12 jan, 2024 - 18:57 • Pedro Mesquita
Trinta por cento dos jovens nascidos em Portugal vivem fora do país e quase um terço das mulheres em idade fértil optou por sair. Estes dados constam do “Atlas da Emigração Portuguesa”, que será lançado na próxima semana, e já foram antecipados pelo semanário Expresso.
Na leitura do pensador José Gil, o resultado desta debandada será “uma cultura portuguesa com buracos” e uma "perturbação das relações sociais que ameaça a própria democracia”.
Este filósofo, sublinha – em entrevista à Renascença - que “o impacto não vai ser bom" porque, "como se diz sempre, a juventude é a geração que recebe a herança da nossa cultura e que a passa aos seus filhos, etc".
"Ora, se a juventude, uma importante parte da juventude – 30% é enorme - se vai embora, eu acho que vai ficar um buraco que tem que ser preenchido. E vai ser preenchido por quem?”, questiona.
“É muito diferente um estrangeiro que se forma em literatura portuguesa e um português que se forma em literatura portuguesa”.
José Gil salienta, por outro lado, que a saída de uma massa crítica em percentagem tão relevante vai provocar “buracos e lacunas”. “O que está em jogo é, muito simplesmente, a cultura e a nação portuguesa, o português”.
Na interpretação deste ensaista, “os políticos, que proclamam a importância decisiva da educação, em Portugal, não fazem". "A educação atualmente está um descalabro”, defende.
E saindo - como está a sair - toda essa massa crítica importante da nossa cultura, conclui José Gil, é que a própria democracia que pode ficar em causa. “Quando se começarem a ver os efeitos e os sintomas haverá uma perturbação ainda maior nas relações sociais e isso vai ser aproveitado, como é imediatamente aproveitado, pelo populismo...pelo populismo de extrema-direita. Isso é evidente. Portanto, é claro que é uma ameaça à democracia”, remata.