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Jogo de Palavra

Manuel Fernandes. "Quando disse ao Cintra que queria o Mourinho na equipa do Robson, deu uma resposta à Sousa Cintra: ‘ele é do Benfica’"

05 out, 2023 - 18:00 • Rui Miguel Tovar

Manuel Fernandes é um dos maiores goleadores portugueses, mas sabia que também jogou a guarda-redes nas Antas? No Jogo de Palavra desta semana, o antigo capitão do Sporting recorda o dia em que Sousa Cintra despediu Bobby Robson no avião, os 7-1 ao Benfica, o melhor estrangeiro que viu em Portugal e como chamou o jovem Mourinho para trabalhar consigo.

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Manuel Fernandes. "Quando disse ao Cintra que queria o José Mourinho na equipa do Robson, deu uma resposta à Sousa Cintra: ‘ele é do Benfica’"
Manuel Fernandes. "Quando disse ao Cintra que queria o José Mourinho na equipa do Robson, deu uma resposta à Sousa Cintra: ‘ele é do Benfica’"

É o segundo convidado do podcast Jogo de Palavra. Manuel Fernandes, melhor marcador europeu do Sporting até aparecer Liedson, melhor marcador português na Taça UEFA até aparecer Pauleta, melhor marcador da 1.ª divisão 1985-86 com 35 anos de idade, último a marcar quatro golos no dérbi vs. Benfica (todos na segunda parte), responsável pela subida à 1.ª de Campomaiorense em 1995, Santa Clara em 1999, Penafiel em 2005 e U. Leiria em 2009. Ufff.

Como se isso fosse pouco, é ele quem chega primeiro à Rádio Renascença. Quando passamos pela receção, já está Manuel Fernandes sentado numa das cadeiras a curtir a movida. Avançamos para o estúdio e aparecem dois defesas-centrais da casa a marcar Manuel Fernandes em cima. Um desfaz-se em elogios, o outro fala de um autógrafo pedido (e dado, claro) à saída do estádio José Alvalade na sequência de um jogo europeu vs. Feyenoord.

Adiante, bola ao meio e toma lá o segundo episódio do Jogo de Palavra.

Manuel Fernandes, é uma enorme honra ter aqui um homem com tantas credenciais entre CUF, Sporting e Vitória FC, sempre de verde e branco. Antes de falarmos dos golos, há um episódio curioso em que o Manuel vai à baliza pela CUF. Como é possível?

É verdade, é verdade, lembro-me perfeitamente [28 Janeiro 1973], isso é uma coisa histórica. Até porque empatámos o jogo nas Antas.

Empataram e nas Antas?

O treinador [Fernando Caiado] já tinha feito as substituições e ali a dez minutos, mais ou menos, o Conhé sai à bola com um jogador do FC Porto e cai inanimado. Teve de ser substituído e ofereci-me logo para ir à baliza, porque tinha algum jeito desde miúdo, quando não me deixavam jogar à frente. Era ver todos eles do FC Porto, entre Oliveira, Gomes e outros, a rematar de longe para tentar o golo.

Deve ter sido uma tarde de encher o orgulho.

A CUF, ó Rui, era um grande clube. E discutia o jogo pelo jogo. Lembro-me de termos ficado em quarto lugar em 1971-72, à frente do FC Porto. No jogo para decidir o quarto lugar, ganhámos 1:0 ao FC Porto no Lavradio e apurámo-nos para a Taça UEFA. E o golo foi meu, de cabeça, a passe do Capitão Mor.

E marcou ao Kaiserslautern nessa Taça UEFA.

Verdade, perdemos 3:1 em casa e ganhámos 1:0 na Alemanha. O golo meu foi o do Barreiro, ainda andava na tropa. Passava a semana no quartel em Leiria e treinava-me com a União de Leiria. À sexta-feira, um chofer da CUF ia buscar-me e levava-me para o Barreiro, onde jogava pela CUF aos domingos.

Como foi esse golo?

Aparecei na área e aproveitei uma bola perdida, um ressalto. Mas aí ainda jogava a extremo-direito. Feitas as contas, fiz 40 golos pela CUF em cinco épocas. Dá oito por época, é muito bom. Agora a CUF em infraestruturas era muito boa, ganhava mil escudos a trabalhar na fábrica e 800 escudos a jogar. Tínhamos dois campos relvados e havia fatos com o emblema da CUF para todos os jogadores nas deslocações internacionais. Estávamos a representar a melhor companhia de Portugal, a União Fabril.

E no Sporting, como era?

Cada um levava a sua roupa, uns apareciam de chinelos, outros de ganga. Estranhei tudo isso. E os treinos eram de manhã. Lembro-me do trânsito na ponte 25 de Abril, então tinha de acordar em Sarilhos às seis da manhã para não chegar atrasado ao treino.

Às seis?

Não me importava nada de acordar cedo, porque gostava de ser o primeiro a chegar ao estádio e também porque só vivia para o futebol. Era bom porque cruzava-me com as pessoas do clube e falava com elas. Isto pode parecer um filme, mas é real: os sócios do Sporting habituaram-se a ir tomar connosco o pequeno-almoço lá no bar do Hermínio. Eram jogadores e sócios no bar. Agora tudo é diferente.

Trazia alguém consigo desde Sarilhos?

Futre, por exemplo.

Como é que ele era?

Um miúdo espectacular, puro. Ele vinha de táxi do Montijo, dizia bom dia, entrava no meu carro e adormecia até chegar ao estádio. Uma horinha ou assim. Mais tarde também dava boleia ao Fernando Mendes. Eles ainda não tinham carta e vinham comigo. E, às vezes, voltavam comigo. Mesmo que eu almoçasse em Lisboa, eles também almoçavam. Eram tempos em que gostávamos de estar uns com os outros, almoçávamos juntos. O espírito era espectacular.

Já li entrevistas em que era assim no tempo do Malcolm Allison.

Era assim com todos. E sim, também era com o Allison. Ele é que nos dizia para almoçarmos juntos.

E ele ia?

Nunca. Só promovia os almoços, o convívio. A malta era boa, o espírito também. Havia uma mistura saudável de veteranos com miúdos e de portugueses com estrangeiros, ainda poucos. Já nos conhecíamos bem. Houve uma altura em que havia gente do Montijo, do Barreiro e de Setúbal no Sporting. Combinávamos um ponto de encontro em Coina, ali a meio caminho de todos, e íamos num só carro para o treino.

Falou dos estrangeiros. Há um no Sporting de quem muita gente fala: Keita.

O Salif foi o melhor estrangeiro que vi em Portugal. As pessoas não têm a noção do que ele era como jogador. Gostava de o ter visto com menos idade em Portugal, porque já chegou com trintas e algumas mazelas. Vou contar-te uma história. Fomos fazer um jogo com o Benfica em Paris a um 10 de Junho. Estamos a equipar-nos e ele vira-se para mim a dizer ‘hoje vais ver quem é o Salif Keita’. E eu ‘hoje que é um jogo a brincar?’

E?

Vou dizer com toda a sinceridade, e atenção que ganhámos 2:1 e marquei o golo da vitória: fiquei com vergonha da minha exibição ao pé da do Keita. O Salif fez tudo bem, ia buscar a bola ao Botelho [guarda-redes] e construía a jogada toda. Como ele tinha sido uma referência no Saint-Étienne, bicampeão francês, ele queria provar aos franceses que ainda era o Salif. Fez um jogo que nunca o vi fazer. Quando íamos à Póvoa e estava lá o José Maria, ele jogava encostado à linha e dizia-lhe para ir para o meio, está bem está. ‘Vai tu, Manel’. Ahahahah. Com a bola nos pés, fazia coisas diabólicas, incríveis.

E como é que se chegou ao Keita? Para contratá-lo, digo.

O João Rocha tinha uma casa em Benidorme. Chegou até a pagar-me férias dois anos seguidos. Depois, nunca mais. Ahahahah. Acho que encontrou por lá o Keita, falou com ele sobre a ida para o Sporting e apanhou-o em fim de contrato com o Valencia. Ele chegou no meu segundo ano, era o Jimmy Hagan o treinador. Nunca vi ninguém assim.

Então?

Ele apitava no balneário e tínhamos de sair em passo de corrida atrás dele para dar voltas ao estádio. Do lado de fora, na calçada. À 13.ª jornada, íamos com sete pontos de avanço sobre o Benfica. Depois fomos a Setúbal e perdemos 1:0 com um autogolo no último minuto. A partir daí, e por causa do esforço físico do Hagan, que não sabia dosear os treinos, tive uma lesão, o Keita também. O Manoel ainda se aguentou, mas os nossos suplentes eram dois miúdos: Libânio e Garcês) e a equipa ressentiu-se. Fomos ultrapassados pelo Benfica com 2:1 na Luz, o golo da vitória foi do Chalana. Ficámos em segundo lugar, porque aquilo [dos treinos] era uma violência.

Quem é o treinador a nomear Manuel capitão do Sporting?

Pavic. Em 1978. Sinceramente não sei o que ele viu em mim. Se calhar, defendia muito bem o Sporting. Ele também só esteve uma época no Sporting.

Allison uma época, Pavic uma época. Porquê treinadores de curta duração?

É pena, porque havia ali treinadores com muita qualidade que podiam estar mais tempo, uns três ou quatro anos. Um deles é o Toshack. Nem sequer acabou a época 1984-85, foi substituído pelo adjunto Pedro Gomes. O Toshack era um treinador de ataque e isso acabou por se ver no Real Madrid [atinge a marca de 109 golos na 1.ª divisão espanhola]. Se lhe dessem tempo, ele ia aprender mais ainda da realidade portuguesa e ia tornar-se melhor treinador.

E porquê a dispensa desses treinadores de uma só época ou nem isso, insisto?

Os sócios pressionavam e acho que o João Rocha ouvia pessoas que não devia, em vez de se informar junto de mim, o capitão, por exemplo.

Na época seguinte, em 1985-86, o Manuel é o melhor marcador da 1.ª divisão. Marcou cinco ao Penafiel na 1.ª jornada.

Tinha 12 golos à 8.ª jornada e vamos às Antas para jogar com o FC Porto. No balneário antes do jogo, o Manuel José [treinador] avisa de uma surpresa que vai espantar toda a gente e eu não estou no onze.

Como?

Não sou titular. Jogávamos com dois avançados e a dupla é Jordão mais Meade. Foi o meu único jogo no Sporting de sempre em que fui para o banco.

E qual foi o resultado?

Perdemos 2:1 e nem saí do banco.


"Convidei o Bobby Robson para jantar em minha casa e ver um jogo. Começou a petiscar com vinho à mistura. Como era homem de beber pouco, à hora do jogo, perguntou-me onde era o quarto. Foi dormir, fiquei a ver o jogo sozinho"

Noventa minutos no banco?

Fiquei chateado, triste. Não fiz nada para prejudicar e foi injusto o que me aconteceu. Mas ele reconheceu no fim e veio a correr atrás de mim, no final do jogo. E disse-me ‘já fiz porcaria, a partir de agora és tu e mais dez.’

E depois?

Voltei a jogar e o Jordão é que começou a ser afastado. Isso tudo acontece no ano em que ganho a Bola de Prata. Também há mérito do Manuel José na conquista, mas fiquei surpreendido com aquilo que me fez nas Antas. Não lhe custava nada falar comigo sobre uma ideia nova, só acho que merecia uma justificação pelo passado no clube e por ser o capitão. Mas, pronto, já passou e dou-me bem com o Manuel José.

O Manuel tinha quantos anos?

35. Nessa época, marquei todos os penáltis. Nove em nove, acho. Nas outras épocas, deixava os penáltis para os outros. Gostava de os ver felizes: Jordão, Sousa, Saucedo. E também deixava os livres directos para os outros. Porque também gostava de marcar livres.

Marca um ao Braga na final da Taça de Portugal, não é?

É verdade, e essa final é especial porque pedi ao Allison para jogar o tempo todo e, assim, subir à tribuna para levantar a Taça. Nunca o tinha feito e queria muito fazê-lo. Acontece que tinha um problema de pubalgia há já algum tempo e aquilo era desconfortável. Por isso, pedi ao Allison para não me substituir sob qualquer pretexto. Estamos a ganhar e ele faz uma substituição. Quando olho para o número nove, digo-lhe que não, não saio. E, afinal, era uma brincadeira do Allison: ele queria tirar o 6 e mandou virar o número. Ahahah.

De volta aos seus 35 anos, é também aí que marca quatro ao Benfica nos 7:1?

[faz contas de cabeça] Foi, sim. Só fiz 36 no final dessa época 1986-87.

O Manuel fez sete remates à baliza, quatro deram golos seus e os outros três deram golos dos outros, em recargas.

Pois é, o 1:0 é um remate meu, defesa do Silvino e recarga do Mário Jorge.

Como é que se explica esse 7:1 com 1:0 ao intervalo?

Vou dizer-te com toda a sinceridade, foi um dérbi como qualquer outro. Marcámos primeiro. Antes do intervalo, o Benfica tem uma oportunidade pelo Rui Águas, com defesa do Damas. Na segunda parte, faço o 2:0 ao primeiro poste na sequência de um canto do Zinho. Pedi especificamente ao Zinho para meter a bola no primeiro poste e antecipei-me ao Dito, acho. O Wando reduziu, de cabeça. Nós fizemos 3:1 e o Benfica caiu animicamente, bloqueou com nossos movimentos. Lembro-me de perguntar a meio do jogo ao meu amigo Oliveira [central do Benfica] ‘o que é que se passa?’ Nós nunca parámos e chegámos ao 7:1. E merecemos.

Essa veia goleadora continua no Vitória, em Setúbal.

Estou convencido que podia ganhar outra Bola de Prata se não me tivesse lesionado. Ainda fiz 16 golos em 20 jogos, o melhor marcador marcou 21.

E chega à selecção pelo Vitória.

Voltei a ser internacional.

Marca à Suécia?

Suíça, Suíça.

Isso, qualificação para o Euro-88. Volta a fazer dupla com o Jordão em Setúbal. E reencontra Allison, Meszaros.

O Fernando Oliveira [presidente do Vitória] liga para mim a dizer-me que o Allison só quer o Meszaros para a baliza. E eu digo-lhe ‘se está a pedir é porque tem bom gosto’. O Meszaros e o Damas foram os melhores que conheci.

E o Bento, por exemplo?

Estava sempre irrequieto, acelerado e tinha uns reflexos extraordinários. Só tive um problema com ele, naquele Sporting-Benfica. Acabou 3:1 para nós e acabámos por ir a um programa do Carlos Cruz na RTP para nos entendermos.

Qual foi o problema?

Há uma bola metida lá na frente, combino com o Lito e deixo o pé à saída do Bento naquela esperança de que ele largasse a bola. Como ele tinha levado não sei quantos pontos na cabeça em Famalicão, estava traumatizado e deu-me uma porrada. O árbitro só tinha uma solução: penálti e expulsão.

Falámos há pouco das decisões do João Rocha, de ouvir quem não deve. O Manuel, já como adjunto, também sente isso na pele.

[Manuel começa a acomodar-me na cadeira e a sorrir como que a adivinhar]

Salsburgo.

Gosto muito do Sousa Cintra, mas foi uma má decisão e foi muito mal aconselhado. Vou-te dizer se havia jogos que não merecíamos perder era aquele com o Casino: atirámos quatro bolas ao poste, ela não entrava por nada. Eles fizeram o 2:0 em cima do minuto 90, num remate de longe em que a bola espichou no gelo e passou pelo Costinha. Fomos para o prolongamento e ainda mandámos duas bolas ao poste, o Figo fez um jogo extraordinário. Num canto, eles fizeram o 3:0 e fomos eliminados.

E depois?

Antes de entrarmos para o avião, já me aproximei do Cintra para ouvir as opiniões de quem estava ao pé dele.

Quem?

Dirigentes, presidentes de núcleos. Ouvi o que eles estavam a dizer e o Cintra foi na conversa deles. Mais tarde, o Cintra disse que tinha sido a maior asneira da sua vida como presidente do Sporting. Quando íamos no avião, o presidente pediu à hospedeira para dar uma palavra. Logo aí disse para aí ‘vem aí confusão’. E o Cintra começo a dizer ‘meus queridos sportinguistas, hoje é um dia muito triste para todos nós e perdemos a eliminatória por culpa do Robson’. O Robson ouviu o nome dele e perguntou-me o que se passava. Pedi-lhe para esperar até ao fim.

E o fim?

Disse ao Robson ‘mister, me, you and José out’. O Robson estava incrédulo, não queria acreditar. Nem nós, nem ninguém. Íamos em primeiro lugar no campeonato.

E foram-se todos embora?

Eu era adjunto do Sporting. Quando chegou o professor Queiroz, disse-lhe que estava à vontade para ir embora e ele disse que não, ‘tu vais ficar aqui’. E eu disse-lhe que era adjunto do Sporting e queria ir para o banco de suplentes. No primeiro jogo, com o Beira-Mar, em Alvalade, ainda fui porque o [José Alberto ] Costa ainda não estava inscrito. No segundo, com o Benfica, na Luz.

O que se passou?

Sabia que ele não me ia levar para o banco nem tinha a coragem de o dizer. ‘Olha, Manuel, hoje é melhor ires para a bancada e faz os ataques do Benfica.’ Respondi-lhe ‘tu és maluco, vou mas é para o balneário e fico lá à espera que me levem a casa. E fui-me embora.’ Mas então eu era o adjunto do Sporting. Fui eu quem escolheu o Robson, o Cintra queria um francês e eu é que insisti num inglês.

"Chamei o Mourinho à parte e perguntei-lhe se queria ir comigo, como adjunto. ‘Mister, é para já.’ "

Hagan, Allison, Toshack (galês).

São homens puros, verdadeiros, e nós precisávamos deles. Então começámos à procura de um em fim de contrato. Encontrámos o Robson no PSV e fomos, eu, Juca e Cintra, falar com ele em Eindhoven. A coisa boa do Cintra é a total disponibilidade para tratar do assunto de um dia para o outro. E fomos para a Holanda no dia seguinte.

E falaram com o Robson?

Falámos, ele aceitou o Sporting. E aconselhou trazer o Valckx. E também o contratámos. O Robson era um homem extraordinário e um bom treinador.

Tem alguma história engraçada do Robson?

A sua mulher não estava cá e, às vezes, chamava-o para estar comigo. Um dia, fomos comer um peixe a Sesimbra. A cara dele quando viu o peixe a sair do prato. Num outro dia, em que passava um jogo bom inglês, convidei-o para jantar em minha casa. Ele aceitou logo, foi e começou a petiscar com vinho à mistura. Como era homem de beber pouco, perguntou-me onde era o quarto à hora do jogo. Foi dormir, fiquei a ver o jogo sozinho. AHahahah.

Já era previsível o entendimento dele com o Mourinho daí para a frente, no FC Porto e Barcelona?

Era, porque conhecia as qualidades do Zé Mário e via-o com capacidade para chegar longe.

Conheceram-se no Estrela?

Em Setúbal, no Vitória. Eu treinava os seniores, o Zé os juniores. Como precisava de jogadores para as reservas e o gajo tinha ideias porreiras, ia ver os treinos e ele era líder, os jogadores não estavam ali a fazer de conta. À falta de cinco jornadas para o fim da época, o Estrela fala comigo. Chamei o Mourinho à parte e perguntei-lhe se queria ir comigo, como adjunto. ‘Mister, é para já.’ Ele dava aulas e meteu os papéis para me acompanhar na Amadora. O Estrela jogava a Taça das Taças, tínhamos Abel Xavier, Duílio, Valério, Ricky, Paulo Bento, Baroti. Depois treinei a Ovarense, também chamei o Zé mas aí, como foi a meio da época, ele não pode meter os papéis. Não faz mal, decidi entregar-lhe o dossier dos adversários e começava a espiar Benfica de Castelo Branco, Académico de Viseu e por aí fora. E disse-lhe ‘à segunda-feira, de 15 em 15 dias, vais lá almoçar a casa e falamos melhor sobre o relatório’. Não falhou um. E foi por isso que o levei para o Sporting, exigi o nome do Zé ao Sousa Cintra.

E foi fácil?

O Zé ficou interessado quando lhe falei. Quando disse ao Sousa Cintra quem era a pessoa em causa para se incluir na equipa do Robson, deu uma resposta à Sousa Cintra: ‘ele é do Benfica’. Não é nada, é do Vitória. ‘Digo-lhe já que não tenho muito para oferecer.’ A verdade é que se entenderam e tudo começou assim.

Muito obrigado Manuel pelas histórias.

Não sei se saiu bem.

Saiu, claro que sim. Grande abraço.

Abraço.

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