beira alta À espera que o comboio volte

"Onde é que é suposto irmos com a linha encerrada?"

17 mai, 2023 - 00:05 • Liliana Carona

O encerramento para obras, desde abril de 2022, da Linha da Beira Alta deixa descontente quem tem negócio dependente do fluxo de viajantes da ferrovia. Em Mangualde, a nova data anunciada pelo ministro das Infraestruturas não inspira confiança.

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Reportagem da jornalista Liliana Carona, sobre a linha da Beira Alta
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De visita às obras na Linha da Beira Alta, no Viaduto da Abrunhosa, o ministro das infraestruturas, João Galamba, deixou uma garantia: “O país está a fazer investimentos como nunca, quer na renovação quer na criação de novas infraestruturas ferroviárias, estamos a testemunhar esta obra de maior importância para o país e região. E, portanto, queria só dar a garantia que tudo faremos para que a linha seja reaberta no dia 12 de novembro e não temos informação de que esse prazo seja violado."

Ao mesmo tempo, na estação ferroviária de Mangualde, um taxista, sozinho, aguarda. É o único que resiste e insiste naquele local. Pedro Jerónimo, 59 anos, vê os autocarros chegarem e partirem vazios.

“Sou taxista há 25 anos e não faço nada agora, não há passageiros. Venho até aqui passar o tempo, não posso ir para Lisboa ou Porto, onde é que é suposto irmos com a linha encerrada?”, questiona, admitindo uma redução de 100% no negócio.

As ligações asseguradas, durante as obras, não chegaram para manter os amantes da ferrovia. E a vida de taxista tornou-se um pesadelo, com prazos anunciados que fazem torcer o nariz.

“Olhe, está a ver está a chegar um autocarro, os únicos que sobem e descem são os funcionários da CP. Só já havia já três Intercidades, há autocarros que fazem a ligação, mas não trazem ninguém. Os autocarros passam aqui, mas as pessoas agora não andam a fazer transferências, os autocarros estão vazios, não há clientes não há dinheiro. O que eu já ouvi é que reabria em fevereiro de 2023, e agora é novembro. Se os atrasos das obras fossem dias, agora assim é muito tempo”, lamenta Pedro Jerónimo.

“Isto vai ficar com uma só via na mesma, devia ter duas, porque quando há um comboio que atrasa, atrasa tudo”, observa o taxista.

Para quem desespera pelo retorno do comboio, tenta ver o lado positivo da ausência do apito. Conceição Ferreira, 87 anos, vive ao pé da linha do comboio. Saudades? “Olhe já nem quero saber. Se não passar mais até deixo de ouvir o barulho”, ironiza, aborrecida.

Estação ferroviária. Os autocarros que fazem o transfer de passageiros chegam e partem vazios Foto: Liliana Carona/RR
Estação ferroviária. Os autocarros que fazem o transfer de passageiros chegam e partem vazios Foto: Liliana Carona/RR
Taxista Pedro Jerónimo diz que o prejuízo é de 100% Foto: Liliana Carona/RR
Taxista Pedro Jerónimo diz que o prejuízo é de 100% Foto: Liliana Carona/RR
Estação ferroviária de Mangualde encerrada desde abirl de 2022 Foto: Liliana Carona/RR
Estação ferroviária de Mangualde encerrada desde abirl de 2022 Foto: Liliana Carona/RR

"Vamos poupar entre 25 a 30 minutos no tempo de percurso atual"

A acompanhar a visita do governante João Galamba às obras, o vice-presidente do Conselho de Administração Executivo da Infraestruturas de Portugal (IP), o engenheiro Carlos Fernandes, recordou o que está a ser feito com o investimento de 600 milhões de euros. “É um investimento de 600 milhões de euros integrado no Plano Ferrovia 2020, vamos construir instalações para comboios de mercadoria, suprimir todas as passagens de nível, vamos criar a ligação da Beira Alta à linha do Norte, vamos construir 16 quilómetros de novas variantes da Beira Alta, vamos poupar entre 25 a 30 minutos no tempo de percurso atual, e vamos harmonizar a velocidade para 120Km/h”, destaca.

A obra surge no âmbito de um programa financiado pela Comissão Europeia em cerca de 370 milhões de euros e que tem data prevista para 12 de novembro, embora, o Vice-Presidente do Conselho de Administração Executivo da Infraestruturas de Portugal (IP), preveja o prolongamento de alguns trabalhos para depois dessa data.

“Estamos a fazer um esforço imenso e estamos comprometidos com essa data, alguns trabalhos continuarão depois dessa data, mas a expectativa é que os comboios comecem a circular nessa data”, assegurou o engenheiro Carlos Fernandes.

A Linha da Beira Alta foi encerrada à circulação ferroviária, no troço Pampilhosa-Guarda, desde o dia 19 de abril de 2022 para cumprimento do seu plano de modernização. De forma a minimizar os impactos negativos decorrentes deste constrangimento, e durante todo o período de interrupção do serviço ferroviário, são disponibilizados, aos clientes da CP, transportes rodoviários alternativos.

Concluída foi já a empreitada entre a Guarda e Cerdeira, com 14 quilómetros, com um investimento de 8,7 milhões de euros. Entre Celorico da Beira e Guarda (46 quilómetros) o valor de adjudicação é de 54 milhões de euros.

A Ação 2015-PT-TM-0395-M - Linha da Beira Alta (Pampilhosa-Vilar Formoso: Projeto e Obra, foi aprovada ao abrigo do Programa CEF (Mecanismo Interligar a Europa) com uma taxa de cofinanciamento de 85%. A circulação devia ter sido retomada em janeiro, mas a Infraestruturas de Portugal adiou, devido aos atrasos nas obras.

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