10 jun, 2022 - 08:36 • José Barata
Carlos Fangueiro é o primeiro treinador português a sagrar-se campeão do Luxemburgo. Um feito que o deixa orgulhoso e lhe dá licença para sonhar com a Liga dos Campeões e, no futuro, sucesso em Portugal.
Assumiu o Dudelange, do Luxemburgo, na temporada passada e, esta época, sagrou-se campeão nacional. Em entrevista à Renascença, Carlos Fangueiro admite que as dificuldades adoçam ainda mais o feito.
"É uma alegria enorme, um orgulho tremendo, sobretudo num país onde existem uma grande comunidade portuguesa de emigrantes, ser o primeiro português ganhar o campeonato. Sendo que a cada ano que passa este campeonato luxemburguês de futebol da primeira divisão fica ainda mais competitivo e este foi extremamente competitivo. Foi difícil, sobretudo porque o clube atravessou dificuldades financeiras, e não tínhamos poder de contratação. Tivemos de ficar com alguns jogadores que já não jogavam há dois ou três anos. Foi um trabalho árduo, mas que no final nos dá muito mais sabor”, enaltece o técnico português.
Com o título alcançado, o Dudelange vai disputar a primeira pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Carlos Fangueiro não esconde a felicidade: "Era um sonho meu participar na Liga dos Campeões."
"Eu sabia que aqui no Luxemburgo, se fosse campeão, podia conseguir esse sonho. E vamos jogar aqueles jogos que poderão eventualmente dar acesso, mais tarde, à fase de grupos. Não é fácil, mas vamos tentar. O facto de participarmos na Champions também vai nos permitir receber bastante dinheiro e isso vai fazer com que o clube volte a ter anos mais tranquilos. Portanto, toda a gente vai sair e ganhar e quando isso acontece, toda a gente fica contente, como é óbvio”, afirma.
Carlos Fangueiro revela que já teve convites para treinar em Portugal, "mesmo antes de ter sido campeão no Luxemburgo".
"Em novembro e dezembro, houve um contacto para treinar em Portugal num clube da II Liga. Não posso dizer, logicamente, o nome do clube, porque havia um treinador, ainda, que acabou por ficar", explica.
Nesta entrevista a Bola Branca, o treinador revela que, "há cerca de um mês", renovou por mais duas temporadas. Carlos Fangueiro acredita, contudo, que o regresso a Portugal acabará por acontecer:
"Estou feliz aqui. Tenho um sonho de voltar a Portugal, um
campeonato muito mais competitivo e representativo. Sei que mais tarde ou mais cedo isso vai acontecer. Não foi o momento, desta vez, mas
ambiciono regressar e tudo farei para que possa ter em Portugal um bom projeto."
Carlos Fangueiro não discrimina ligas, desde que o projeto seja atrativo.
"Existem projetos interessantíssimos, mesmo na
Liga 3, portanto, vamos dando um passo de cada vez. Para mim isso é o mais
importante. Não quero galgar escadas e depois tropeçar. Um passo de cada vez, de
uma forma segura, madura, sem pisar ninguém, antes pelo contrário: sempre com
possibilidade de ajudar, de ajudar as pessoas", sublinha.
Mesmo distante de Portugal, Carlos Fangueiro acompanha de perto o campeonato. O técnico do Dudelange considera que o Benfica, para a próxima temporada, vai ter de trabalhar mais do que o campeão FC Porto e o "vice" Sporting, que em principio vão manter os treinadores.
"O Benfica vai ter muito mais trabalho, com toda a certeza.
Não será fácil para Roger Schmidt chegar a adaptar-se a um país, uma nova
equipa, uma equipa multicultural, recheada de jogadores que vêm um pouco de
todo o mundo, numa equipa que está fragilizada porque ambicionava ser campeã e
não conseguiu. Portanto, passar a mensagem da ideia de jogo, da metodologia do
modelo em si, muitas vezes, não se consegue de um dia para o outro. Por isso
mesmo, acho que o Benfica vai partir alguns degraus abaixo, relativamente ao
Sporting e ao Porto, que já têm algo estruturado, que já tem uma organização", sustenta.
Num olhar sobre a seleção nacional, Carlos Fangueiro entende que é legítimo que os portugueses sonhem com a conquista do Mundial, pela qualidade dos jogadores e a capacidade de gestão humana do selecionador. Contudo, avisa que, além de "competência e qualidade", "é preciso uma pontinha de sorte" para subir ao topo do mundo.
Portugal tem mostrado "uma alternância muito grande" na qualidade de jogo, "mesmo assim ganhando". Isso faz Carlos Fangueiro acreditar que a seleção nacional pode ganhar um Campeonato do Mundo.
"É aquilo que ambicionamos e procuramos há algum tempo. Temos jogadores que
estão a jogar um bocadinho em todo o mundo, em grandes projetos,
em grandes clubes, dos melhores da Europa. Com um grande treinador [Fernando Santos] à
frente, também, que já mostrou provas de que é competente e de que consegue, sobretudo,
gerir um grupo. E para mim, hoje, isso é fundamental. Portanto, com essas
condicionantes todas juntas, e sendo elas positivas, acredito que, mais cedo ou
mais tarde, vamos conseguir um título dessa envergadura", conclui.
Carlos Fangueiro, de 45 anos, antigo jogador de Vitória de Guimarães ou Gil Vicente, conquistou o título nacional do Luxemburgo pelo Dudelange, com 67 pontos, mais cinco que o segundo classificado, o Differdange.