Não é possível travar a globalização
Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), está preocupado. Apesar de todos os contratempos provocados pela pandemia, o país teve um “desempenho muito interessante” ao nível das exportações no primeiro trimestre. Mas se a falta de matérias-primas não for resolvida no curto prazo, a recuperação económica de Portugal pode mesmo estar em causa.
“Se não conseguimos ter matéria-prima, se não conseguimos ter bens de consumo intermédio, se não conseguimos concluir a produção dos nossos produtos, muitos dos quais exportamos, obviamente aquilo que foi o desempenho e a performance das nossas exportações, que até ao mês de março estavam com uma avaliação positiva, pode regredir. Como é público, há empresas que já suspenderam a atividade e há outras que estão com muita dificuldade na entrega e cumprimento das suas encomendas”, diz à Renascença.
A AEP foi alertada por associados para as falhas no fornecimento já há alguns meses e comunicou essa situação ao Ministério da Economia. As empresas estão a ser “altamente penalizadas” não só pela questão dos prazos de entrega e escassez de materiais, mas também pelo custo do transporte marítimo. “Em múltiplos casos, mais do que triplicou.”
Para Luís Miguel Ribeiro, a Europa (a pensar em futuras crises) deve agora apostar numa campanha de reindustrilização, “na diminuição da dependência de outros mercados”, nomeadamente o asiático; no caso português, fazer um uso inteligente das verbas disponibilizadas para o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). “Ao proporcionarmos às empresas outros meios e instrumentos de apoio à capitalização, estaremos certamente a contribuir para que situações como esta, no futuro, possam ter um impacto menor. Sendo certo que a globalização é um processo que não tem retorno. Vamos continuar a assistir e a vender e a importar para o mundo”, sublinha.
Tal como Luís Miguel Ribeiro, Rafael Campos Pereira, da AIMMAP, também vê o momento presente como uma oportunidade para repensar a industria metalúrgica na Europa. “Há componentes importantíssimos para a indústria transformadora que são essencialmente importados de fora da União Europeia.” A inexistência de matérias-primas “pode comprometer várias empresas” que precisam “de trabalhar” e responder a encomendas em espera.
“Nós temos que fazer uma aposta. Temos ouvido muitas vezes responsáveis europeus falarem num investimento a sério da europa na reindustrilização da Europa e na criação de maior autonomia, mas na prática não se vê a fazer nada. Temos que ter fábricas na Europa a produzir este tipo de componentes como também temos de investir de forma estruturada, a médio e longo prazo na criação de siderurgias”, diz.
O vice-presidente da AIMMAP defende ainda que a União Europeia deve repensar algumas das cláusulas de salvaguarda. “Existem cláusulas de salvaguarda que são verdadeiramente restrições à importação de matérias-primas de fora da europa para, alegadamente, se proteger os fabricantes europeus de matérias primas”, acusa.