Legislativas 2024

Luís António Santos. Debates televisivos com "audiências robustas" podem marcar a campanha eleitoral

06 fev, 2024 - 09:52 • José Pedro Frazão

O estudo pós-eleitoral realizado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa mostra que nas últimas legislativas a televisão foi o meio preferencial de informação política dos portugueses durante a campanha. Luís António Santos, professor da Universidade do Minho e comentador da Renascença, acredita que assim vai ser mais uma vez nestas eleições, mas alerta para o impacto crescente das redes sociais nas campanhas eleitorais.

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Serão três dezenas de debates televisivos entre os principais líderes partidários que podem ser um factor importante para a decisão de voto.

Em entrevista à Renascença, Luís António Santos, professor de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho, antecipa um forte impacto dos debates na campanha eleitoral.

Iniciou-se uma série de três semanas de debates televisivos. Que peso terão na campanha eleitoral, tendo em conta também a importância da informação televisiva em Portugal?

Apesar de tudo o que se diz e escreve sobre a crescente relevância das redes sociais, a televisão continua a ter um lugar muito significativo no contexto da vida dos portugueses. E por arrastamento, a existência de debates entre candidatos nestas eleições vai naturalmente ter assistências robustas.

Em anos anteriores, sobretudo nas últimas eleições, observámos um fenómeno muito interessante: os debates tiveram até mais audiências do que se estava à espera. Vamos esperar este ano pelo menos pelos primeiros debates muito relevantes para perceber se isso é uma tendência a manter ou se teve a ver com outro tipo de fatores, nomeadamente o facto de naquela altura ainda se viverem algumas restrições por via da pandemia.

Em todo o caso, o debate mais relevante de 2022 conseguiu agregar 3,5 milhões de espetadores . Isto é muito significativo do ponto de vista do esclarecimento dos eleitores, mas também enquanto factor que pode potencialmente marcar o resto da campanha. Penso que este ano vai acontecer uma coisa muito semelhante.

Os partidos já incorporaram a relevância dos debates na sua estratégia mediática?

Isso acontece já há décadas. Há neste momento uma "sofisticação" da forma como os partidos preparam os seus candidatos e candidatas. E há também outra dinâmica paralela de presença nas redes sociais, muito ativada nestas circunstâncias antes, durante e depois do debate, seja de modo próprio por iniciativa dos partidos, ou reagindo a questionamentos, às vezes até a memes que os utilizadores comuns vão fazendo em muitas circunstâncias quase ao minuto. Há esta outra vertente dos debates.

Existe o que está a acontecer à frente dos nossos olhos nas televisões e podemos ter uma atitude passiva relativamente a isso. Mas hoje em dia há muitas outras opções e os partidos têm também que estar atentos a essa outra dimensão.

A televisão de facto é marcante no acesso a informação política em Portugal. A rádio também é importante e os online estão um pouco abaixo, como indicam os estudos das últimas eleições legislativas. Televisão e redes são realidades incomparáveis?

Com alguma segurança, podemos continuar a dizer que a televisão vai ser o espaço preferido para a maioria dos portugueses ter acesso à informação sobre a campanha eleitoral. Mas, parcialmente, dizemos isto, porque é muito difícil quantificar o que acontece de interação para além disto.

Não devemos, por prudência, deixar de valorizar o que acontece nas redes sociais, porque, sobretudo para algumas gerações, isso pode até nesta altura ser mais relevante do que o que acontece no contexto dos média tradicionais. É importante que se perceba como os partidos se preparam para eles.

É muito importante que as pessoas prestem atenção ao que acontece nos debates, mas temos todos que andar bem atentos ao que também acontece fora destes espaços tradicionais.

A divisão em 15 debates em canais generalistas e outros 15 em canais de informação por cabo não acaba por fazer uma grande diferença em termos de audiência potencial?

Sim, de certeza. Nas legislativas de 2022, também houve alguma diferença entre debates que tinham 1,5 milhões ou 3 milhões de pessoas em canais de sinal aberto e os debates que nos canais por cabo rondaram entre os 800 mil e os 900 mil espetadores. Há, de facto, uma distinção que tem a ver com as audiências habituais dos canais e não tanto com os debates em si.

No entanto, parte significativa destes canais por cabo já estão disponíveis na oferta da TDT e, em teoria, estão também disponíveis para todos os portugueses. Houve um problema mais grave há alguns anos e pode especular-se que o problema continua a ser grave nas zonas em que a TDT não chega bem, mas isso é outra conversa.

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