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Pobreza menstrual

Faltar às aulas por não ter produtos menstruais? Acontece a 12% das raparigas

07 fev, 2024 - 21:21 • Ana Kotowicz

Para justificar a falta, mais de metade das raparigas disse estar doente. Menos de 10% das alunas disse a verdade.

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‘Envergonhada’, ‘triste’, ‘suja’, ‘vulnerável’, ‘nojenta’, ‘desconfortável’, ‘inútil’, ‘diferente’. Os adjetivos são vários, mas servem todos para o mesmo: descrever o que algumas raparigas portuguesas sentiram por faltar às aulas por não poderem comprar produtos menstruais. Esta realidade, a chamada pobreza menstrual, existe em Portugal e afeta 12% das jovens.

A conclusão é de um estudo da Spirituc – Investigação Aplicada, divulgado esta quarta-feira, e que quis perceber até que ponto é que a falta de dinheiro para comprar produtos de higiene afeta a assiduidade das raparigas. A promotora do estudo é a Evax, fazendo parte das suas iniciativas de responsabilidade social.

Para justificar a falta, mais de metade destas raparigas disse estar doente e menos de 10% disse a verdade.

Os números do estudo ilustram uma realidade escondida: entre as inquiridas (1.054 questionários), 12% afirma ter faltado às aulas por não ter conseguido comprar produtos menstruais. O volume é ainda maior quando se olha para o universo das alunas que tiveram de procurar alternativas. Mais de 23% das raparigas usaram lenços higiénicos, lenços, um segundo par de cuecas, algodão, roupa velha ou meias.

O estudo, enviado à Renascença, indica também que "quase 85% dos portugueses considera existir pobreza menstrual em Portugal e que dois em cada um dos inquiridos (19,1%) conhece um caso de pobreza menstrual".

Entre todas as raparigas inquiridas, duas em cada 10 (17,2%) "dizem conhecer alguém que já faltou às aulas por não conseguir adquirir produtos menstruais, e 25,5% indica que já tiveram amigas que lhes pediram produtos menstruais por não conseguirem comprá-los".

O retrato feito é de que são as jovens de estratos socioeconómicos mais baixos, entre os 18 e os 24 anos, quem tem maiores dificuldades económicas para adquirir estes produtos. Geograficamente, vivem na região centro do país.

Além das alunas, foram inquiridos professores e pais. Entre os primeiros, 22% disse conhecer alunas que não podem comprar produtos de proteção menstrual. Já entre os encarregados de educação, 8,4% assume ter tido dificuldades para comprar estes e 5,5% não esconde que já aconteceu as suas filhas terem ido para a escola sem proteção menstrual.

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