PSD fará dos casos judiciais do PS o tema da campanha? “Não vai deixar caí-lo, mas não estará obcecado”

26 nov, 2023 - 09:38 • João Carlos Malta , Beatriz Pereira (Vídeo)

Vários sociais-democratas apresentam a mesma tese, o PSD não deverá puxar o caso Influencer para o palco da discussão eleitoral que decorrerá até 10 de março, mas também não deve passar ao largo do tema. Numa farpa direcionada ao PS dizem que temem tanto uma judicialização da política como uma politização da justiça.

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PSD fará dos casos judiciais do PS o tema da campanha?
PSD fará dos casos judiciais do PS o tema da campanha?

Podia parecer demasiado tentador para um partido que tenta resgatar o poder passados oito anos, aproveitar um caso judicial a envolver o coração do governo socialista e o primeiro-ministro para alavancar o discurso eleitoral e ganhar votos. No congresso do PSD, que decorreu este sábado em Almada, vários notáveis do partido defendem que o caminho é não fazer do processo Influencer um tema central da campanha até às eleições de 10 de março. Mas também prometem não deixar cair o tema e dizem que não será esquecido.

A vice-presidente do PSD Margarida Balseiro Lopes promete que o partido não irá fazer da campanha uma sucessão de discussões sobre casos judiciais, para logo de seguida fazer uma ressalva. “Naturalmente que não ignoremos a situação política que temos. O PSD terá a capacidade para falar de um tema fundamental que é o combate à corrupção”, enfatiza.

Aliás, um pouco antes, no discurso de abertura do 41º congresso do PSD, Luís Montenegro já tinha modelado o tom que deveria ser usado pelo partido para os casos judiciais que causaram a crise política em que o país caiu. Alertou para a instrumentalização da justiça, numa indireta a alguns setores do PS, e garante que o Governo “ruiu por dentro".

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"Naturalmente que não ignoremos a situação política que temos. O PSD terá a capacidade para falar de um tema fundamental que é o combate à corrupção", Margarida Balseiro Lopes, vice-presidente do PSD.

"O Governo não caiu por causa de um parágrafo nem um processo; caiu de podre, por indecente e má figura da governação", atacou. "Foram demasiadas mentiras, demasiados abusos de poder, arrogância, falta de decência e transparência na vida política", considerou.

Balseiro Lopes aponta para a regulação do lobby e a criminalização do enriquecimento ilícito como bandeiras lançadas já por Luís Montenegro na área da justiça, líder do PSD, para a próxima disputa eleitoral.

Questionada sobre se o PSD conseguirá fugir à pressão dos partidos mais à direita como a Iniciativa Liberal e o Chega para entrar neste debate sobre casos judiciais, Balseiro Lopes mais uma vez posiciona o PSD com um pé dentro e outro fora.

“Nós não ignoramos a degradação institucional a que assistimos, não apenas nas últimas semanas, mas nos últimos meses. O primeiro-ministro demitiu-se, foi a 14.ª demissão, mas já tinham existido 13. E mesmo este clima de suspeição e de ataque do Partido Socialista contra a Justiça e contra o Ministério Público, esse clima de degradações institucional, naturalmente que nos preocupa, e o PSD não vai contribuir para ele”, resume.

Ainda Margarida Balseiro Lopes questionada sobre se a discussão relativamente a casos judiciais pode fazer ricochete no PSD, com casos como o Vórtex e Tutti Frutti, diz não o temer. “Da parte do PSD não vai haver nenhuma complacência em relação à corrupção”, definiu.

PSD teme a politização da justiça

Fernando Negrão, ex-ministro do governo de Passos Coelho, vê a discussão da Justiça numa campanha eleitoral com toda a normalidade.

“Agora não vejo com naturalidade nenhuma a discussão de casos judiciais e, por isso, espero que os partidos políticos tenham a sensatez de discutir a justiça, porque é preciso discuti-la, porque há problemas”, diz o ex-ministro da Justiça.

E acrescenta: “Sobre casos judiciais presumo que o PSD se recuse a fazer isso porque é influenciador e é uma má influência”.

Negrão diz não se justificar que o caso Influencer domine a campanha, seguindo a tese que Montenegro já testara minutos antes no interior do pavilhão do Complexo Municipal dos Desportos Cidade de Almada. “Estas eleições não acontecem por causa de um processo judicial. Acontecem porque houve um primeiro-ministro que decidiu demitir-se na sequência de um processo judicial em que ele nem sequer é arguido”.

Negrão diz é fundamental que estes casos não entrem dentro da campanha para que não haja uma judicialização da política, mas também “não haja uma politização da justiça”.

Facilistismo socialista

Esta foi uma frase que o vice-presidente do PSD Paulo Rangel repetiu ao dizer à Renascença que “tem muito medo da judicialização da política, mas também tenho muito medo da politização da justiça”.

O elemento da direção de Luís Montenegro diz que o PSD “não vai deixar cair” o caso Influencer, mas também “não vai estar obcecado” com ele.

Mas também não deixa de considerar que o respeito pela credibilidade e o respeito pelas instituições “são temas políticos”.

Rangel promete que no PSD “não vamos interferir com a justiça”. E parte desse pressuposto para fazer mira aos socialistas. “Aliás, uma coisa que me está a preocupar é a forma como dirigentes do PS estão a tentar condicionar a justiça. Portanto, o escrutínio é livre, mas devemos deixá-lo aos comentadores e à opinião pública e não às pessoas que têm responsabilidades institucionais e que conhecem o princípio da separação de poderes”.

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"Não podemos esquecer que o facilitismo é uma imagem de marca do PS. Isso é evidente e os eleitores não vão deixar de ter isso em conta", Paulo Rangel, vice-presidente da PSD.

Ainda assim, e apesar destas ressalvas, Rangel ganha balanço para depois criticar o PS nos caos de justiça que o envolvem. “Não podemos esquecer que o facilitismo é uma imagem de marca do PS. Isso é evidente e os eleitores não vão deixar de ter isso em conta. Já tinha acontecido no passado e voltou e repetir-se”, lembra Rangel.

Rangel usa a mesma ideia do facilitismo para a colar à forma como o PS trata os negócios do Estado. “Isso tem de ser denunciado, mas isso não é o motor do PSD”, conclui.

Por fim, Cristóvão Norte, líder do PSD Algarve, vai um pouco mais longe considerando que o que o país ficou a saber com a operação Influencer tem um “inegável relevo”, não apenas por terem sido descobertos 75 mil euros em notas no escritório do chefe de gabinete de António Costa.

“É o rol infindável de casos nos últimos 18 meses que nos obriga a uma leitura política”, indica. “Houve um despautério ético que corroeu a confiança dos cidadãos”, resume.

E termina a afirmar: “Não digo que seja o mote da campanha, mas quando se apontam as fraquezas e incapacidade do governo elas estão em diversas áreas: saúde, economia educação, mas também na falta de compromisso ético e regras mais elementares do interesse público”.

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