11 jul, 2023 - 08:56 • Olímpia Mairos
Na diocese de Vila Real, há jovens que sentem pressa e não veem a hora de partir para Lisboa, ao encontro do Papa Francisco e de outros jovens de todo o mundo.
É o caso de Ana Luísa Moreira, de Chaves, que vive estes dias com “grande expectativa” e com “uma vontade de levar os jovens até Lisboa, num grupo coeso”.
No coração, esta psicóloga que pertence ao COD de Vila Real, acalenta o desejo de, ao longo da jornada, “criar memórias futuras, memórias com raízes” e que consigam “voltar, cada um para o seu sítio, e espalhar um pouco daquilo que vamos viver nessa semana”.
A jornada já começou há muito e a peregrinação dos símbolos pelo país, concretamente pela região do Alto Tâmega, foi o rastilho que congregou os jovens, fomentou laços de amizade e solidificou a vontade de participar na grande festa mundial da juventude.
“Temos a sorte de levar ainda mais jovens do que aqueles que recebemos na altura da peregrinação dos símbolos e, portanto, é com esses jovens também que vamos fazer essa caminhada. Mas acredito que com aqueles que nos acompanharam desde o início, temos aqui bons laços que perdurem em atividades futuras”, conta à Renascença.
Por isso, Ana Luísa, que lidera um grupo de 56 jovens que com ele vão partir de autocarro para a JMJ, confessa que o seu coração “bate um bocadinho mais rápido”, só de pensar que o tão aguardado momento está a chegar e que vai encontrar-se com Francisco.
“Bate com essa emoção, mas com a expectativa daquilo que o Papa poderá dizer. Ele consegue sempre surpreender-nos e, portanto, com a expectativa de qual será a mensagem que ele nos vai deixar nessa semana”, diz.
Mas antes, esta jovem ainda tem muito trabalho pela frente e empenha-se para que nada falte aos 48 peregrinos vindos de Itália e que vão viver as pré-jornadas na Paróquia de Santa Maria Maior, em Chaves.
“Estamos a preparar”, diz com um sorriso rasgado, confidenciando que já começou a ver algumas palavras em italiano “para não fazer má figura” e a contactar instituições para apoiarem a iniciativa.
“Felizmente temos contado com instituições da cidade que nos têm acolhido e que nos vão dar a mão e caminhar connosco, nessa semana”, diz, acrescentando que o objetivo “é proporcionar aos peregrinos que vêm de fora bons momentos, também para que eles consigam voltar mais tarde para visitar, para falar de nós e para, futuramente, também conseguirmos ter aqui este laço e mantermos este laço com eles”.
De Constantim, Vila Real, vai partir para a JMJ 2023 um grupo de 15 jovens. Entre eles está Francisco Ferreira, de 23 anos que vê esta jornada como “uma oportunidade para encontrar jovens de todo o mundo”.
“Nós vamos participar na JMJ, eu e todo o grupo de Jovens de Constantim. Nós começamos a nossa caminhada enquanto grupo em 2016/2017. Não sabíamos ainda que ia existir esta Jornada Mundial da Juventude. Mas sendo nós duma aldeia onde não existem muitos jovens, isto é uma grande oportunidade para encontrar outros jovens cristãos de todo o mundo, ainda por cima, sendo cá, em Portugal. Portanto, acho que é uma oportunidade perfeita para nós participarmos”, conta à Renascença.
Para este jovem, “encontrar o Papa é algo excecional, ainda por cima, tendo o meu nome, também Francisco”. E se pudesse chegar à fala com ele, seria ainda muito melhor.
“Eu penso que ele é um Papa muito das pessoas e seria muito importante para mim falar com ele e transmitir-lhe todo o meu apoio na grande mudança que ele está a tentar trazer para a Igreja”, diz.
Sabe perfeitamente que o Papa gosta de fazer desafios aos jovens, diz-se preparado para os acolher só não sabe se consegue depois, “cumpri-los”.
O facto de ter de andar de mochila às costas ou dormir num saco-cama não o atrapalha, porque já tem essa experiência na sua caminhada juvenil.
“No grupo de jovens de Constantim costumamos fazer um acampamento todos os anos, portanto, estamos habituados a essa experiência de dormir em sacos-cama. Costuma ser até no meio do mato da floresta, portanto, acho que nessa parte nós estamos preparados”, refere.
Também Francisca Vigário, de 23 anos, natural de Salto, Montalegre, conta os dias para a jornada e não esconde a alegria de poder participar com o seu grupo de jovens.
“Na verdade, o nosso grupo em Salto é muito unido. Temos um grupo grande e também o nosso padre - o padre Pedro Rei - sempre nos puxou muito para as jornadas e sempre nos contou as experiências dele, que é um momento de grande partilha. Portanto, nós vamos todos em força para as jornadas”, conta.
De Salto vão 22 jovens que, ao logo do ano, desenvolveram “muitas atividades para angariar dinheiro, sobretudo com a comunidade, durante as missas, mesmo festas. Tudo para juntar a comunidade e chamar mais jovens que queiram também vir”.
“É uma forma da jornada ficar mais barata para nós. Ainda é um custo significativo. Há muita gente que não tem tantas possibilidades, então, assim, conseguimos reunir o dinheiro todo que precisamos para as jornadas”, diz.
A concluir o mestrado em Marketing, Francisca nem quer imaginar os sentimentos que vai experimentar, mas antecipa tempos muitos fortes e enriquecedores.
“Falam muito da experiência de ver o Papa, eu estou a contar muito com isso, com esse momento, mas, também, as pessoas todas. Eu fui à a Peregrinação Europeia, no ano passado, a Santiago, e foi uma pequena amostra do que é. As atividades com a gente, com pessoas de outros países e isso para mim, que tirei relações internacionais, ainda é mais enriquecedor”, refere.
Já Pedro Borges, de 22 anos, membro do COD de Vila Real, que tem estado na preparação da Jornada Mundial da Juventude a nível da diocese, fala de “um crescendo”.
“Está-se a sentir cada vez mais o aproximar, cada vez mais trabalho, mas cada vez mais aquela energia, alegria e emoção de estarmos próximos. Uma preparação que já vem há muito tempo. Tivemos aquele percalço da pandemia, inicialmente… Já tudo tinha começado antes, mas agora está-se a trabalhar mais a sério e a sentir-se ainda mais o trabalho no campo”, nota.
Para este jovem, também a tirar o mestrado em Marketing, em Lisboa, todo este tempo de preparação tem sido oportunidade para “crescer na fé, mas também enquanto pessoa. O ter que lidar com diferentes situações, o conviver com diferentes pessoas, foi muito enriquecedor”.
Em termos de expetativas para os dias em Lisboa, são de “muito cansaço, mas muita alegria, ao mesmo tempo”.
“Acima de tudo, o encontro com outras pessoas - que acho que é isso que estou mais à procura que aconteça, o conhecer outras realidades e toda a partilha, vai ser o mais o mais importante”, sublinha.
Pedro ainda não teve tempo para pensar na mochila porque - diz - neste momento “ainda é preciso acabar de ajustar os últimos detalhes para a diocese toda”, realçando que “em primeiro lugar está a diocese, depois o pessoal, mas já tenho algumas ideias do que levar, mas vai ser mais em cima da hora”.
Mas como vai como peregrino, diz que vai levar “o estritamente necessário, porque muita caminhada, muito calor, o menos é mais e vai ser mais importante levar a boa disposição, que é o essencial”.
Da Diocese de Vila Real estima-se que possam participar na JMJ 2023 cerca de 700 jovens.
“A nível da diocese temos 444, é número fácil de fixar, no macrogrupo. Há outros grupos individuais, não sei exatamente fazer as contas, mas 700 jovens da diocese de Vila Real. É exatamente o mesmo número de peregrinos que vamos receber de todo mundo na diocese, que serão contas redondas 770”, adianta o padre João Curralejo.
O coordenador do Comité Organizador Diocesano (COD) de Vila Real para a JMJ 2023 assume que os números de participação na jornada “são baixos”, apontando à realidade do território.
“É a nossa realidade. Estamos numa zona de baixa densidade populacional, uma diocese muito grande geograficamente, mas com muito pouca gente e muito poucos jovens que afluem mais para o litoral. Aliás, temos muitos jovens da nossa diocese que estão nas universidades e vão participar pela sua universidade, portanto, noutras realidades, noutros contextos e não em nome da diocese. Estes são os nossos números, mas o importante, penso que não sejam os números, mas é, de facto, a motivação e a vivência que podemos experimentar e, depois, trazer para a nossa realidade eclesial”, assinala.
Questionado sobre o entusiamo dos jovens que rumam a Lisboa no dia 31 de julho e ali permanecerão até 6 de agosto, o sacerdote nota que estão “mais entusiasmados para acolher os jovens do mundo em toda a diocese do que propriamente motivados para a jornada”.
“Aliás, aquilo que me dói um bocadinho mais é porem dificuldades de agenda, de condições que se podem encontrar, para participar na jornada. E esperava, inclusive, mais motivação e mais adesão”, confessa.
Já quanto aos chamados Dias das Dioceses ou pré-jornadas, Vila Real vai acolher jovens de praticamente todo o mundo, mas a grande maioria vem de França.
“O número maior é de dioceses francesas. Há algumas afinidades ou algumas ligações através dos nossos emigrantes ou, então, um caso um ou dois que quiseram escolher realidades do interior para fazer uma experiência mais próxima das pessoas da população. Foi essa a lógica que alguns bispos franceses quiseram dar às pré-jornadas e é esse o sentido das pré-jornadas”, conta.
“Depois, Alemanha e Itália. São as três grandes nacionalidades - França, Alemanha e Itália - que vamos receber da Europa, na nossa diocese. Há depois um pequenino grupo ou outro ou individuais de outros países. Do resto do mundo, temos algumas realidades da América Latina, nomeadamente Colômbia, México, um ou outro brasileiro, e temos Angola e Filipinas. E naquele projeto ‘Igrejas Irmãs’, vamos receber também quatro do Nepal. Portanto temos um mundo todo em pequena percentagem, obviamente, mas uma realidade que é a Igreja universal da nossa diocese”, acrescenta.
E o que vão encontrar, na diocese de Vila Real, os jovens peregrinos? O que está a ser preparado?
O padre João Curralejo diz que não sabe “porque haverá um momento e um dia que é organizado pela diocese, mas depois será muito cada arciprestado e, inclusive, cada paróquia que vai partilhar aquilo que nós somos”.
“Uma das coisas que eu tenho dito sempre, de há um ano a esta parte, desculpem a expressão, é ‘não inventem, não criem coisas que não somos nós, mas partilhemos aquilo que nós somos, a nossa realidade, como vivemos a nossa semana, o nosso fim de semana, nomeadamente no Verão, com as festas, com os nossos emigrantes; partilhemos aquilo que nós somos, porque é isso que as pessoas devem encontrar - o que nós somos, a nossa genuinidade”.
“Acho que é isso o melhor que podemos dar”, conclui.