, na opinião deste sindicalista, simboliza o falhanço destes programas dos governos liderados pelo PS.

Em Loures, para uma população de 250 mil pessoas, há duas cadeiras de dentista, com médicos a tempo parcial. É mais uma medida que faz parte da narrativa de um programa eleitoral que deveria preocupar-se em investir no SNS e criar condições para que os portugueses tivessem acesso ao que é básico: às urgências, uma cirurgia em tempo útil, uma consulta em tempo útil e médico de família para 1,8 milhões de portugueses”, resumiu.

"Se houver uma cadeira de dentista por cada unidade de centros de saúde, é uma sorte", Jorge Roque da Cunha, presidente do SIM.

Por isso tudo, diz que as prioridades de Pedro Nuno “estão invertidas”.

"Inqualificável"

Olhando para a situação do SNS, Roque da Cunha afirma ainda ser “inqualificável” que − quando “temos as urgências como temos”, “as pessoas a morrer como temos” e “listas de espera inomináveis”, ou ainda o caso do centro de saúde em que trabalha no qual “foram adiadas consultas marcadas há um ano” − a prioridade seja a saúde oral.

Ainda assim, concede que esta é uma questão importante. “Sou solidário com quem tem cáries dentárias, mas em relação às pessoas que têm hipertensão, diabetes, poderão ter um AVC e morrer, há aqui, apesar de tudo, uma hierarquia”, sustenta.

Também o Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, diz em declarações à Renascença que havia outras áreas que entende "que possam ser prioritárias, nomeadamente a questão da resposta urgente, os médicos de família para os portugueses, e um acesso mais célere às cirurgias e às consultas”.

“Mas há também aqui um problema de saúde oral que deve ser resolvido não sendo, neste elencar de alguns temas, o mais importante”, avalia Cortes.

"Sou solidário com quem tem cáries dentárias, mas em relação às pessoas que têm hipertensão, diabetes, poderão ter um AVC e morrer, há aqui, apesar de tudo, uma hierarquia", Roque da Cunha.

Carlos Cortes reconhece que “a medida não é nova”, mas não lhe retira, apesar de tudo, importância.

A história de um programa e um bastonário "incrédulo"

Relembre-se que mesmo depois de Adalberto Campos Fernandes, os anúncios na área da saúde oral não foram largados pelo PS. A sua sucessora Marta Temido, em 2019, fez um resumo do currículo socialista nesta matéria.

“Fizemos esse esforço quando lançámos em 2005 um programa nacional de prevenção da saúde oral, quando lançámos em 2008 o cheque-dentista e, mais recentemente, quando alargámos o âmbito do cheque-dentista”, afirmou à época.

Nas declarações feitas à margem da inauguração do Serviço Odontopediátrico de Lisboa (SOL) da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Marta Temido sublinhou também a forma como equipas de saúde oral têm vindo a ser progressivamente instaladas “na capilaridade dos cuidados de saúde primários”, acrescentando que 80% dos agrupamentos de centros de saúde já têm respostas de saúde oral.

No domingo, em entrevista à TSF no rescaldo do congresso socialista, o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Miguel Pavão, mostrou-se “incrédulo e surpreendido por um discurso tão transversal dedicar tanta atenção à saúde oral".

"Vi numa capa de jornal que o filho de Pedro Nuno Santos usa aparelho ortodôntico. Se calhar, pelo exemplo do filho dele, ao ter de pagar o tratamento ortodôntico completamente ao seu filho, percebe que os portugueses muitas vezes ficam aquém desta mesma resposta de saúde oral. Se calhar foi isso também que o estimulou, diria", afirmou àquela rádio.

Miguel Pavão admitiu ainda não saber se o PS de Pedro Nuno Santos irá merecer o seu voto nas eleições de março, mas garantiu que vai cobrar esta promessa eleitoral se o Partido Socialista chegar ao Governo.

"Se Pedro Nuno Santos vier a ser primeiro-ministro será indesculpável se não avançar com a carreira de medicina dentária no SNS", rematou.

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  • ze
    10 jan, 2024 aldeia 09:51
    Mais uma "promessa" !.....agora é que é....ou vai-se fazer um estudo......ou criar uma comissão....etc.....Enfim, nada de novo.Continuem a votar PS para este país não se desenvolver e continuarmos na cauda da UE e sempre de mão estendida a pedir esmolas.

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