17 abr, 2020 - 14:42 • Maria João Costa
“A morte dele foi um murro no estômago, para mim”, diz Paulo Galindro à Renascença.
O ilustrador português é autor das ilustrações de quatro livros de Luis Sepúlveda. Esta quinta-feira, perdeu um amigo. Galindro acredita que “a arte salva-nos” e diz que “nestes tempos de confinamento e clausura, esse aforismo” tem sido a sua “boia de salvação”.
Depois da notícia da morte do escritor chileno com quem trabalhou nos últimos anos, Paulo Galindro foi desafiado pela Renascença para ilustrar uma última despedida ao autor de “História de um Caracol que Descobriu a Importância da Lentidão”.
O artista explica que para si “foi muito bom fazer este trabalho”, acrescenta mesmo que “foi apaziguador”. Paulo Galindro que ilustrou, entre outros, o livro “História de uma baleia branca” explica: “como ilustrador estou, de certo modo, habituado a olhar um pouco para alma de quem escreve, e nesse processo, mostro também a minha alma ao autor, e a todos aqueles que irão ler os livros”.
Galindro, que ilustrou outro livro de fábulas como “História de um Gato e de um Rato que se Tornaram Amigos”, refere-se a Sepúlveda como “um escritor visceral”, com “livros complexos”. Nas muitas ilustrações que criou, “sem filtros”, há como dizem as suas palavras “uma carga emocional e humana muito grande”.
“Fiquei ligado a ele a um nível difícil de pôr em palavras. Foi por isso que decidi ilustrar… uma imagem vale mil palavras, dizem”, afirma Paulo Galindro, que partilha também com a Renascença o vídeo onde revela a criação da ilustração para Sepúlveda.
A ilustração foi criada por Paulo Galindro, “sobre uma placa de madeira”. Assim, explica o ilustrador no testemunho que nos enviou, poderá “oferecer a ilustração” a Carmen Yañez, a mulher de Luis Sepúlveda.
No desenho, o autor “aparece muito mais novo”, indica Galindro, que ressalva: “não sou retratista, nem pretendo ser, mas imaginei-o mais novo, com a idade da personagem do livro “História de um Cão Chamado Leal", uma obra também ilustrada por si.
Na imagem, Sepúlveda aparece vestido “com o traje do chefe da comunidade Mapuche, também conhecido como Longko, símbolo da tradição desse povo indígena do centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina”.
Galindro explica: “essa sempre foi uma cultura muito querida para ele, por muitas, muitas razões, mas muito especialmente por terem sido vítimas de constantes perseguições ao longo da história do Chile. A ligação é tão forte, que dois dos livros que ilustrei têm, como pano de fundo, os Mapuche”. São eles “História de uma Baleia Branca” e a “História de um Cão Chamado Leal” .
Paulo Galindro não tem dúvidas – “Sei que ele gostaria muito de se ver representado assim”. Nas palavras que enviou à Renascença, termina, usando a língua espanhola para se despedir do amigo Luis Sepúlveda. “Hasta siempre, amigo Lucho… Descansa en Paz”.