01 fev, 2024 - 11:58 • Maria João Costa
“É um retrato que eu vivi” diz Luís Pavão ao percorrer a exposição Lisboa Frágil que inaugura esta quinta-feira e abre sexta-feira ao público no Museu de Lisboa, no Palácio Pimenta.
A mostra patente até 31 de março reúne um conjunto de fotografias que este “antropólogo urbano”, como se identifica, fez ao longo dos anos.
“Principalmente na década de 1980, fotografei mais intensamente a cidade”, indica Luís Pavão, que nesta exposição revela o seu olhar para a “Lisboa popular, das tabernas, dos bailes, das vivências noturnas” que captou com a sua máquina fotográfica.
No Pavilhão Preto do Palácio Pimenta, ao visitante é devolvida a imagem de uma cidade que se “evaporou”, diz o fotógrafo.
“Eu andei sempre atrás das pessoas. O que me interessava era encontrar os mundos que eram menos conhecidos e que ia descobrindo. E era exatamente essa descoberta que me motivava, portanto, andava pelas ruas, metia o nariz nas coletividades, entrava nas escadas e nos bares”, relata Luís Pavão.
Esse caminho de “descoberta” era “às vezes, um bocadinho penoso, porque nem sempre era bem recebido”, confessa o fotógrafo.
“Desconfiavam de alguém que andasse de câmara. Nas tascas, tinham medo que eu fosse um fiscal das finanças! Nos bares, receavam que os fotografasse com outras mulheres, principalmente nos bailes”, conta Pavão, admitindo que teve “alguns problemas”, mas "nada que não se resolvesse".
Questionado pelo Ensaio Geral, da Renascença, sobre quem são as pessoas que retrata nesta exposição, Luís Pavão diz que representam a “luta pela sobrevivência”.
“São pequenos negócios, atividades, modos de vida, muitas vezes pessoas sozinhas, reformadas, que têm os seus locais de encontro e de convívio. São refúgios também, portanto, é um mundo da grande cidade."
Mas esta cidade que Luís Pavão mostra é, na maior parte das fotografias, história do passado que desapareceu. A preto e branco surgem memórias daquilo que se foi transformando.
“Muitas das tabernas que fotografei em 1980 e 1981 foram transformadas em restaurantes no Bairro Alto. Desapareceram todas. Foram tomadas”.
“Hoje Lisboa, não é isto! Transformou-se, ficou mais igual a outras grandes cidades. Perdeu um bocadinho a sua personalidade e estas pessoas que aqui vemos, fugiram”.
Nas palavras de Luís Pavão “Lisboa evaporou-se”. Agora, onde antes estava uma tasca, encontra-se “um banco ou uma casa de atração de turistas”, diz-nos. Perguntamos se ainda sente a mesma vontade de fotografar, ao que Luís Pavão diz que sim e que continua a andar de máquina ao peito.
“É a Lisboa que existe. As casas de Kebab também tem interesse, embora seja outra coisa, continuo a fotografar”, explica-nos considerando que a transformação da cidade “nos últimos 10 anos, foi avassaladora”.
“A indústria do turismo arrasou a cidade. Qualquer dia não vale a pena os turistas virem cá, porque podem ver aqui o mesmo que em Copenhague, ou em Paris. São as grandes cadeias, as casas para turistas, os imãs e as sardinhas, o fado prensado, fabricado à medida do gosto do turista”, lamenta o artista.
Na exposição Lisboa Frágil onde está também uma réplica do laboratório de revelação fotográfica, mostram-se trabalhos que começaram a ser feitos em 1971. Além das 150 fotografias expostas, Luís Pavão edita por ocasião da exposição um livro onde junta mais imagens da Lisboa Frágil.