Meio ano de IVA Zero

Cabaz de alimentos caiu 43% desde abril, mas ainda tem produtos mais caros

18 out, 2023 - 10:50 • Salomé Esteves

Em seis meses, o preço do cabaz de bens essenciais tem rondado os 180 euros. Brócolos, azeite e salsichas encareceram, mas dourada, bacalhau e alho francês estão mais baratos. Ainda assim, preços estão longe do que eram em 2019.

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Meio ano após a aplicação do IVA Zero, o cabaz da Renascença, um conjunto de 60 alimentos, custa pouco mais de 186 euros, menos 43% (139.5 euros) do que na semana anterior à aplicação da medida. A 12 de abril, o mesmo cabaz custava cerca de 325 euros.

Apesar desta queda, o que aconteceu antes é igualmente relevante: o preço total do cabaz subiu muito nas semanas anteriores ao anúncio da medida. De cerca de 270 euros, passou para 325, para depois cair para 190 euros.

Dos 60 produtos do cabaz da Renascença, 20 continuam a custar o mesmo, 18 produtos ficaram mais baratos e 22 mais caros. Como se explica, então, que o preço total do cabaz tenha caído tanto, se a maioria dos produtos não refletem a mesma tendência?

O produto mais caro do cabaz, em ambas as datas, foi o que mais caiu. A 18 de abril, a dourada de alto mar custava 34,99€/kg. Hoje, custa 24,99 euros pela mesma quantidade. Também o alho francês ficou significativamente mais barato, caindo de 2,82 euros para 1,69€/kg.

As postas de bacalhau e o óleo alimentar são exemplos de produtos que tiveram descontos superiores a um euro. Já no caso de outros produtos, como meia dúzia de ovos ou medalhões de pescada, a diferença é quase inexistente, registando descontos de um cêntimo.

Por outro lado, três produtos ficaram significativamente mais caros: os brócolos, as salsichas Frankfurt e o azeite. Os três registaram subidas a rondar um euro.

Há meio ano, um quilo de brócolos custava 1.87 euros, enquanto hoje custa 2.79 euros. Já uma embalagem familiar de salsichas custa esta semana 3.25 euros, mais 1.78 euros do que há seis meses. Por fim, uma garrafa de 75cl de azeite, cujo preço tem oscilado bastante desde meados de abril, custa hoje 6.79 euros, quando há meio ano custava 4.70 euros.

Destes três produtos, apenas as salsichas não fazem parte dos produtos abrangidos pelo IVA Zero.

Existem ainda cinco produtos que custaram exatamente o mesmo durante estes seis meses, sem nunca terem ficado mais caros ou terem entrado em desconto: sal grosso (49 cêntimos), tofu biológico (1,99 euros), cacetinhos (19 cêntimos), banana biológica (1,68 euros) e peito de frango (6,40 euros).

Preços a subir desde 2020

A subida generalizada dos preços dos alimentos está a acontecer desde o início de 2020. A pandemia de Covid-19 e os constrangimentos na produção agrícola e nas cadeias de abastecimento fizeram subir o preço de vários alimentos como o peixe e os produtos agrícolas. Mas a subida mais acentuada deu-se como consequência da guerra na Ucrânia, no final de fevereiro de 2022.

A partir deste momento, foram os preços dos cereais que mais subiram, apesar de muitos outros alimentos terem registado a mesma tendência, também devido ao aumento do preço dos combustíveis e, consequentemente, do transporte.

Desde o segundo trimestre de 2023, Portugal tem contrariado a tendência de preços na alimentação da União Europeia e da Zona Euro, revelando uma tendência de descida. Apesar disso, os alimentos estão longe do custo que tinham em 2019, antes da pandemia e da invasão russa da Ucrânia.

Há alimentos cujo preço pode sofrer por circunstâncias adversas. Segundo dados no Instituto Nacional de Estatísticas (INE), os preços de produtos como a pera rocha, o azeite e alguns cereais são afetados por quebras de produção provocadas pelas alterações climáticas.

O calor excessivo e a falta de humidade provocaram quebras na produção da pera rocha entre os 10% e os 20% face aos últimos cinco anos. Já no azeite, a quebra de produção rondou os 40% em 2022, o que explica a subida de preço deste produto em 2023.

Desde o início do ano, a Renascença monitoriza os preços de 60 produtos, 48 dos quais estão abrangidos pela medida do IVA Zero. Os preços destes produtos, todos de marca branca ou de origem nacional, são levantados todas as semanas, às quartas-feiras.

A medida foi implementada a 18 de abril, depois de o ministro das Finanças, Fernando Medina, ter recusado seguir o exemplo de Espanha durante vários meses. Nesse dia, o Governo anunciou que ia isentar de IVA 46 tipos de alimentos essenciais. Em setembro, a medida foi prolongada até ao final de 2023.

Na apresentação do Orçamento do Estado para 2024 (OE 2024), na semana passada, Medina anunciou que o cabaz IVA Zero termina em dezembro. A partir do próximo ano, o benefício será integrado nas prestações sociais, abrangendo apenas as famílias mais vulneráveis.

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