16 abr, 2021 - 06:30 • Inês Braga Sampaio
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O médico infecciologista Miguel Abreu critica a forma como o Governo aborda a incidência da pandemia da Covid-19 a nível dos concelhos.
Sete concelhos não avançam para a terceira fase de desconfinamento, a 19 de abril, e outros quatro agravam as restrições. Em entrevista à Renascença, o especialista diz que "a questão dos concelhos é uma absoluta artificialidade", porque os concelhos "não foram definidos numa perspetiva epidemiológica", pelo que impor limites dentro de grandes áreas metropolitanas "é um absoluto absurdo".
"A outra face da moeda é, exatamente, pegar em concelhos, sobretudo no Alentejo, que são grandes e muito pouco densamente povoados, e que rapidamente chegam aos limites artificiais impostos pelo Governo. Tem de haver, ou deveria, pelo menos, haver menos preguiça intelectual e não tentar restringir ou fazer restrições epidemiológicas com base em limites que não foram definidos epidemiologicamente", afirma o infecciologista do Hospital de Santo António, no Porto.
Segundo explicou o primeiro-ministro, não avançam para a terceira fase Alandroal, Albufeira, Beja, Carregal do Sal, Figueira da Foz, Marinha Grande e Penela. Voltam às regras anteriores, da primeira fase de desconfinamento, Moura, Odemira, Portimão e Rio Maior, por estarem neste momento com mais de 240 casos por 100 mil habitantes.
De acordo com dados oficiais da Câmara Municipal de Moura, aquele concelho do Alentejo tem uma densidade populacional inferior a 16 habitantes por quilómetro quadrado. Em Barrancos, que não é um dos concelhos contemplados no suspender ou agravar de medidas, mas que fica "em vigilância", bastaram sete casos para a taxa de incidência subir de zero para 428, na terça-feira, segundo o jornal regional "A Planície".
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Miguel Abreu também se mostra bastante crítico com o que considera ser a "falta de coerência" do Governo detetável na comparação da forma como agiu nos meses anteriores ao Natal, em que houve um relaxamento de medidas com números altos, e como age no atual momento, em que o país se encontra "muito melhor":
"Estamos incomensuravelmente melhor do que estávamos antes do Natal. Estamos muito melhor em número de casos, em número de doentes ativos, em taxa de incidência e mais: em número de pessoas imunes. Seja naturalmente, seja pela vacina. O risco é incomensuravelmente menor e, ainda assim, temos medidas hiper restritivas. Não é coerente com o que se passou no passado."
O médico infecciologista do Hospital de Santo António salienta que "o único indicador que está menos bom", neste momento, é o índice de transmissibilidade (Rt), que se mantém a 1,06 a nível nacional e "que vale o que vale e que pode ter interpretações bastante dúbias".
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De resto, "desde que se começou a desconfinar", os números de casos ativos, de internamentos em enfermaria e de internamentos em unidades de cuidados intensivos diminuíram exponencialmente: "Se olharmos objetivamente para o número de doentes internados, que é um número mínimo desde setembro, para o número de casos ativos, que também é mínimo, e para pressão a que os cuidados de saúde estão expostos, e continuarmos com isto, não é coerente com o que foi feito no passado."
Portanto, Miguel Abreu entende que "é absolutamente incoerente" que entre setembro e dezembro de 2020 se tenha aliviado as medidas de contenção e que agora, quando uma importante porção da população de risco está imunizada, se dê passos tão cautelosos no desconfinamento.
"O que eu acho estranho é que os números continuem a diminuir e as medidas sejam revistas em baixa, até porque o risco de haver uma epidemia muito grande, surtos enormes e haver um descontrolo, hoje, é incomensuravelmente menor do que era em dezembro", reforça.
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