Às 5h00 da manhã já os calceteiros da freguesia de Rio de Loba estão acordados para mais um dia de trabalho. Luís Ferreira, de 42 anos, tenta apoiar a comunidade imigrante como sabe, ensinando o ofício, uma vez que é calceteiro há seis anos.
“É um trabalho muito difícil, às 5h00 e pouco acordamos. Nunca há horários certos para se sair, vamos para longe, para perto, depende onde houver trabalho. Hoje não há quem queira isto, é um trabalho duro. É uma profissão em vias de extinção, se acabarem estas pessoas mais velhas, os mais novos não querem isto. Damo-nos bem com os imigrantes. Eles vieram para cá, querem ser bem respeitados. Como nós quando vamos lá para fora”, considera Luís.
Aponta a dificuldade dos trabalhadores migrantes em aprender o Português. “Vêm para um país onde não sabem nada. Há aí uns que têm nomes esquisitos, mas outros não. Aprendem connosco. Têm de aprender com a gente. Eles não trabalhavam nisto nos países deles”, garante o calceteiro.
“Eu não quero os meus filhos a fazer este trabalho”
Manuel, de 56 anos, também ganha a vida a construir e reparar calçadas. Vê esperança nas comunidades imigrantes. De outra forma, a calçada portuguesa estava em risco.
Calceteiro há 40 anos, diz que “é preciso paciência para ensiná-los. É ensinando. A gente sabe como é que se faz e ensinamos como têm que fazer. Mais nada. Porque eles aprendem fácil, empenham-se nas coisas”. E se não fossem estas comunidades a darem uma ajuda na calçada portuguesa? “Não sei como seria, nem sei como será. Porque eu também não quero os meus filhos a fazerem o este trabalho, sabes? Isto é duro. E para quem é mole, Deus me livre. Porque os nossos jovens chegam aqui dois dias e três e vão-se embora. Não é fácil. Porque é muito esforço físico. As costas, é duro. É duro, é duro”, descreve, sem rodeios, Manuel.
Só as barreiras linguísticas atrapalham. O Português está longe de estar na ponta da língua e o Inglês não é fluente. Apenas os mais novos aprendem com facilidade. Jasmine, de nove anos, é nepalesa, veio com os pais e os irmãos, de 13 e quatro anos à procura de melhor vida em Portugal.
A mãe Sangam Tiwari, de 33 anos, vai todos os dias buscá-la à escola, com esperança num futuro. Chegaram a Rio de Loba em dezembro passado. “Gosto muito de viver aqui, é calmo, o meu marido trabalha aqui. Gosto do tempo, da comida. Vejo muitas oportunidades aqui para as minhas filhas”, salienta Sangam, na companhia do filho mais novo, Hitesh, que já sabe contar até 10 em Português e a irmã, Jasmine, frequenta, com sucesso, a escola de Travassós de Cima.
“Aprendi o Português, já fiz amigos, gosto de todas as coisas, das professoras que me ensinam, dos amigos, do lugar onde vivo”, destaca Jasmine, admitindo ter saudades da família, no Nepal, da avó, dos tios e dos primos. “Quando crescer quero ser engenheira ou doutora”, remata.