Eleições Legislativas 2024

PS “firme” após a crise política. Toda a AD não é maior que a soma de PSD e CDS

31 jan, 2024 - 07:00 • Diogo Camilo

Socialistas não caíram nas sondagens após a queda do Governo - e até subiram desde a eleição de Pedro Nuno Santos. Entre os maiores de 35 anos, que foram 85% do eleitorado há dois anos, o PS subiu mais de dois pontos. PSD ganhou apenas 0,4 pontos ao coligar-se com o CDS e PPM. "Diferenças são tão pequenas que não são estatisticamente significativas”, defende Luís Aguiar-Conraria.

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O terramoto da Operação Influencer fez o Partido Socialista abanar nas intenções de voto, mas não cair - e até reerguer-se. Após 7 de novembro, o dia em que António Costa anunciou a sua demissão, o PS desceu ligeiramente nas sondagens, mas recuperou o que perdeu e até subiu desde a eleição de Pedro Nuno Santos. Do outro lado, a máxima “o todo é maior que a soma das partes” não se confirma à direita: Aliança Democrática está, hoje, abaixo das somas de PSD e CDS quando a coligação foi anunciada.

Uma análise aos resultados do Sondagem das Sondagens mostra que o PS sofreu uma queda de três pontos percentuais nos inquéritos de opinião realizados nos dias seguintes ao início da crise política, caindo dos 28,7% para os 25,7% de intenção de voto - o pior resultado dos socialistas no agregador da Renascença, que tem em conta todas os inquéritos de opinião realizados desde 2016.

Nessa altura, o PS foi ultrapassado pelo PSD, mas a vantagem laranja durou apenas oito dias.

Nas quatro sondagens seguintes, e após desenvolvimentos sobre a Operação Influencer que envolveram a demissão de João Galamba, erros do Ministério Público, a queda do crime de corrupção e a saída de arguidos em liberdade, os socialistas voltaram a subir nas intenções para os 28,4% - apenas a três décimas de onde tinham ficado antes da queda do Governo.

PS. Um eleitorado “firme” e a subida ao poder de Pedro Nuno Santos

Para Luís Aguiar-Conraria, presidente da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e consultor do Sondagem das Sondagens, esta não-queda do PS é resultado de uma “grande estabilidade”.

“A verdade é que, desde há um ano, as crises governativas e os casos e casinhos no PS se sucedem, portanto já estava tudo incorporado nas expectativas dos eleitores”, afirma, o que leva os socialistas a terem, neste momento, um eleitorado “mais firme” - e que, portanto, sofre menos variações.

Antes da eleição de Pedro Nuno Santos como novo secretário-geral do partido, em meados de dezembro, o PS já estava acima das intenções de voto que registava antes da crise política e, com o novo líder, subiu ainda mais.

No último mês e meio, e já contando com as três sondagens divulgadas este ano, o PS subiu mais 1,2 pontos percentuais e voltou aos 30%, uma barreira que não ultrapassava desde o final de outubro. A diferença para a AD, que está agora acima dos três pontos percentuais, também não era tão alta desde esse momento.


Jovens castigaram o PS, mais velhos mantêm confiança

Para que os socialistas aumentassem a vantagem para o PSD, em muito contribuíram os maiores de 35 anos. Numa análise anterior, aplicando o mesmo método da Sondagem das Sondagens, a Renascença revelou que o PS reuniu, no final do ano passado, 33,2% das estimativas de intenção de voto, enquanto o PSD encontrava-se com 27,6%.

Esta percentagem subiu 2,1 pontos percentuais desde a queda do Governo, dentro de uma faixa etária que representou, nas últimas eleições, 85% do eleitorado do PS, segundo um estudo pós-eleitoral realizado pelo ISCTE.

A mesma investigação sobre as legislativas de 2022 refere também que, enquanto metade da faixa etária com mais de 55 anos votou no PS, também metade dos votos do PS vieram de maiores de 55 anos.

O partido teve também uma das mais altas percentagens de votantes que decidiram o seu voto mais de um mês antes das eleições: 80%.

Ao mesmo tempo, e entre os jovens com idades dos 18 aos 34 anos, o PS caiu quase cinco pontos percentuais, para 15,2%, quando tinha 19,8% antes da queda do Governo.

Nas últimas eleições, o PS teve 23% dos votos dentro desta faixa etária, o que representou apenas 15% do eleitorado do partido.


AD. PSD ganhou 0,4 pontos com a coligação com CDS

São apenas 3 sondagens, mas o início da AD não mostra sinais de que a coligação comprove o princípio da adição, registando piores resultados nos inquéritos que a soma de PSD e CDS.

Na Sondagem das Sondagens, a Aliança Democrática regista uma estimativa de 26,7% da intenção de voto, menos um ponto que PSD e CDS juntos, da última vez que surgiram num inquérito de opinião, no final de dezembro. Em relação ao PSD, a diferença é de apenas 0,4 pontos percentuais.

Nessa altura, o PSD desceu ligeiramente, para os 26,3%, enquanto o CDS também caiu para os 1,3%. Juntos, representariam na altura 27,6% das intenções de voto com a criação da Aliança Democrática, que tem também o Partido Popular Monárquico na coligação, que juntou apenas 260 votos nas últimas legislativas (0,005%).

Nessas eleições, a soma de PSD, CDS e PPM foi de 30,7%, mais quatro pontos do que a AD regista neste momento.

Luís-Aguiar Conraria não desvaloriza as intenções, mas alerta que as diferenças “são tão pequenas que não são estatisticamente significativas”.

“Acrescentar o CDS à coligação, em termos globais, não acrescenta nada de especial à prestação que o PSD iria ter. Também me parece que, desde o início, contavam com isso, que o CDS valeria muito pouco. A prova disso é que só há dois candidatos do CDS com lugar mais ou menos garantido e que, se as coisas correrem muito bem, poderão chegar aos quatro, portanto o CDS está a ser tratado como um partido quase irrelevante”, considera.

O economista refere também que este é o ponto de partida para a Aliança Democrática, já que o CDS é “um partido sem peso nenhum”. “O ponto de partida já era de que o CDS é irrelevante e que essa falta de impacto nas sondagens limita-se a confirmar a expectativa inicial.”


Somar PSD e CDS? “É um raciocínio demasiado básico, mas o melhor que temos”

Em entrevista à Renascença, Luís Aguiar-Conraria referiu que a soma de dois partidos para estimar os votos de uma coligação é um “raciocínio demasiado básico” e que não está correto, mas defende que, “enquanto aproximação imperfeita, será o melhor que temos”.

“Não é correto porque é perfeitamente admissível que haja pessoas que estivessem disponíveis para votar no PSD, por exemplo, e que não estejam disponíveis para votar num partido que inclua o PPM, talvez por serem republicanos convictos e não quererem nada com monárquicos”, afirmou.

Neste exercício hipotético, de que o método d’Hondt favorece a coligação, é muitas vezes usado o exemplo das últimas legislativas.

Em dezembro de 2021, a Comissão Política do PSD decidiu que seria “mais vantajoso” para o partido concorrer sozinho, em vez de recorrer a uma coligação pré-eleitoral com o CDS.

Mas, na teoria, a soma dos votos de ambos os partidos nas eleições de 2022 teria permitido impedir a maioria absoluta do PS, com a coligação a retirar cinco deputados ao PS e ainda um ao Chega.

Nestas eleições de 2024, o CDS tem nas listas da AD o 2.º nome no Porto, Nuno Melo, e o 4.º em Lisboa, Paulo Núncio, que têm o mandato praticamente garantido.

Mais difíceis são as contas para os outros dois nomes: Isabel Galriça Neto está no 16.º lugar das listas da AD em Lisboa e Álvaro Castello-Branco na 16.ª posição no Porto, lugares considerados de difícil eleição. A última vez que o centro-direita elegeu 16 ou mais deputados na capital foi em 2015, com outra coligação, a Portugal à Frente de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas.

Em 19.º lugar da lista por Lisboa está o outro membro desta coligação, o representante do Partido Popular Monárquico, Gonçalo de Câmara Pereira, mas que precisará de um resultado histórico para ser eleito: desde 2011 que PSD e CDS, juntos, não elegem 19 ou mais deputados.

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