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O pior mês da pandemia

Mais de um terço das mortes por Covid-19 em Portugal ocorreram em janeiro

29 jan, 2021 - 07:00 • Joana Gonçalves

Desde o início do ano morreram mais de 4.700 pessoas devido à Covid-19 em Portugal. Falhas na comunicação do Governo podem explicar a aparente indiferença de alguns portugueses perante os números da pandemia. "Não se criou uma esperança, criou-se uma ilusão", defende o diretor do serviço de psicologia no Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto.

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Desde o início de janeiro morreram mais de 4.700 pessoas devido à Covid-19 em Portugal. Este valor representa cerca de 41% do total de óbitos provocados pela doença, desde março, altura em que foi confirmado o primeiro caso de infeção no país.

Em apenas um mês, o número de casos ativos mais do que duplicou. E as consequência do novo coronavírus superam os valores divulgados diariamente no boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde.

Para lá das vítimas Covid-19, Portugal regista um excesso de mortalidade que o coloca na pior posição de toda a União Europeia. Janeiro de 2021 é já o mês com mais mortes por todas as causas desde 1980, o primeiro ano de que há registo.

De acordo com os dados do Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO), este mês morreram mais de 17 mil portugueses. É preciso recuar a janeiro de 1999 para encontrar o anterior máximo e, ainda assim, distante, com um balanço de 14.709 vítimas mortais.

O excesso de mortalidade supera, na última quinzena, os 100%, o que significa que diariamente morreram mais do dobro das pessoas do que se previa.

De acordo com o EuroMOMO, sistema europeu de monitorização de mortalidade, Portugal apresenta um excesso de mortalidade “extraordinariamente elevado”. Na Europa, apenas o Reino Unido recebe a mesma classificação, a mais alta da escala.

As últimas projeções do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge não sugerem melhorias. Segundo o relatório a que a Renascença teve acesso, o SNS pode atingir o ponto de rutura já na próxima semana.

A presença da nova variante inglesa explica parte do problema, mas os especialistas apontam também para uma falha na comunicação, que pode ter resultado numa aparente apatia dos portugueses face ao agravamento da epidemia.

"Não se criou uma esperança, criou-se uma ilusão"

Depois de uma primeira onda que atribuiu ao país o estatuto de milagre europeu, Portugal foi assolado por uma segunda vaga Covid-19 com um número de infeções quatro vezes superior ao registado entre março e abril. Quando a famosa curva começou, finalmente, a inverter-se, o Governo optou por relaxar as medidas de combate à pandemia, ignorando o conselho do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC).

Os 4.146 casos diários registados no Natal deram lugar a uma nova inversão da tendência. Em apenas um mês, o número de novos casos triplicou e é, agora, dez vezes superior àquele que se verificou na primeira vaga.

Quase um ano depois, Portugal volta às manchetes internacionais, mas o estatuto divino desabou. De milagre a tragédia, o país apresenta agora o maior número de casos diários de Covid-19 por milhão de habitantes em todo o mundo. O SNS aproxima-se do ponto de rutura e o Governo equaciona pedir ajuda internacional.

A imagem em tempos distante das situações dramáticas em Itália ou no Reino Unido está mais próxima do que nunca e não dá sinais de regressão.


Mas como se explica o comportamento de alguns portugueses, que continuam a desrespeitar as restrições impostas pelo Governo, e a aparente indiferença perante os registos diários de infeções, internamentos e mortes por Covid-19?

Para além do cansaço e da exaustão, resultado de uma pandemia que dura há quase um ano, acresce uma comunicação “que não é a mais adequada”, defende à Renascença Eduardo Carqueja.

Para o diretor do serviço de psicologia no Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, “as imagens comunicacionais que têm sido transmitidas são antagónicas”.

“Utilizou-se o termo «combater» a pandemia. E o que é que acontece quando nós temos de combater a pandemia? Num combate nós vamos à luta. Aqui, se calhar, temos quase de fazer um papel de cobarde, dizer «fuja da luta». E como é que é fugir da luta? É fugir do vírus, ficar em sua casa, que é um lugar seguro”, começa por explicar.

“Eu tenho de ter a noção da importância que é eu não fazer nada, no sentido de não sair de casa. Ter a consciência de que a minha passividade é de uma importância brutal. Mas isto tem de ser visto e tem de ser verbalizado. Recordar a relevância que têm as pessoas que ficam em casa, a cumprir as regras. E se isto não é dito, eu sou só mais um no meio de milhões. Não notam em mim e, portanto, se eu sair também ninguém nota. Esta relação, que é feita muitas das vezes de uma forma muito inconsciente, tem os danos que todos nós sabemos”, defende o psicólogo.

O especialista relembra, também, o erro do Governo ao transmitir uma falsa noção de tranquilidade, quando levantou algumas medidas restritivas no Natal. Uma vez mais, a mensagem foi pouco clara.

“Parece que o vírus no Natal tinha desaparecido e que as medidas podiam ser mais leves, que tudo isto ia correr bem, porque estávamos numa altura importante, natalícia. Ao mesmo tempo surge a vacina e toda a publicidade ao fármaco. Não se cria uma esperança, cria-se uma ilusão”, explica Eduardo Carqueja.

Um mês depois do Natal, 270 mil casos mais tarde, combater a ilusão instalada será “um desafio tremendo”.

"Nesta altura estamos já numa dimensão em que o dano está instituído. É importante corrigir informação que não é adequada, comunicação que está pouco agilizada para as necessidades e sobretudo proporcionar a possibilidade de as pessoas terem acesso a cuidados de saúde psicológicos atempadamente. Tem de ser criada uma estrutura, não só para agora, mas algo que fique e que possibilite que as pessoas possam ter este tipo de acompanhamento", apela o psicólogo.

Desde o início da pandemia, morreram mais de 11 mil pessoas em Portugal de Covid-19.

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