Sabores de Chaves está de volta para “retomar o caminho da esperança”

12 fev, 2022 - 10:09 • Olímpia Mairos

O certame é uma montra dos produtos do concelho. O regresso ao formato presencial contempla um rigoroso Plano de Contingência.

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Em 2010, Manuel Peiroso decidiu mudar de vida, deixou a cidade de Vila Real onde vivia e trabalhava como gestor de mercado de uma empresa de bebidas, e regressou às origens.

Na aldeia onde nasceu, Vilarinho das Paranheiras, no concelho de Chaves, com a esposa, começou por se dedicar à criação de porcos, seguindo as “pisadas do pai e do avô”.

O projeto cresceu, consolidou-se e tornou-se num negócio familiar. A Manuel, juntaram-se também duas irmãs, emigrantes em Inglaterra. Para além dos familiares, a empresa emprega ainda mais quatro colaboradores. E está a pensar recrutar mais.

A Casa do Capador, assim se designa a empresa, localizada ao quilómetro 13 da Estrada Nacional 2, especializou-se na criação de porco bísaro, tendo atualmente cerca de 100 animais em regime de produção extensiva e dedica-se também à produção de fumeiro e à restauração, com um restaurante, onde o prato de referência é o leitão assado, e uma carrinha de ‘street food’, onde vende sandes de leitão em eventos.

“O investimento em todo este projeto é significativo e o retorno é lento”, conta Manuel à Renascença, realçando que o principal objetivo é “partilhar com os clientes os sabores de antigamente”.

“É isso que que nos faz lutar todos os dias, porque isto é uma vida muito intensa, não temos folgas, não temos feriados, nem festas de ano”, diz.

O trabalho é imenso, explica, porque os porcos são alimentados à base de produtos da terra e o fumeiro confecionado de forma tradicional. “Mas vale a pena”, diz o produtor de 50 anos.

“Nós ainda nos damos ao trabalho de cozer o centeio e as batatas aos porcos, porque foi assim que aprendemos com os nossos pais e isso traz benefícios à carne e sente-se à mesa”, observa.

O facto de os animais andarem ao ar livre também se reflete na qualidade do produto.

Manuel Peiroso conta que o porco bísaro “descendente do javali, é um animal que está habituado a andar; se estiver confinado vai ter muito mais gorduras. E assim, em contacto com a natureza, consegue ter a percentagem certa de gordura, porque vai queimando o excedente da energia”.

De forma artesanal para garantir qualidade e paladar

Já em termos de produção de fumeiro, Manuel garante que a confeção é feita de forma artesanal com vista a assegurar a qualidade e o paladar.

“É uma dimensão pequena e perfeitamente artesanal e sazonal. Fazemos quando o fumo nos permite. Nunca sabemos se trabalharmos até maio, até abril ou se temos que fechar em março, porque estamos sempre dependentes do tempo. Não temos um controlo de temperatura, é mesmo um processo artesanal. Optamos por uma cozinha e não por uma indústria, por isso fazemos uma produção perfeitamente sadia”, conta.

E clientes parecem não faltar. Chegam do mercado da saudade, das ilhas e do Algarve.

“Está-nos a crescer água na boca”

A “Casa do Capador” é uma das cozinhas tradicionais que vai marcar presença na feira “Sabores de Chaves”, que se realiza entre 18 e 20 de fevereiro, e que conta com a presença de 48 expositores de venda de produtos alimentares, enchidos e artesanato.

O presidente da Câmara de Chaves, Nuno Vaz, destaca a grande expetativa em torno do certame que significa também o retomar de alguma normalidade.

“Vamos poder cheirar, ver, sentir, não digo degustar, mas, pelo menos, estes outros sentidos podem estar em uso relativamente àquilo que são os produtos tradicionais: o nosso fumeiro, o nosso pastel, os nossos produtos locais que, certamente, todos nós estamos, enfim, com muita vontade. Está-nos a crescer água na boca para que isso possa acontecer”, afirma Nuno Vaz.

À venda, para além do fumeiro (alheira, linguiça, salpicão, chouriços variados), vai estar o presunto, o pastel e o folar de Chaves, o pão centeio, os vinhos, licores, mel e compotas.

Destaque ainda para a realização de vários showcookings, com a presença do conceituado Chef Cordeiro e o apoio da Escola Profissional de Chaves e do nutricionista das Termas de Chaves.

Plano rigoroso de contingência

O certame vai realizar-se de forma presencial, embora ainda com restrições devido à pandemia de Covid-19.

“Tem naturalmente menos expositores do que é habitual, por indicações das autoridades de saúde, e terá um circuito perfeitamente definido, distinguindo a entrada da saída, e um controle nas entradas, no sentido de verificar se as pessoas têm o certificado de vacinação ou de recuperação para entrar na feira”, explica o autarca.

O Plano de Contingência inclui também o uso obrigatório de máscara e a higienização das mãos. E no recinto estará instalado um posto de testagem, permitindo a realização de testes à Covid.

Apesar de a feira ter uma dimensão menor de festa, uma vez que não contempla espaços de degustação nem animação, o autarca considera que será “mais uma oportunidade, um momento de afirmar Chaves e os nossos produtos”.

“O comércio, o turismo e as vendas de produtos tradicionais têm sofrido graves perdas nos últimos anos. Isto é uma oportunidade para começarmos a retomar o caminho da esperança”, assinala.

Plataforma online como forma de potenciar vendas

Para quem não se puder deslocar à feira, a organização disponibiliza uma plataforma online.

“Tendo em conta o sucesso alcançado ao longo do último ano, através de uma mostra online - que se constituiu como um ótimo espaço de promoção, divulgação e venda dos produtos, a plataforma digital continuará em funcionamento, como instrumento adicional de venda e promoção dos produtores locais”, informa a autarquia.

Atualmente agrega cerca de 30 produtores, respetivos contactos e informação adicional, assim como receitas para todos os gostos.

Este site, “de caráter dinâmico, para além de dar a conhecer produtores e produtos, vai apresentando propostas de conceituados chefes nacionais, bem como de várias personalidades convidadas, que se associaram a este projeto, aceitando o desafio de trabalhar com as iguarias gastronómicas flavienses, na elaboração de pratos requintados de autor, reinventando o tradicional de uma forma criativa e divertida, mas mantendo o sabor e qualidade reconhecida”, destaca a autarquia.

“Arroz de Fumeiro solidário” para ajudar famílias carenciadas

Uma das grandes novidades do evento, este ano, é a oportunidade de degustar em casa o típico Arroz de Fumeiro, que está associado a uma iniciativa solidária.

O “arroz de fumeiro solidário”, terá um custo de 2,5 euros por dose, será confecionado pela Escola Profissional de Chaves e acondicionado em doses individuais de forma a poder ser transportado e degustado fora do recinto. As receitas reverterão integralmente para as famílias carenciadas do concelho.

O presidente da Câmara de Chaves lembra que “em regra, todas as situações de pandemia, de desastre ou de convulsões têm incidência mais severa e mais violenta em quem menos tem e nós sentimos ao longo destes quase dois anos que algumas famílias foram atacadas naquilo que é o limiar da sua condição e quase da sua dignidade”.

“Já que não temos espaço de gastronomia, quisemos encontrar um motivo, uma razão e um fundamento de solidariedade. E esse fundamento traduz-se primeiro na afirmação de um prato de que nós queremos dar também a maior relevância e, ao mesmo tempo, com a venda deste produto poder adquirir bens no comércio tradicional, e bens de primeira necessidade, para entregarmos às famílias mais carenciadas, e que lutam, e muitas vezes, com situações desesperadas para terem um mínimo de subsistência que é o mínimo de dignidade, que é terem alimento”, esclarece.

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